Porquê
"meu irmão", e não "meu amigo"?
Escrito por Paulo M.
Os maçons
tratam-se, entre si, por "irmão", tratamento que é explicitamente
indicado a cada novo maçom após a sua iniciação. Imediatamente após terminada a
sessão de Iniciação é normal que todos os presentes cumprimentem o novo
Aprendiz com efusivos abraços, rasgados sorrisos e, entre repetidos "meu
irmão", "meu querido irmão" e "bem vindo, meu irmão",
recebe-se, frequentemente, mais afeto do que aquele que se recebeu na
semana anterior.
O que seria um
primeiro momento de descontração torna-se, frequentemente, num verdadeiro
"tratamento de choque", num momento de alguma estranheza e,
quiçá, algum desconforto para o novo Aprendiz. Afinal, não é comum receber-se
uns calorosos e sinceros abraços de uns quantos desconhecidos, para mais quando
estes nos tratam - e esperam que os tratemos - por irmão... e por tu! Sim, que
outro tratamento não há entre maçons, pelo menos em privado - que as
conveniências sociais podem ditar, em público, distinto tratamento.
O primeiro
momento de estranheza depressa se esvai - e os encontros seguintes
encarregam-se de tornar naturalíssimo tal tratamento, a ponto de se estranhar
qualquer "escorregadela" que possa suceder, como tratar-se um Irmão
na terceira pessoa... Aí, logo o Aprendiz é pronta e fraternalmente corrigido,
e logo passa a achar naturalíssimo tratar por tu um médico octogenário, um
político no ativo, ou um professor universitário. E de facto assim é: entre
irmãos não há distinção de trato.
Não se pense,
todavia, que todos se relacionam do mesmo modo. Afinal, não somos abelhas
obreiras, e mesmo entre essas há as que alimentam a rainha ou as larvas, as que
limpam a colmeia, e as que recolhem o néctar. Do mesmo modo, todos os maçons
são diferentes, têm distintos interesses, e não há dois que vivam a maçonaria
de forma igual. É natural que um se aproxime mais de outro, mas tenha com um
terceiro um relacionamento menos intenso. Não é senão normal que, para
determinados assuntos, recorra mais a um irmão, e para outros a outro - e
podemos estar a falar de algo tão simples quanto pedir um esclarecimento sobre
um ponto mais obscuro da simbologia, ou querer companhia ao almoço num dia em
que se precise, apenas, de quem se sente ali à nossa frente, sem que se fale
sequer da dor que nos moi a alma.
Mas não serão
isto "amigos"? Porquê "irmãos"? Durante bastante tempo essa
questão colocou-se-me sem que a soubesse responder. Sim, havia as razões
históricas, das irmandades do passado, mas mesmo nessas teria que haver uma
razão para tal tratamento. O que leva um punhado de homens a tratarem-se por
"irmão" em vez de se assumirem como amigos? Como em tanta outra
coisa, só o tempo me permitiu encontrar uma resposta que me satisfizesse. Não
é, certamente, a única possível - mas é a que consegui encontrar.
Quando nascemos,
fazemo-lo no seio de uma família que não temos a prerrogativa de
escolher. Ninguém escolhe os seus pais ou irmãos de sangue; ficamos com
aqueles que nos calham. O mais natural é que, em cada núcleo familiar, haja
regras conducentes à sua própria preservação e à de todos os seus elementos,
regras que passam, forçosamente, pela cooperação entre estes. É, igualmente,
natural que esse fim utilitário, de pura sobrevivência, seja reforçado por
laços afetivos que o suplantam a ponto de que o propósito inicial seja relegado
para um plano inferior. É, assim, frequente que, especialmente depois de
atingida a idade adulta, criemos laços de verdadeira e genuína amizade com os
nossos irmãos de sangue, que complementa e de certo modo ultrapassa, em certa
medida, os meros laços de parentesco.
Do mesmo modo,
quando se é iniciado numa Loja - e a Iniciação é um "renascimento"
simbólico - ganha-se de imediato uma série de Irmãos, como se se tivesse
nascido numa família numerosa. Neste registro, os maçons têm, uns para com os
outros, deveres de respeito, solidariedade e lealdade, que podem ser
equiparados aos deveres que unem os membros de uma célula familiar. Porém, do
mesmo modo que nem todos os irmãos de sangue são os melhores amigos, também na
Maçonaria o mesmo sucede. Não é nenhum drama; o contrário é que seria de
estranhar. Diria, mesmo, que é desejável e sadio que assim suceda, pois a
amizade quer-se espontânea, livre e recíproca. E, tal como sucede entre alguns
irmãos de sangue, respeitam-se e cumprem com os deveres que decorrem dos laços
que os unem, mas não estabelecem outros laços para além destes. Pode acontecer
- e acontece. Mas a verdade é que o mais frequente é que, especialmente dentro
de cada Loja, cada maçom encontre, de entre os seus irmãos, grandes amigos - e
como são sólidos os laços de amizade que se estabelecem entre irmãos maçons!
Fonte:
In Blog "A Partir Pedra" - Texto de Paulo M. (10.01.2011)
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