Porque Existe
a Grande Loja do Paraná e o Grande Oriente do Paraná?
Charles Evaldo Boller
Sinopse: Considerações
a respeito da diversidade de obediências; visão otimista da divisão da
Maçonaria em entidades jurídicas independentes; diversidade de filosofias e
pensamentos na Maçonaria; homens imperfeitos em busca da perfeição.
Existem em cada estado da federação diferentes
grandes lojas e grandes orientes, às quais se denomina obediência,
diversificação manifesta pela mesma razão que existem dentro de uma
universidade ou num shopping center diversos departamentos.
A Maçonaria é um sistema de aprimoramento do homem.
Não é escola, religião, universidade ou shopping center. Os clientes das
diversas obediências buscam todos eles o mesmo alimento: melhorar sua condição
humana.
No Paraná deve-se incluir entre as obediências
reconhecidas o Grande Oriente do Brasil - Paraná, uma obediência federada e
subordinada a um poder central em Brasília, que tem vida independente como a
Grande loja do Paraná.
Existem outras grandes lojas no Estado. Ou não são
reconhecidas ou são espúrias. Estas últimas ferem a lei básica, os landmarkes,
porque algumas são formadas por obreiros de ambos o sexos e outras
exclusivamente femininas. As obediências irregulares não são reconhecidas pela
Grande loja do Paraná vedando a visita e o reconhecimento; é falta grave.
Inclusive entre as obediências devidamente
reconhecidas existem retrações de tratados de amizade, por vezes em resultado
de pequenas querelas, mas a visitação é tolerada.
Como funciona a sociedade, assim funciona a
Maçonaria, ela é o reflexo da sociedade humana em constantes convulsões em
busca de entendimento e equilíbrio.
O homem, por sua característica modificadora e
crítica, cria situações aonde ele se aglomera em tribos e busca homogeneizar
seus grupos de convivência formando automaticamente seus próprios líderes.
Em todo lugar aonde se reúnem pessoas existem
conflitos. A fraternidade advém da habilidade que seus membros têm em se
suportarem uns aos outros. É permanente o exercício de tolerância e
persistência.
A profusão de obediências pode parecer estranha.
Tira o brilho ou quebra expectativas de perfeccionismo para uma instituição que
se diz universal e fraterna. Outra má impressão pode advir quando se depara com
dezenas de ritos diferentes. Também levanta ranço de desentendimento e conflito
as constantes divisões de lojas ou a criação de lojas novas numa mesma
jurisdição.
Esta diversificação tem uma explicação simples: é
necessária para o bom funcionamento do sistema da ordem maçônica universal.
Qual deveria ser o procedimento para absorver todas
as linhas filosóficas, religiosas, políticas e culturais da humanidade? É
impossível colocar as pessoas num molde e ainda assim declará-las livres?
Liberdade exige exercício do livre arbítrio.
Como prover abrigo para tantas linhas de
pensamentos diferentes de forma livre e igualitária? Quanto maior o grupo
social maior o grau de complexidade e dificuldades de convivência.
Sabe-se que uma boa dinâmica de grupo não trás bons
resultados se for composta por mais de onze pessoas; uma loja maçônica não é
produtiva se dispuser de muitos obreiros - não existe um número de membros
ideal, a fragmentação se dá de forma natural, por afinidade ou interesses.
De ótica mais ampla, as obediências também não
ficam muito grandes, é de difícil administração.
É o caso do Grande Oriente do Brasil,
inteligentemente fragmentado em um grande oriente regional por estado da
federação, as obediências regionais federadas reportam-se a um grão-mestre
geral no que diz respeito a sua homogeneidade litúrgica, mas são independentes
política e administrativamente. Cada oriente federado do Grande Oriente do
Brasil tem um grão-mestre e toda a estrutura de grandes oficiais necessários
para seu funcionamento independente. Vantagem: formam-se mais líderes na
Maçonaria, haja vista que cada maçom é um multiplicador da moral e evolução do
sistema preconizado pela filosofia da ordem.
As grandes lojas são obediências juridicamente
separadas por estado e mantém unidade de corpo ou unidade federada através da
CMBS, Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil.
Administrativamente o Grande Oriente do Paraná é
semelhante à Grande loja do Paraná e de sua parte obtém unidade federada
através da Confederação Maçônica do Brasil, Confederação Maçônica do Brasil.
Todas estas obediências regionais, em essências
iguais do ponto de vista maçônicos, são universais como sistema, formam um só
corpo, mesmo que política, administrativa e juridicamente independentes.
Aos poucos e mediante acordos elas vão se acertando
e acabam por conviver pacificamente debaixo do sistema único da Maçonaria. Bem
diferente das religiões, partidos políticos, times de futebol, agremiações
profissionais e outras associações humanas.
Mesmo com todas as diferenças vigentes no leque de
interesses, a Maçonaria mantém uniformidade de pretensão no objetivo de: ao
mudar o homem muda-se a sociedade para melhor; cria-se plêiade de homens de
escol para, na diversidade e complexidade crescentes, focar a sociedade em
direção a evolução e conscientização natural.
Quem consente em ser colocado numa prensa para
adquirir a mesma forma dos outros? Ninguém! Os homens são diferentes uns dos
outros e gostam de mudanças; faz parte de sua psique provocar mudanças.
