Por que Maçonaria e Política?
Definição de Política – Aristóteles
O bem
do indivíduo é da mesma natureza que o bem da cidade (polis), mas este é “mais
belo e mais divino” por que se amplia da dimensão do privado para a dimensão do
social, para a qual o homem grego era particularmente sensível, porquanto
concebia o indivíduo em função da cidade e não a cidade em função do indivíduo.
Aristóteles
dá a esse modo de pensar dos gregos uma expressão paradigmática,
definindo o próprio homem como “animal político” (ou seja, não simplesmente
como animal que vive em sociedade, mas como animal que vive em sociedade
politicamente organizada).
Mas,
nem todos aqueles que vivem na cidade são cidadãos. Para Aristóteles, ser
cidadão é preciso participar da administração púbica, ou seja, fazer parte das
assembleias que legislam, governam a cidade e administram a justiça.
O que
é a Maçonaria?
É uma instituição que tem por finalidade estabelecer a justiça
na humanidade e fazer imperar a fraternidade. Suas divisas são: Liberdade,
Igualdade e Fraternidade.
Aí
vamos deparar-nos com os vários conceitos de justiça: aquele emanado do
direito, ou da filosofia, ou da economia, ou podemos sintetizá-los todos por um
só conceito: O DE JUSTIÇA SOCIAL. É dever do maçom persegui-lo. E como
persegui-lo senão pela política.
Parece-me
que a grande dificuldade consiste em estabelecer a linha divisória que
separa a política, entendida como a gestão da polis, objetivando fazer
imperar a fraternidade, das inclinações, ou, pior ainda, das paixões
partidárias. Tudo isso potencializado pelo fato de não existir interpretação
inocente da história, como pretendia o positivismo.
A
própria maçonaria fez sua opção por um modelo de ordenamento social, que é
aquele fundamentado nos princípios de suas divisas.
Como
escola de aperfeiçoamento e alternativa de sociabilidade, qual o
procedimento a adotar para otimizar seu objetivo?
A meu
ver, há dois procedimentos basilares que podem ser combinados: o primeiro
seria reunir as cabeças privilegiadas que temos e, mediante a madura
administração de nossas divergências, acharmos o leito que possibilite escoar
todo o jorro de idéias, delas emanadas,á direita e á esquerda, com tal
magnitude que possibilite preencher o vazio das idéias transformadoras que agem
como profetas da nova era. A outra, é buscar nas nossas melhores tradições
históricas portadoras de futuro a metodologia já utilizada por nossos
IIr.: e que provaram sua eficácia na práxis… Aí nosso Rito é imbatível.
Há
duas ricas fontes para nos abeberarmos: uma é a Revolução Francesa; a outra, é
a História do Brasil. Como o tempo é exíguo, procurá-la-ei somente na revolução
Francesa.
Foi
ela um momento de tamanho fulgor na história da humanidade que, até hoje, é
possível vislumbrar o seu brilho! Ainda caminha altaneira em cima dos
escombros da ordem velha que sepultou.
A referência
à história pátria, por ser específica, fica para outra oportunidade. Queremos
uma referência universal.
Mas, o
que foi a Revolução Francesa e qual foi o papel desempenhado pela maçonaria?
Bem, a revolução foi o coroamento de uma lenta evolução econômica que
instala no domínio do Estado a classe que estava madura para exercê-lo: a
burguesia.
Foi o
clímax provocado pela agudização das contradições existentes entre o caráter
das forças produtivas e as relações sociais de produção.
Apesar
de burguesa, com ela já nasciam as idéias de uma nova ordem social que lhe
seria superior, posto que se pretendia menos excludente. Esta é a grande
diferença para as revoluções que a precederam: a Inglesa e a Americana.
Enquanto estas eram “estreitamente” burguesas e conservadoras , a
francesa, pela sua “mélange” de classes, foi “largamente” burguesa e
democrática. Ali começava a se forjar o emblema maçônico de construtores
sociais. No passado, nós fizemos jus a ele; por isso, é ali que vou buscar a
inspiração para falar sobre o tema.
A
alternativa sobre “nossas cabeças privilegiadas” fica para o dia 30 de outubro.
