Dos espaços majestosos...
Dos espaços majestosos, baixemos nossos olhares para a Terra.
Apesar de suas proporções modestas, ela tem, sabemo-lo, seus encantos, sua
beleza. Cada sítio tem sua poesia, cada paisagem sua expressão, cada vale seu
sentido particular. A variedade é tão grande nos prados do nosso mundo quanto
nos campos estrelados. O verão é o sorriso de Deus! Nada mais suave, mais
inebriante do que a apoteose de um belo dia em que tudo é carícia, doçura, luz.
A florinha escondida na relva, o peixe que se esgueira entre as águas, fazendo
espelhar ao sol suas escamas de prata, o pássaro que modula suas notas do alto
das ramadas, o murmúrio das fontes, a canção misteriosa dos álamos e dos
olmeiros, o perfume selvagem dos musgos, tudo isso acalenta o pensamento,
regozija o coração. Longe das cidades, encontra-se a calma profunda que penetra
a Alma, separando-a das lutas e das decepções da vida. Só e então se compreende
a verdade destas grandes palavras: “O ruído é dos homens, o silêncio é de
Deus!”. A contemplação e a meditação provocam o despertar das faculdades
psíquicas e, por elas, todo um mundo invisível se abre à nossa percepção.
Ensaiei, no correr desta obra, exprimir as sensações experimentadas do alto dos
cimos ou à borda dos mares, descrever o encanto dos crepúsculos e das auroras;
a serenidade dos campos, sob o real esplendor do Sol, o prodigioso poema das
noites estreladas, a sublimidade dos luares, o enigma das águas e dos bosques.
A Terra |
Há momentos de êxtase em que a Alma se transporta fora do seu invólucro e
abraça o Infinito; horas de intuição e entusiasmo, em que o influxo divino nos
invade qual uma onda irresistível, em que o pensamento supremo vibra e palpita
em nosso íntimo, onde brilha, por um instante, a centelha do gênio. Essas horas
inolvidáveis eu vivi algumas vezes e, em cada uma delas, acreditei na visita,
na penetração do Espírito. Devo-lhes a inspiração de minhas mais belas páginas
e de meus melhores discursos. Aquele que se recolhe no silêncio e na solidão,
diante dos espetáculos do mar ou das montanhas, sente nascer, subir, crescer em
si mesmo imagens, pensamentos, harmonias que o arrebatam, encantam e consolam
das terrestres misérias, e lhe abrem as perspectivas da vida superior.
Compreende então que o pensamento de Deus nos envolve e nos penetra quando, longe
das torpezas sociais, sabemos abrir-lhe nossas almas e nossos corações.
Léon Denis, extraído do livro "O Grande Enigma".
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