Virtudes e
Sabedoria
Charles Evaldo Boller
Quando as atividades humanas são
pautadas pela rígida disciplina e racionalidade, afloram virtudes que
estabelecem maneiras de portar-se ao longo da vida calcado em regras pessoais
intransferíveis no discernimento do que é bom e mau. A sabedoria está conectada
rigidamente com a capacidade de analisar racionalmente, com a força do próprio
pensamento, sem a interferência de emoção, resultando em ações que conduzem a
vida da maneira mais amena possível.
Não deve ser confundido com a
absorção de conhecimentos, técnicas ou ciências, muito menos do que diz
respeito ao divino e elevado. A sabedoria, apesar de sua importância, está
rebaixada aos assuntos meramente humanos, de como este lida em seu dia-a-dia na
tomada de decisões que visam exclusivamente o bom viver. A sabedoria que o
homem tem a capacidade de colocar em ação em sua vida, diz respeito ao conjunto
de virtudes tornados hábitos práticos e racionais que se referem ao que ele
realiza de bom.
Considerando a capacidade do homem de
mudar a cada instante em resultado de sua cognição e principalmente por estar
imerso numa sociedade, esta sabedoria muda também. Tudo depende de como se age.
Apesar de na definição de sabedoria filosófica se determinar que as virtudes
sejam imutáveis, a sua aplicação prática muda de um individuo para outro e de
instante a instante.
O homem que não pratica virtudes não
é sábio e deste os vícios se apoderam e escravizam de formas diversificadas.
É da sabedoria que nascem todas as
virtudes, e esta constatação leva a decretar que a mesma é mais importante que
a filosofia, pois enquanto esta última debate o conhecimento numa base
especulativa, a sabedoria é resultado da ação e posicionamento pessoal para o
bem, influindo diretamente no estabelecimento de muitos momentos de felicidade
do homem na vida diária. Depois da filosofia vagar pelos meandros de
pensamentos impossíveis de provar, abstrações de intuito absoluto e eterno, a
sabedoria faz o homem voltar para a sua realidade, ao seu mundo real, ao qual
sempre presta contas pelo que ele é, o que faz e aonde vai.
Alguns estudiosos consideram a
sabedoria como aplicação denodada da prudência, ou a capacidade de frear-se, de
pensar antes de agir. A sabedoria é a maneira correta buscar conselho da razão
antes de qualquer atitude. É o condicionamento mental de perscrutar todas as
virtudes e maneiras corretas de aplicá-las. Ao se marcar um alvo e a vontade
concordar com a ação, então, na aplicação de considerações virtuosas, o
resultado sempre será satisfatório. É a maneira de conduzir a vida de forma
saudável, feliz e agradável.
Em todas as atividades humanas há
espaço para aplicação da sabedoria, sem o que, os vícios tomam conta. Assim, a
sabedoria pode ser observada como uma aplicação do saber prático e inteligente.
É a capacidade de identificar a maneira mais prática, eficiente e precisa de se
obter resultados que conduzem ao bem.
As virtudes são tendências de fazer
sempre o melhor em qualquer atividade. É lógico pensar que existem sempre duas
maneiras de efetuar um trabalho: bem ou mal feito - tanto para fazer mal feito,
como para fazer bem feito, leva-se quase o mesmo tempo e se gastam quase os
mesmos recursos - então que se faça bem feito!
O uso nobre de virtudes está ligado à
capacidade de desenvolver capacidades morais e éticas. Onde a aplicação
continuada e intensa acaba por conduzir a sabedoria, pois esta última é a
aplicação de virtudes o tempo todo, com persistência.
Um ato moral não é virtude, mas as
virtudes desenvolvem atos que preconizam pela moralidade, que levam a conduzir
a vida dentro de preceitos morais. A sabedoria surge então como uma virtude das
quais todas as outras descendem, daí a afirmação de ser esta a mãe de todas as
virtudes. A sabedoria como virtude leva o homem a discernir de quais vícios
deve fugir e quais perseguir para tornar sua vida neste Universo a mais
prazerosa possível, sem se escravizar a nenhuma ideologia, hábito ou droga. É a
capacidade de avaliar a medida certa de se submeter às paixões, para que não
advenha nenhum prejuízo. É a disposição inteligente do homem de produzir
felicidade.
O homem que aplica virtudes com sabedoria, age,
vive e conserva em si excelentes decisões com orientação da razão prática e
útil, equilibrada com emoção e espiritualidade. De nada adiantam ao homem ser
apenas racional sem que sua ação contenha valores emocionais, os quais o
alimentam e movem à ação, pois o que não é feito por afeição, por amor, não é
nem bem nem mal. Algo só pode ser caracterizado como bem quando existe uma
emoção ou afeição que a coloque em movimento. O homem por ser um ser social por
excelência tem a sua ação no Universo impulsionada pela emoção. Ao alimentar
sua emoção o homem se torna bom para si mesmo, desenvolve auto estima, ama a si
mesmo, e só então tem capacidade de amar ao próximo, de fazer o bem ao próximo
- a suprema sabedoria que conduz ao amor fraterno, a única solução de todos os
problemas da humanidade; a reta final a que deve chegar o maçom por utilizar-se
da filosofia desta escola do conhecimento denominada Maçonaria.
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