COMO SE PREPAROU O
ADVENTO DA NOVA ORDEM?
Vamos
primeiro entender o que era a “velha ordem”, aproveitando a didática de Leo
Huberman : “quando vamos ao cinema assistir um filme sobre a Idade Média,
observamos na tela os cavaleiros e damas engalanados em sua armadura brilhante
e vestidos alegres, respectivamente, em torneios e jogos. Vivem em esplêndidos
castelos, com fartura de comida e de bebida. Quase nem nos apercebemos que
alguém deve produzir todas essas coisas. Também alguém tinha que fornecer
alimentação e vestuário para os clérigos que pregavam, enquanto os cavaleiros
lutavam. Assim,além de lutadores e padres, havia um outro grupo: o dos servos.
A sociedade feudal consistia dessas três classes : sacerdotes, guerreiros e
servos; sendo que o homem que trabalhava, o servo, produzia para as
outras classes”.
A
maioria das terras agrícolas estava dividida em áreas chamadas feudos. Um feudo
consistia, apenas, de uma aldeia e as várias centenas de acres de terra arável
que a circundavam e, nas quais, o povo da aldeia trabalhava. Na orla da terra
arável, havia uma extensão de prados, terrenos ermos, bosques e pastos.
Cada
propriedade feudal tinha um senhor. Pastos, prados, bosques e ermos eram usados
em comum, mas a terra arável se dividia em duas partes : uma, de modo
geral a terça parte do todo, pertencia ao senhor e era chamada de
“seus domínios”; a outra ficava em poder dos arrendatários que, então,
trabalhavam a terra.
As
terras não eram cultivadas em campos contínuos, tal como hoje, mas pelo
sistema de faixas espalhadas.
Quais
eram, então, AS RELAÇÕES SOCIAS DE PRODUÇÃO?
- O camponês vivia numa
choça miserável. Trabalhando arduamente em suas faixas de terras
espalhadas, conseguia arrancar do solo apenas o suficiente para uma vida
paupérrima;
- Dois ou três dias por semana,
tinha que arar a terra do senhor em pagamento;
- Em época de colheita, tinha
primeiro que segar o grão nas terras do senhor (eram os “dias de dádiva”);
- A propriedade do senhor tinha
que ser arada primeiro, semeada primeiro e ceifada primeiro;
- Uma tempestade ameaçava fazer
perder a colheita ? Então, a plantação do senhor era a primeira a
ser salva;
- O produto do senhor deveria
ser vendido primeiro;
- A estrada ou uma ponte
necessitavam reparos? Então, o camponês devia deixar o seu trabalho e
atender à nova tarefa;
- As prensas para moer o trigo
ou a uva eram do senhor e exigia-se pagamento para sua utilização.
Por
muito tempo, esta foi a relação social de produção. E por tanto tempo que a
vida parecia ignorar a sua principal manifestação: o movimento.
O NASCIMENTO DA
BURGUESIA
Mas,
começa a entrar em cena um personagem.
No
século XI, as fortunas tinham pouco valor por que eram capital estático. Não
havia estímulos à produção de excedente, por que o feudo se bastava. Só se
fabrica ou cultiva além da necessidade de consumo quando há uma procura firme.
Mas
chegou o dia em que o comércio cresceu e cresceu tanto que afetou profundamente
toda a vida da Idade Média.
Os
navios singravam de um ponto a outro para apanhar peixe, madeira, peles, couros
e peliças. Os mercadores que conduziam as mercadorias do norte encontravam-se
com os que cruzavam os Alpes, vindos do sul, na planície de Champagne. Aí, numa
série de cidades realizavam grandes feiras.
O
senhor da cidade, o burgo-mestre, preocupava-se em preparativos especiais por
que a feira proporcionava riqueza a seus domínios e a ele pessoalmente.
Os
mercadores pagavam taxa de entrada/saída, de armazenamento, de vendas e de
aramar a barraca da feira. Possuíam salvo conduto, etc… O comércio, que era um
riacho irregular, foi transformando-se em corrente caudalosa. Um dos efeitos
mais importantes foi o crescimento das cidades. Aonde houvesse local onde
duas estradas se encontrassem, uma embocadura de um rio, ou, ainda, a terra
apresentava um declive adequado, lá estavam os mercadores prontos para o
exercício do comércio. E como um número cada vez maior de mercadores se
reunisse nesses locais, criaram-se os “fauburgs” ou burgos extra murais.