Trabalhar com a diferença e desigualdade visando buscar perfeição e igualdade é
uma arte e pode ser reduzido ao sistema da Maçonaria que, da diversificação, da
diferença, molda homens para o bem respeitando rigorosamente suas evidentes
diferenças. É quase um paradoxo obter igualdade a partir de homens diferentes,
mas no fundo a explicação é simples: trata-se de um notável insight dos
criadores da ordem maçônica mundial, reunir debaixo de um mesmo teto pessoas das
mais diversas origens, culturas, religiões, crenças, sem que se matem uns aos
outros e que colaborem, contribuam na edificação de um templo com seus corpos e
mentes ao qual se denomina sociedade.
A Maçonaria não é o resultado de instituições
separadas em obediências e lojas, ela e estas sociedades são o resultado dos
homens que se congregam debaixo de sua orientação. Brilham os homens,
resplandecem as sociedades que os albergam e orientam. A participação nestas
fraternidades se dá pelo constante contato entre pessoas, à semelhança de como
o fizeram os homens das cavernas ao redor do fogo. Foi em ambientes umbrosos
que despertaram as melhores características do homem. Desenvolveu-se o cérebro
para o potencial que tem hoje e pela constante convivência continua a
desenvolver-se.
Ao longo da história os encontros de homens nem
sempre foram fraternos. O homem de hoje difere daquele das cavernas apenas em
pequenos detalhes, insignificantes diferenças quanto a sua natureza, imensa
quanto a sua capacidade intelectual, isto porque, o homem de hoje está apoiado
nos ombros dos homens do passado e o sistema da Maçonaria é a maior expressão
disso.
A diversificação da Maçonaria pode ser resultado da
vaidade e sede de poder do homem? Definitivamente sim! Como funciona a
sociedade, assim funciona a Maçonaria, esta é espelho daquela. Isto faz parte
do processo de aperfeiçoamento do homem. São a razão de existir tamanha
diversificação na organização daquilo que constitui a base do sistema da
Maçonaria com suas sociedades civis que acolhem homens imperfeitos para deles
esculpir pedras angulares da edificação de uma sociedade progressista,
evolutiva.
Que ninguém se iluda que vai encontrar homens
perfeitos na Maçonaria. É uma sociedade de homens imperfeitos em busca da perfeição.
Ninguém chega à perfeição senão o Grande Arquiteto do Universo! Estes homens
imperfeitos fumam, bebem, erram, acertam, dançam, cantam, amam e também brigam.
Quando querelas afloram, existem diversos recursos na própria loja para
acomodar e apaziguar interesses e diferenças. Quando todos os recursos
jurídicos e de dissuasão esgotam na loja, existe apoio jurídico na grande loja
ou grande oriente, se tudo falhar, então ocorre separação; surge nova loja ou
novo oriente. Isto não deve ser visto como mal, ao contrário, continua
possibilitando reunir as mais diversas linhas de interesse e pensamentos
debaixo de um mesmo sistema, sob um mesmo teto.
Ao estudar a evolução do homem aprende-se que para
aproximar-se da verdade o homem deve abandonar sua ideologia de perfeição a
aceitar que toda a criação é resultado de processos imperfeitos, de falhas da
natureza que provocaram mudanças até chegar ao que as criaturas estão imersas
na biosfera são. As criaturas são produto de assimetrias nas entrelinhas do código
oculto da Natureza.
Atente-se que as separações ocorrem por questões de
opinião, filosofia e não em face de crimes e imoralidades. Mesmo que a
motivação não seja lá muito fraterna, resultado de sede de poder ou vaidade, a
cada divisão o sistema da Maçonaria fica mais forte porque continuará
albergando pessoas normais, diferentes, com todos os seus defeitos e virtudes;
que possuam em si, de forma latente, a motivação de melhorarem sua condição
humana, de se autoeducarem pelo sistema natural da Maçonaria.
E pelo esforço despendido no constante cair e
levantar com a ajuda de outros seres imperfeitos, com ajuda da corporação e de
cavaleiros, o maçom segue em frente. Atento as nódoas que denigrem a pedra
bruta, ele usa do maço e do cinzel para burilar a pedra, e com isto, mesmo que
de forma imperfeita, dá honra e glória ao Grande Arquiteto do Universo.
Bibliografia:
1. GLEISER, Marcelo, Criação Imperfeita, ISBN
978-85-01-08977-7, primeira edição, Editora Record, 366 páginas, São Paulo,
2010.
Biografia:
1. Marcelo Gleiser, astrônomo, autor, físico,
professor e roteirista de nacionalidade brasileira. Nasceu em Rio de Janeiro em
19 de março de 1959. Com 51 anos de idade. Apresenta temas complexos das
ciências de maneira compreensível.
Data do texto: 30/01/2011
Sinopse do autor: Charles Evaldo Boller, engenheiro
eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4 de dezembro de
1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.
Loja Apóstolo da Caridade 21 Grande loja do Paraná
Local: Curitiba
Grau do Texto: Aprendiz Maçom
Área de Estudo: Filosofia, Maçonaria, Tolerância
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