A Iniciação Iluminada
Charles Evaldo Boller
Sinopse: Uma jornada infindável ao interior de si mesmo, em busca da Iluminação que conduz para a Liberdade e felicidade da Humanidade.
Áreas de Estudo: Arte Real; Consciência; Caráter; Esoterismo; Iniciação; Liberdade; Maçonaria.
Ver numa pedra bruta apenas as
rugosidades externas sem visualizar a beleza interna da pedra polida é limitação
daquele que ainda não se iniciou na Maçonaria. É de conhecimento geral que
mesmo aquele que passou pela cerimônia
de iniciação e apenas enxerga as imperfeições do homem, ainda permanece ligado a
vícios humanos e escravo do vil sistema
humano materialista. Continua carente da
iniciação iluminada pelo filosofar maçônico.
No mais absoluto sigilo, o processo começa com a proposta de
iniciação de um cidadão de valor por iniciativa de um mestre maçom.
Efetuam-se investigações. Só pessoa de destacadas características é
desejada e introduzida na ordem maçônica. O intento é melhorar o que
já é bom. Passa então por uma cerimônia especial determinada a testar
seu valor. Considera-se que o indivíduo é cortado de uma hipotética
pedreira, a sociedade. E mesmo com suas qualidades e erudição reconhecidas, em presença da filosofia maçônica, por obvio, ele ainda
apresenta uma forma tosca de construção interna, que apresenta imperfeições. Isso porque lhe falta liberdade devida a seu condicionamento
social. A busca de independência implica em livrar-se de crenças surreais que outras pessoas, ao longo da vida, o fizeram acreditar. Urge
tomar conta de seus próprios pensamentos, livres da imposição social e
dos exageros do politicamente correto.
A caminhada para a iluminação, segundo modelo de vetustas escolas herméticas, se dá em cegueira
profunda, total inexistência de Luz.
Em termos maçônicos é a representação de condição do homem em estado
bruto dentro da erudição filosófica,
intelectual e espiritual. A obstrução
da visão do iniciando representam os
primeiros passos em total dependência, ignorância e castrado de iniciativa. É similar à vida de cidadão algemado pelos poderes humanos que
limitam sua evolução. A falta de Luz demonstra onde e como o sistema
humano o submete aos poderes que lhe tomam os metais, posses, roupa
e força vital. Para demonstrar o seu lastimável destino, um laço no
pescoço, à semelhança de um enforcado, o provoca a pensar sua existência à semelhança de um condenado a viver como animal sem inteligência e sabedoria, para o qual a vida apenas passa vazia e sem gosto.
Sua total dependência dos outros o incentiva a sorver com ansiedade
goles de liberdade para tomar conta de sua vida em sentido lato e sem
ser conduzido por terceiros. Para demonstrar sua miserabilidade, o
homem não iniciado anda calçado apenas com ordinário e rústico chinelo. Não significa humildade, pois é retrato lastimável do homem
dentro do sistema: homem explorando homem em seu próprio prejuízo!
Faz seu testamento. Depois
de armado e municiado para libertar-se, entende que o beneficiário é
ele mesmo. Como já morreu para o
mundo, ele jaz sepulto na caverna
que representa a sua consciência.
Naquele local lúgubre responde
perguntas que o levam a pensar a
respeito da vida que teve até ali.
Na solidão da sepultura o homem
de sensibilidade desperta para
princípios de vida com elevado significado existencial. Com a sua
morte simbólica rompe definitivamente com a materialidade herdada e
que o aprisionavam ao sistema humano de coisas. Prepara-se para reviver na cerimônia de iniciação para uma nova oportunidade de vida.
O renascimento exemplificado na Páscoa, no Natal e nos solstícios
solares o ajudarão a entender e organizar a sua vida. É o ponto de entrada para uma fantástica jornada em busca da liberdade. Utilizará da
sabedoria de vetustas civilizações que ficaram no anonimato para se
protegerem de perseguição e proibição. O iniciado usa de todas as culturas, a sua Arte Real, para racionalmente louvar a Criação, obra do
Grande Arquiteto do Universo.
É jornada nova! É renascimento que ele escolheu racionalmente
quando e onde. Nasceu dentro de si mesmo a partir de sua livre iniciativa e capacidade de pensar e sentir. É a resposta corajosa ao que vê
pelas ruas da cidade onde a maioria não está satisfeita com o lugar e o
tempo em que vive. Onde os insatisfeitos mais ativos mudam de emprego, família, cidade e país em busca de felicidade para, em curto
espaço de tempo, ficar irrequieto novamente e iniciar nova jornada ao
léu. É insensatez! Acontece que estes não têm tempo para pensar nos
temas certos. Sem concentração e meditação, os andarilhos não encontram respostas para suas angústias. Permanecem infelizes! E a resposta
está tão perto! Bastaria olhar para dentro de si mesmo. Modificar-se.
Evoluir! Libertar-se! Ser feliz e contagiar a Humanidade em ser feliz
também.
Para entender o mapa da caminhada efetuam-se viagens simbólicas. É submetido compulsoriamente às provas que envolvem os quatro elementos da Natureza: terra, água, ar e fogo.