O APARECIMENTO DAS
CONTRADIÇÕES
Se
recapitularmos as relações sociais de produção do tipo feudal, veremos que o
crescimento das cidades, habitadas sobretudo por uma classe de mercadores que
surgia, logicamente conduziria a um conflito. Toda atmosfera do feudalismo era
de prisão, ao passo que, a da atividade comercial na cidade, era de liberdade.
As
terras das cidades pertenciam aos senhores feudais que, a princípio, não viam
diferença entre as terras da cidade e as outras que possuíam.
Esperavam
arrecadar impostos, desfrutar os monopólios, criar taxas e serviços e
dirigir os tribunais de justiça, tal como faziam em suas propriedades
feudais. As leis e a justiça feudais se achavam fixadas pelo costume e eram
difíceis de alterar. Mas, o comércio, por sua própria natureza, é dinâmico,
mutável e resistente a barreiras. Não podia se ajustar à estrutura feudal.
Novos padrões precisavam ser criados. E os audazes mercadores começaram a agir.
Face a face com as restrições feudais que os asfixiavam, uniram-se em
associações chamadas de “corporações” ou “ligas” ou “guildas”.
Quando
conseguiam o que queriam, sem luta, contentavam-se; quando tinham que lutar
para alcançar o que almejavam, lutavam. E qual era a exigência básica desses
pioneiros?
LIBERDADE! Liberdade para ir e vir; liberdade para comerciar; liberdade para possuir suas
próprias terras, diferentemente do hábito feudal de arrendar.
O
mercador poderia precisar para hipotecá-la, diante de um financiamento que
possibilitasse a expansão dos seus negócios, sem pedir permissão a uma série de
proprietários.
As
populações urbanas desejavam proceder a seus próprios julgamentos, em seus
próprios tribunais. Eram contrários às cortes feudais vagarosas, que se
destinavam a tratar dos casos de uma comunidade estática. Desejavam fixar os
impostos a sua maneira. Na luta pela conquista da liberdade da cidade, os
mercadores assumiram a liderança.
O MERCANTILISMO
A
teoria econômica do mercantilismo fundamentava-se na convicção de que a riqueza
de uma nação baseava-se na quantidade de ouro, prata e metais preciosos de que
dispusesse. Era uma política puramente nacional. O espetáculo oferecido pela
Espanha do séc XVI é sugestivo: a extraordinária prosperidade atingida
por essa nação coincide com a circunstância de ser esse país o que maior
quantidade de ouro e prata recebia de suas minas da América.
A
teoria sofistica-se, posteriormente, com a introdução do conceito de Balanço de
Pagamento superavitário. Assim, um país devia exportar, nem que tivesse
que acabar com a indústria do outro para forçá-lo a importar e “planejar”
sua economia para esse fim. Os mercantilistas acreditavam que, no
comércio, o prejuízo de uma país era o lucro do outro, isto é, um país só podia
aumentar seu comércio a expensas do outro. Não consideravam o comércio uma
troca vantajosa, mas como uma quantidade fixa, da qual todos procuravam tirar a
maior parte.
O
fruto da política mercantilista era a guerra.
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Adam
Smith, membro da Loja Maçônica Capela de Santa Maria, Edimburgo, desmascara a
teoria mercantilista. Ficou claro que a maioria dos mercantilistas tinha
interesses a proteger e, como tal, interessava-se mais pelas sugestões práticas
do que pela análise. Adam Smith procura abordar o assunto de forma científica.
Na
Europa Ocidental, a indústria ia crescendo e dando novos contornos à
civilização. A questão do comércio livre passa a ser defendida por todos,
principalmente pelos fisiocratas franceses. “Laissez faire, laissez passer”,
torna-se o lema deles. A humanidade tinha chegado ao limite da velha ordem.
Raiava, no horizonte da história, a promessa de um novo ordenamento social que
marcaria o alvorecer de uma nova era.
