CASTELO INTERIOR OU AS MORADAS
Teresa Ahumada Sanches y Cepedaou santa Teresa de
Ávila
“Deus é como um Sol no centro
de um diamante, e a alma uma pedra que precisa ser transpassada por Sua Luz. Assim,
é através da oração silenciosa que a pedra se transforma em um diáfano cristal
de diamante.”
Este texto nasceu de um
estudo que fiz do livro “Castillo Interior o las Moradas” escrito por Teresa
em 1577, para apresentar a saga dessa grande mística cristã aos meus alunos de
meditação, pois sendo a meditação uma técnica para acessarmos os estados superiores
de consciência, na busca de nossa essência espiritual, nada melhor que Ela para
nos contar como fez e o que vivenciou nesses espaços
conscienciais.
Nascida Teresa Ahumada
Sanches y Cepeda aos 28 de Março de 1515 - em Gotarrendura na província de
Ávila na Espanha -, ela faleceu em 4 de Outubro de 1585, após uma vida dedicada
a busca de Deus. Sua saga é cheia de tropeços e dificuldades, alguns impostos
pela sua cultura espiritual e outros pela inquisição espanhola (1478-1834), que
não tolerava o viés místico na busca do sagrado. Entretanto, Teresa era uma mulher notável e incomum,
uma religiosa acima do bem e do mal, que jamais alguém ousou tocar, ainda que a
censura imposta a alguns de seus textos tenha levado-os à fogueira, obrigando-a
mais tarde a reescrevê-los “de memória”.
Meu texto
é um resumo da descrição que ela fez das sete
moradas, que no original contém vinte
e sete capítulos. Quando julguei conveniente fazer um comentário,
principalmente para explicar o assunto à luz do Vedânta e da pequena
experiência que tive viajando por algumas dessas moradas, coloquei o comentário
em itálico e entre colchetes, para diferenciação do leitor. Finalmente devo acrescentar
que tenho muito a agradecer a Teresa, do fundo de meu coração, por tudo que ela me ensinou
e pelo carinho com que me guiou por entre os meus entendimentos de suas
inefáveis experiências.
Osvaldo Marmo, Março de 2005
Osvaldo Luiz Marmo
Primeira Aula
Escreve Teresa: “Consideremos
nossa alma como um castelo feito de um só diamante ou de um limpidíssimo cristal.
Nesse castelo existem muitos aposentos, assim como no céu há muitas moradas.
Este castelo tão resplandecente e formoso é
uma pérola oriental, a árvore da vida que foi plantada nas águas vitais
da própria vida, Deus.”
O castelo é uma metáfora para
a alma, e neste momento do relato ela mostra a dificuldade que teve em
compreender o que é alma e o que é espírito, bem como se existe alguma
diferença entre os dois. Posteriormente ela mostra que seu entendimento se
ampliou, e então ela percebe que o viajante é a
consciência a que ela denomina espírito e a alma
é outra coisa que ela denomina “o castelo.”
Então, ela continua seu
relato: Mas, por melhor que seja nossa
inteligência não podemos compreender este castelo, assim como não compreendemos
a Deus, que nos fez a sua imagem e semelhança. Entretanto, eu percebo que entre
o castelo e Deus, existe a diferença que vai da criatura ao criador, mas basta
sua Majestade afirmar que o fez à sua imagem para termos uma longínqua idéia da
grande dignidade e beleza da alma ou seja o castelo. Infelizmente é uma lástima e uma grande confusão não nos entendermos a
nós mesmos, e não sabermos quem somos, talvez porque concentramos por demais a
nossa atenção sobre o nosso corpo e as coisas exteriores. Nós sabemos que a
alma existe, por ouvir dizer, mas desconhecemos as riquezas que nela existem e
seu grande valor, bem como Quem nela habita. A alma é o nosso maravilhoso
castelo, e então vejamos como se há de fazer para penetrar em seu interior,
embora a mim pareça um disparate falar assim, porque se a alma é o castelo,
claro está que não se entra nele, sendo ambos uma só coisa. Com efeito, a primeira
vista pode parecer um desatino dizer a alguém que entre onde já se encontra.
Mas ficai sabendo que há uma grande diferença entre os modos de se estar num
mesmo lugar.
Como mencionei anteriormente,
neste momento de seu relato ela ainda não sabe quem entra em quem, ou no
que. Mais tarde ao atingir a sétima morada ela sabe que ela é o espírito – que eu prefiro
denominar pelo termo consciência, viajando pelo castelo ou alma, que para mim são os estados não
ordinários de consciência. Continuando
seu relato, ela diz: Entretanto, muitas almas andam em torno desse castelo,
onde as sentinelas montam guarda, e aparentemente elas não têm interesse em
entrar nele, por estarem demasiadamente presos aos objetos dos sentidos do
mundo exterior.
Mas os livros de oração aconselham a alma a entrar
em si mesma! Esse também é meu pensamento, pois as almas sem oração são como
corpos entrevados ou paralíticos, e incapazes de se moverem. Há almas tão enfermas e tão mergulhadas nas coisas externas,
que dão a impressão de não haver remédio nem possibilidade de fazê-las
entrar em si mesmas. Mas eu vos digo que a porta para entrar nesse castelo é a oração e a meditação, embora eu não chame
de oração o mexer dos lábios, sem pensar no que dizemos, nem no que pedimos nem
quem somos nós, nem quem é Aquele ao qual nos dirigimos. Assim, o costume de falar à
majestade de Deus como se fala a um estranho, dizendo
o que foi decorado, a isto não chamo de oração. Não permita Deus que cristão
algum reze desse modo.
Neste parágrafo ela nos
ensina seu método de oração, dizendo que orar não é repetir palavras
memorizadas, mas falar com o coração, a emoção, namorar Deus sem linguagem
verbal. Dirijo-me às
almas que querem entrar no castelo, embora saiba que muitas estão metidas ou ligadas
ao mundo, e embora tenham bons desejos e encomendam-se uma vez por outra ao
nosso Senhor, em geral elas refletem pouco sobre si mesmas, nunca muito
detidamente e, no espaço de um mês, dia ou outro rezam distraídas com
mil negócios a lhes encherem o pensamento. Assim, estando elas apegadas aos pensamentos, o coração se lhes
vai para onde eles fluem, perdendo o verdadeiro tesouro que é caminhar em
direção a Deus. De tempo em tempo essas pessoas procuram libertarem-se, o que
já é grande coisa, quando o próprio reconhecimento de que não caminham bem os
faz procurarem se acercar da porta do Castelo. Por vezes elas acabam
entrando nas primeiras salas de baixo, mas juntamente com elas entram tantas sevandijas, que estas não lhes deixam ver
a beleza do castelo, nem lhes dão sossego. Entretanto, já foi muito bom elas
terem entrado, mesmo que por pouco tempo.
Aqui ela relata que o Eu,
como consciência pura, vivencia muitos espaços conscienciais ao penetrar
no interior de si. As sevandijas a que ela se refere são todo tipo de distração
e perturbação do estado meditativo, que deve ser controlado pelo
esvaziamento da mente e seus agregados.
Contudo filhas tenham paciência, pois quando não se
tem a experiência, isto tudo é um assunto
difícil de entender, e eu agradeço a Deus por me ajudar em dar-vos alguma ideia
do que quero vos explicar.
Osvaldo Marmo, Março de 2005
Osvaldo Luiz Marmo
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