São apresentados seus deveres básicos: absoluto silêncio e fidelidade; vencer paixões prejudiciais; praticar a solidariedade, socorrendo outros ao encaminha-los a praticarem o bem; é-lhe exigida a crença
num Princípio Criador, baseado no conceito de Grande Arquiteto do
Universo; sujeitar-se às leis.
A Luz
Depois disto lhe é simbolicamente revelada a Luz. Luz que
ilumina o interior do templo sagrado que é o próprio corpo do iniciado.
No dia da iniciação o maçom inicia uma jornada que dura o resto de sua vida. E não vai longe! Ao menos não em termos de deslocamento. O seu destino é ao interior de si mesmo. Bem perto, mas tão
longe! Para ver a Luz é necessário desobstruir a entrada da caverna de
sua consciência, arrancar as lascas das rugosidades externas e internas
da simbólica pedra que ele é. Deixar a Luz entrar na pedra. Ele viaja ao
interior de si mesmo. Passa a destruir
e a reconstruir a si próprio por utilizar-se das ferramentas que estão espalhadas pelas oficinas maçônicas.
A Maçonaria propicia as ferramentas, o iniciado a matéria prima:
a pedra. Ele é a pedra. E somente ele
a pode trabalhar. No Universo apenas ele mesmo tem o poder e a capacidade de modificá-la. Nem mesmo
o Grande Arquiteto do Universo interfere, pois dotou a criatura com a
capacidade do livre-arbítrio, portanto, nunca cobrará se ele foi ou não
bem comportado durante o privilégio
de usufruir da vida. Afasta o medo
do castigo eterno. Afasta a falsidade da barganha com o Supremo Arquiteto com vistas a obter prazeres eternos. Significa liberdade! E responsabilidade! O pensamento expresso no conceito de Grande Arquiteto do Universo para o maçom não é crença, o que implicaria em dúvida; o maçom tem certeza da manifestação do Criador através de suas
obras.
O iniciado sente-se privilegiado por merecer essa experiência de
vida. A pedra burilada por quem tem o interesse maior resulta num ser
humano que sabe equilibrar amor, vontade e intelecto. Constitui o centro do grande tema da Ordem Maçônica.
A Liberdade
A grande provocação da cerimônia de iniciação aponta para a liberdade.
Durante o início da jornada existe a figura do condutor. Quando revelada a
Luz, o iniciado deixa de ser conduzido e
daí em diante passa a tomar conta de
seus próprios passos, de seu caráter, de
sua consciência, de sua vida, e em todos
os aspectos que o levam a evoluir. Está
focado essencialmente na destruição
interior dos embustes nos quais foi condicionado a acreditar. Trabalha agora na
edificação de valores virtuosos que revelam potências nunca antes percebidas
porque estavam imersas na hipocrisia do
mundo de ilusão criado por religiões, escolas, amigos, governos, usos e
outras influências. Andar e pensar com liberdade implica em duvidar
de velhos hábitos e costumes. Faz do questionamento geral uma Arte
Real, praticada no ócio criativo. Aprende a desfrutar da vida de forma
comedida e tranquila, aproveita desse paraíso de delícias, chamado
Terra, de forma respeitosa e tranquila.
Desbastar a pedra bruta é tarefa individual que os maçons perseguem em sentido moral, ético e mais acentuado na dimensão da elevação espiritual com aprimoramento de caráter e consciência. A Luz
do livre pensamento passa a brilhar dentro do templo que a pedra representa. As lascas, o cascalho, que caem neste trabalho são os defeitos e imperfeições como preconceitos, ignorância, fanatismo, orgulho, e
outros.
Assim, mesmo que viva entre as trevas do mundo idealizado
pelo homem material, ele aprende a conviver com elas sem se contaminar com as impurezas que vigoram fora do templo, fora de si mesmo. O seu templo interno permanece imaculado.
Depois de disciplinada e diligente atividade no desbaste da pedra bruta o iniciado encontra
dentro de si o espírito, o transcendental, a assinatura indelével do
Grande Arquiteto do Universo, origem da Luz que guarda e guia os
iniciados pelos caminhos dos augustos mistérios das antigas escolas
iniciáticas.
Bibliografia
1. CLIFFORD, Anthony; A Arte de Questionar, a Filosofia do Dia-a-dia, ISBN
978-85-395-0588-3, 1ª edição, Editora Fundamento, 320 páginas, São Paulo,
2014;
2. Paraná, Grande Loja do; Ritual do Grau 01, Aprendiz Maçom, Rito Escocês
Antigo e Aceito, 3ª edição, Grande Loja do Paraná, 98 páginas, Curitiba, 2001;
3. ZIJDERVELD, Anton; BERGER, Peter; Em Favor da Dúvida, Como Ter Convicções sem se Tornar Fanático, In Prise of Doubt, traduzido por YAMAGAMI,
Cristina; ISBN 978-0-06-177817-9, 1ª edição, Elsevier Editora Limitada, 172
páginas, São Paulo, 2012;
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