O
progresso nunca foi uma realização linear, nem evoluía linearmente. Sempre
representou uma ruptura com o passado. As novas forças acabavam por subjugar a
tradição e emergiam prontas para iniciar um novo ciclo histórico, até que
chegasse a hora de ser substituídas.Assim como o aparecimento do mercador promoveu o
choque com o sistema feudal, o próprio desenvolvimento do capital mercantil,
com o tempo, começou a organizar a produção numa base capitalista que
necessitava libertar-se das restrições artesanais das guildas.
Mas,
faltava o papel final dos malhetes e ele não tardou. Quando as contradições
atingiram seu apogeu, no momento mesmo em que a história convocava todos os
homens livres e de espírito temperado, para erigir os fundamentos da nova
era, nossa instituição bradou: PRESENTE! Aquele brado selou para sempre o
compromisso de o maçon ser o portador da revanche dos
oprimidos pela ausência de Liberdade, dos excluídos pela negação da
Igualdade e dos desesperados pela falta de Fraternidade. É a “vingança”
final dos justos!
O
lento desenvolvimento começa a proporcionar uma base material que possibilita o
desenvolvimento da vida espiritual da sociedade. As novas idéias começam a
influenciar a opinião culta européia. O Iluminismo (ou Ilustração), admite-se,
começa a nascer por volta de l640 e tem seu apogeu em 1789. Começa por combater
uma ordem cósmica livre de qualquer poder divino, regida por leis
imutáveis e uniformes.
As
lojas maçônicas, mesmo antes do nascimento da Moderna Maçonaria, já exercitavam
a rebeldia intelectual. Primeiro, rebelando-se contra os dogmas religiosos,
opondo-se-lhes a razão; depois, como decorrência vieram as teorias
evolucionistas, o desenvolvimento das ciências físicas, químicas ,
econômicas e, finalmente, o compromisso de construir um novo edifício social,
livre das estacas do absolutismo.
Desenvolve-se
a compreensão de que a razão era algo humano, uma faculdade que se desenvolvia
através da experiência , junto com suas irmãs memória e imaginação. Era uma
força para transformar o real e um caminho à disposição de todos os homens que
buscassem a verdade.
A
grande burguesia, aliada aos nobres liberais, aproveita a maçonaria para
divulgar suas ideias. Para isso, conta com o concurso dos luminares.
A
filosofia dos luminares, própria para a burguesia, possuía tal largueza de
vistas e se assentava tão solidamente sobre a razão que, ao criticar depois
contribuir para a queda do velho regime, dirigia-se a todos os franceses
indistintamente.
Assim,
entre os enciclopedistas, vamos encontrar:
- Montesquieu – L`Esprit des
Lois (1748);
- Buffon – Histoire Nature (
1749 – 1 vol);
- Condillac – Traité des
Sensations (1754);
- Pe. Morelly – Code de La
Nature (1755);
- Voltaire – Essai sur les
moeurs e l`esprit des nations (1756);
- Rousseau-Discours sur
l`origine et les fondements de l`inegalite parmi les hommes(1756);
- Helvetius – De l`Esprit
(1758);
- Rousseau
– L`Emile et Contract Social (1762).
O
primeiro volume da enciclopédia aparece em 1751, sob o impulso de Diderot
(Siecle de Luís XIV), de Voltaire e do “Journal Economique”,que se tornou
o jornal dos fisiocratas.
O Ir.:
Malesherbes, cooptado pela mac.:, estava à frente da Biblioteca de Paris
(como tal, era o censor oficial) e não censurava as obras dos
filósofos.Encorajado por essa neutralidade, o movimento filosófico se ampliou.
Depois de 1770, a propaganda filosófica triunfou. A Enciclopédia foi
concluída em 1772. Voltaire e Rousseau morrem em 1778.
Em
1778, Panckoucke, Suard, Mably, Reynal, Morelly, Condorcet, D`Alembert e vários
outros filósofos de segunda geração, todos maçons, continuaram a obra dos
chefes do movimento, com a publicação da suprema enciclopédia, a “Encyclopédie
Méthodique”.
A
propaganda oral, via lojas maçônicas, ampliou os limites da palavra impressa.
Quais
eram as contradições da época ? Vejamos:
RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO |
FORÇAS PRODUTIVAS | |
VELHO REGIME |
NOVA ERA | |
Privilégio de estirpe;
|
Risco;
|
Aparecimento da grande
indústria;
|
Riqueza imobiliária;
|
Riqueza mobiliária;
|
Desenvolvimento da tecnologia a
vapor;
|
Desdém pelas ativida-
|
Valorização das ativi-
|
Desenvolvimento do grande
comércio.
|
des práticas.
|
dades práticas.
|
Daí,
com o aparecimento da nova indústria, há a necessidade de transformar o Estado,
para estimular o desenvolvimento dos negócios. A vida espiritual da
Nova Era prepara-se para sepultar à da Velha Ordem. Mais tarde, a
“Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão” constituir-se-á no
atestado de óbito do “ancien regime”.
VIDA ESPIRITUAL DA
SOCIEDADE
VELHO REGIME
|
NOVA ERA
|
– dogma;
|
– livre pensamento;
|
– classicismo;
|
– início do romantismo;
|
– Aristóteles/S.Tomás
|
–
racionalismo/empirismo/dialética.
|
A
nascente maçonaria francesa estudava a Enciclopédia. Passou a congregar todos
os homens livres, inclusive os clérigos, contrários às amarras feudais e
espirituais.
As
grandes lideranças pertenciam à maçonaria: Sieyes, Condorcet, Petion, Gregoire,
Mirabeau, Danton, Marat, Brissot, Camille Desmoulins, Laclos,etc… e souberam
agir sincronizadamente para impor ao rei Luís XVI uma
Assembléia Nacional. Em 27/06/1789, o rei sanciona o que tentara
mas não pudera impedir. Ali nascia o emblema de construtores sociais, os
Arquitetos do Progresso.
NOVAS IDÉIAS:
Econômicas
: Laissez faire, laissez passer;
Políticas:
extinção das ordens privilegiadas – liberalismo político;
Sociais:
busca da felicidade na própria terra dos homens;
Naturais
: desenvolvimento da física, química, biologia, etc…
As
idéias eram levadas, mediante correspondência dos deputados, para todos os
rincões da França pela máquina jacobina. E o que era a máquina jacobina?
Vejamos
a definição de François Furet:
“A
máquina jacobina, fundada e dirigida com o concurso dos maçons, era uma
apertada rede de sociedades políticas, culturais, fraternais que se
multiplicavam através da França de 1789 ao ano III. Entre clubes, lojas,
círculos, etc… chegavam a 5500. Eram lugares privilegiados de aculturação
política e constituíram muito cedo um vasto corolário em que se experimentavam
a linguagem, as práticas e as representações da democracia direta.”
Após a
revolução e, principalmente, quando houve o derrube da monarquia, já não havia
mais o elemento comum que unia todos os maçons. As forças políticas
diversas estavam livres para iniciar suas jornadas, agregando elementos e
campos afins.
Ainda
assim, os maçons mantiveram a liderança em suas respectivas jornadas
ideológicas.
À
esquerda, no Clube dos Cordeliers, havia a liderança de Danton e Marat. Danton
iniciado, ainda como obscuro advogado, na loja das Nove Irmãs. Marat, iniciado
em setembro de 1769 na Loja Maçônica de Amsterdam, segundo seu biógrafo
Gerard Walter.
Na
centro esquerda, na Confederação Geral dos Amigos da Verdade,
destacavam-se os maçons Pe. Fauché e o republicano Nicollau de Boneville,
redatores do jornal Bouche de Fer ( Boca de Ferro). O Círculo Social, como era
conhecida a Confederação, foi essencialmente um laboratório de idéias sociais
progressistas. Não dispunha da preferência das massas populares (estas
preferiam o Clube dos Cordeliers), por tomarem posições bastante afastadas da
extrema esquerda. Havia, principalmente no Pe. Fauchet, uma extraordinária
noção de realidade e das possibilidades geradas. O próprio Marx , ao estudar a
Revolução Francesa, reconhece que o Círculo Social foi uma das matrizes do
Socialismo Científico, pela consistência das ideias divulgadas.
À
direita, havia a Sociedade de 1790. Congregava a alta burguesia aliada aos
nobres liberais; destacavam-se os maçons : Pe. Sieyes, Marquês de
Mirabeau, Duque de Orlelans, Duque de Chartres,Duque d`Aguillon, Duque de
Biron, Conde de Clermont Tonerre, Visconde de Noialles, Duque de
Rochefoucauld, , Marquês de La Fayette, Pe. Gregoire, Laclos, etc…
Que
chama era aquela que atraía e iluminava todos os homens com potencial vocação
para Homem-Humanidade , que intuitivamente compreenderam que não são os homens
que fazem as revoluções, mas estas, nas suas necessidades inelutáveis, é
que fazem os homens quando estes exprimem a rotação dos seus movimentos ?
A
MAÇONARIA E O MOMENTO ATUAL
Vimos,
anteriormente, que o desenvolvimento das forças produtivas condicionava as
novas relações sociais de produção e que as velhas relações tinham que ser
modificadas para estabelecer um novo equilíbrio dinâmico entre o caráter
das forças produtivas e elas.
Onde
estamos hoje? quais são as atuais relações sociais?
Para o
economista Jeremy Rifkin, “a transição para uma sociedade sem trabalhadores, a
sociedade da informação, é o terceiro e atual estágio de uma grande
mudança nos paradigmas econômicos, marcado pela transição de recursos
energéticos renováveis para os não renováveis e de fontes de energia
biológicas para as mecânicas. Ao longo de extensos períodos de história, a
sobrevivência humana esteve intimamente vinculada à fecundidade do solo e às mudanças
de estações.O fluxo solar, o clima e a sucessão ecológica condicionaram cada
economia na terra. O ritmo da atividade econômica foi estabelecido com o
aproveitamento da força do vento, da água, do animal e da capacidade
humana”.
É só
lembrar que, com a Revolução Industrial, a escassez de energia, pelo corte
predador das árvores que forneciam madeira para a construções naval e civil,
para combustíveis, etc…, forçou a transição para uma fonte de energia
disponível – o carvão. Nessa época, é patenteada uma bomba a vapor para
bombear o excesso de água das minas.
A
união do carvão e das máquinas para produzir vapor marcou o início da era
econômica moderna e sinalizou a primeira etapa de uma longa jornada para
substituir o trabalho humano pela força mecânica.
È
consenso que tivemos três Revoluções Industriais. Na primeira Revolução
Industrial, a energia movida a vapor foi usada para extração de minério,
na indústria têxtil – força dinâmica da primeira Revolução Industrial – e
na fabricação de uma grande variedade de bens que antes eram feitos à mão.
A
escuna foi substituída pelo navio a vapor, a locomotiva a vapor puxava os
vagões de carga, até então, puxados a cavalo. Já se iniciava uma significativa
melhora no processo de transporte de matérias primas e produtos acabados.
Escreve Rifkin : “a nova máquina a vapor era uma nova espécie de escravo,
uma máquina cuja habilidade física excedia grandemente o poder, tanto dos
animais quanto dos seres humanos”.
A
segunda Revolução Industrial foi a competição, no campo energético, entre o
petróleo e o carvão. A energia elétrica entra em cena, ampliando as
alternativas para operar as fábricas, iluminar as cidades e proporcionar
comunicação instantânea entre as pessoas. A transferência de carga da atividade
econômica do homem para a máquina continuava. “Na mineração, na
agricultura, no transporte e na industrialização, fontes inanimadas de energia
eram combinadas a máquinas para acrescentar, ampliar e, eventualmente,
substituir mais e mais tarefas humanas e animais no processo econômico”. (
Idem)
A
terceira Revolução Industrial emerge após a segunda guerra mundial e, somente
agora, começamos a sentir o impacto no modo como a sociedade organiza a sua
atividade econômica. Robôs com controle numérico, computadores e softwares
avançados estão invadindo a última esfera humana – os domínios da mente.
Adequadamente programadas, estas novas “máquinas inteligentes”são capazes de
realizar funções conceituais, gerenciais e administrativas e de coordenar o
fluxo de produção, desde a extração da matéria prima ao marketing e à
distribuição do produto final e de serviços.
Após
esse panorama comparativo, vamos à análise:
O
homem sempre se organizou em função do trabalho. Do caçador/coletor paleolítico
e fazendeiro neolítico ao artesão medieval e operário da linha de montagem
atual, o trabalho tem sido parte integrante da existência diária. E isto é tão
verdadeiro que criamos e desenvolvemos toda uma cultura centrada no
trabalho. Condicionamo-nos até a estigmatizar os que não trabalham.
Mas,
as sofisticadas tecnologias da informação e da comunicação já nos
permitem antever a fábrica virtual. Por ironia, estamos mais próximos de
Paul Lafargue do que do seu sogro, Karl Marx. Aí, já verificamos uma aguda
contradição entre o caráter das forças produtivas ( fundamento tecnológico da
produção) e as relações sociais de produção. Entretanto, não dá para afirmar
que esta é a contradição primária).
Juntando-se
a estas, aparecem outras contradições, como :
- a “racionalização” do sistema
financeiro, fundamentada na tecnologia, proporcionou uma substancial
redução nos custos de operação, oriunda da dispensa da mão de obra, da
agilidade e confiança nas operações. Como contrapartida, o mesmo sistema
gasta algumas vezes mais para garantir a segurança;
- a tecnologia da informação
proporcionou um aumento significativo dos lucros, na medida em que
possibilitou processar e controlar operações que ,pelo seu volume, jamais
poderiam ser feitas sem ela. Parte considerável desse lucro foi e
continuará sendo “mordida” por eventos como o “bug” do milênio e as ações
dos Hackers;
- hoje, já ‘possível projetar a
fábrica virtual, operada e controlada por robôs ou tecnologias da
informação, cercada por milhões de agressivos esfomeados que perderam seus
empregos para as “máquinas”.;
- há uma fortuna potencial
relativa ao lixo gerado pela moderna sociedade que poderia ser
racionalmente administrado não só em benefício dos excluídos, como também,
em benefício da qualidade do meio ambiente;
- nunca a humanidade esteve tão
próxima de promover a integral liberdade para os seres humanos, no mínimo,
e, ainda assim, nunca houve uma época com tanta incerteza;
- a tecnologia promove uma
abundância perigosa, pois traz consigo o desemprego tecnológico e a
demanda ineficaz do consumidor. Num mundo em que os avanços tecnológicos
prometem aumentar dramaticamente a produtividade e a produção de bens, ao
mesmo tempo em que marginalizará ou eliminará do processo econômico
milhões de consumidores, a mágica da tecnologia parece ingênua,
insensata até.
As evidências
são preocupantes. Sabidamente planejamento e sistema capitalista não se
combinam, o que acaba contribuindo para potencializar as preocupações.
Entretanto,
a finalidade desta palestra não é propor soluções alternativas para o mundo.
Faltam-me engenho e arte para tal. Mas sobram-me consciência e vontade para
participar de uma busca compartilhada.
Então
o que e como fazer?
Aqui
há uma tentativa de proposta,que vai buscar na experiência histórica o norte da
ação transformadora. Sem a história, é impossível entender o que se passa no
mundo, pois ela possui uma estrutura e um padrão que nos permitem verificar de
que modo os vários elementos reunidos no interior de uma sociedade contribuem
para a deflagração de um dinamismo histórico ou, inversamente, não
conseguem provocar tal dinamismo.
Sabemos
que determinada etapa histórica não é permanente e a sociedade humana é uma
estrutura bem sucedida porque é capaz de mudança; o presente, não é o seu fim.
O
exemplo da burguesia revolucionária, que foi sábia o suficiente para reunir
todos os ingredientes que possibilitaram o salto de qualidade, deve ser
seguido, devidamente relativizado. Somos a única instituição no mundo
capaz de se apresentar diante da história como agentes catalisadores da
mudança, sem que confundamos nossas ações com as ações próprias de um partido
político. Na minha avaliação a maçonaria está acima e além da luta de classes.
Ela e só ela!
Por
sermos universais, podemos promover vários ensaios, encontros, congressos, etc…
com todas as grandes inteligências do mundo, presentes na instituição. Se não
estiverem, nós as traremos. Aqui é o lugar delas.
Poderemos
forjar novas lideranças mundiais a partir de nossas lojas universitárias.
Deveremos ir aos parlamentos, forças armadas, Academia, etc… e buscar todos que
se sentem compromissados perante o desafio de promover a necessária harmonia
entre os elementos que formam a complexa tessitura de nossa marcha
evolutiva. A exigência será a vocação para Homem-Humanidade. E , hoje, ser
Homem-Humanidade é sonhar com um ordenamento social que desempenhe a função
histórica de ultrapassar a emancipação provocada pela Revolução Francesa,
superando os seus limites, isto é, criar uma emancipação universalmente humana
e não apenas a de uma classe.
Um
congresso do GOSP talvez ajudasse a criar os mecanismos necessários para
iniciar nossa trajetória, ao contribuir para a formação de uma massa crítica,
tão distante de nós. Mas já poderíamos inicia-la seguindo a orientação do Ir.:
Onias de procurar inserirmo-nos e participarmos de Associações de Moradores,
Sindicatos, Partidos Políticos, Conselhos Regionais, etc… Até porque a história
nos ensina que as conquistas sociais se deram em função de uma estreita aliança
com as massas populares.
Quanta
experiência acumularíamos e que nos ajudaria a encontrar as variáveis que
promovessem uma requalificação interna dos obreiros, definissem um perfil dos
futuros candidatos e possibilitassem combinar internamente nossa
disponibilidade de tempo, de tal ordem que as poucas horas disponíveis de um
obreiro, multiplicadas pelo número de obreiros fossem suficientes para
continuar a jornada racionalmente, isto é, sem os expontaneísmos. Poderíamos,
aí, definir objetivos e as velocidades para alcança-los.
Continuaremos
fora da ribalta, fora do foco das atenções, onde se desenrolam os dramas da
vida, até por que os bastidores são a especialidade da casa!
Mas,
se em alguma Loja Maçônica do futuro, nossos IIr.: fizerem referência às
ações dos IIr.: do passado, que não permitiram que se apagasse a chama do
compromisso histórico de participar da criação de um ordenamento social fundado
nos princípios da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, com certeza eles
estarão falando de nós.
BIBILOGRAFIA
- História da Riqueza do Homem
– Leo Huberman – Ed Zahar;
- A Evolução do Capitalismo –
Maurice Dobb – Ed Zahar;
- A Revolução francesa – Albert
Soboul – Ed Zahar;
- A Interpretação Social da
Revolução Francesa – Alfred Cobban – Ed Gradiva;
- 1789, O Emblema da razão –
Jean Starobinsky – Cia das Letras;
- Os Best Sellers proibidos
na França Pré Revolucionária – Robert Darton –Cia das Letras;
- Princípios Fundamentais de
Filosofia – Pulitzer – Ed hemus;
- Evolução do Pensamento
Econômico – Paul Hugon _EASA;
- Pensar a Revolução Francesa –
François Furet – Edições 70;
- A Revolução Francesa –
Manfred –Ed Arcádia;
- História da Filosofia –
G.Realis/D.Antiseri – Ed Paulus;
- Discurso sobre A Origem e
Fundamentos da Desigualdade entre os Homens – Jean Jacques Rousseau – lb
140;
- A Revolução Francesa – Carlos
Guilherme Motta;
- A Era dos Extremos – Eric
Hobsbawn – Cia das Letras;
- Marat, O Amigo do Povo –
Gerard Walter – Ed Vecchi Ltda;
- O Novo Século – Eric Hobsbawn
– Cia das Letras;
- Dicionário Crítico da
Revolução Francesa – F.Furet/M.Ozouf – Ed Melhoramentos;
- O Fim dos Empregos – Jeremy
Rifkin – Ed Makron;
- O Furturo do Capitalismo –
Lester Turow – Ed Rocco;
- A Dialética do Concreto –
Karel Kosek – Ed Paz e terra.
- O Iluminismo como Negócio –
Robert Darton – Cia das Letras
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