Charles Evaldo Boller
Sinopse: Um passeio pelo interior do
corpo humano e o milagre da vida; especulação atômica em torno da constituição
da matéria; templos vivos e a glória do Grande Arquiteto do Universo.
Acompanhe-me numa singular
viagem.
Para isto é necessário que
você aceite alguns postulados e a pouca consistência do que mostrarei,
considerando que, em essência, tudo não passa de simples fantasia, mas os
conceitos são os mais modernos de que a ciência dispõe. Façamos à semelhança de
nossas lendas na Maçonaria, que mesmo em sendo ficções, pretendem transmitir
profundos conhecimentos filosóficos, dependendo apenas do grau de interesse e
desenvolvimento de cada indivíduo e da perseverança em alcançar o conhecimento
que leva a educação natural.
Tenha certeza que a pretensão
é flutuar por caminhos fascinantes que poderão revelar entendimento de verdades
complexas e difíceis de explicar de outra forma.
Preparando o Ambiente da
Viagem
Façamos de conta que estamos
parados no centro de uma loja aberta ritualisticamente. Aparelhada com todos os
instrumentos de trabalho do maçom, bem como sua matéria prima: a pedra bruta.
Esotericamente falando, o
teto não existe, então, vamos tirar de vez esta cobertura do lugar de onde está
e empurrá-la para bem longe, tão longe que desapareça. Descortina-se sobre nós
o espaço infindo e ao longe brilha o sol.
Empurremos também as paredes
de nosso templo para bem longe. Estamos no centro do espaço infindo que só não
é totalmente negro porque a luz do luzeiro o ilumina.
Eliminemos igualmente o piso
de nosso templo, afastando-o mais devagar para que nossa mente se acostume
lentamente com o flutuar no espaço. Como não temos mais referenciais, não
sabemos ao certo se é o piso da loja e a Terra que estão se afastando, ou se
somos nós que estamos levitando, viajando espaço afora.
Se pensar que paramos aí,
enganou-se, agora possuímos poderes sobrenaturais que nos permitem parar o
tempo, o que fazemos.
Este é nosso novo Universo:
nada ao nosso redor, o tempo parado e apenas o Sol a nos iluminar. Neste
ambiente especial construído por nossa imaginação, apenas nós nos movemos.
Estamos sem ponto de referência a não ser o sol. Longe de tudo. Não existe
ruído ou necessidade de ar. Somos poderosos
Olhamos ao redor e observamos
a imensidão. Como é diminuta a nossa estatura em relação a este Universo
ilimitado e sem horizonte.
Com nossa nova capacidade de
imaginação deixamos nosso corpo material e flutuamos para fora de nossa prisão.
Olhamos para as pedras brutas que somos pelo seu lado externo de formas como
nunca nos foram dadas observar. Observamos como é nosso túmulo material. Como
já aprendemos, o que este corpo tem por fora é mero invólucro de nossa
manifestação material no Universo tridimensional, o importante desta massa é
seu conteúdo interno, algo que aos olhos materiais é impossível identificar.
Foi devido a esta limitação
que saímos de nossos túmulos materiais e estamos aqui fora olhando para eles.
Aqui somos finitos e
infinitos. Nesta existência artificial não rege tempo ou matéria, não existe
início ou fim. Todas as coisas materiais que possuímos em nossa efêmera vida
material são nada se comparados com a imensidão que ora contemplamos ao lado de
fora de nossos cárceres que nos servem apenas como instrumentos de nossas
experiências sensoriais.
Locke defendeu que as ideias
são formadas a partir de experiências sensoriais exteriores e que a reflexão
interior colocava em seu devido lugar. Combateu o Inatismo, filosofia que parte
do pressuposto do homem possuir ideia inata do Grande Arquiteto do Universo;
que esta ideia já nasce com a pessoa. Vamos comprovar esta assertiva ao sairmos
do nosso corpo apenas por força de nosso pensamento e levarmos junto conosco
apenas nossas capacidades de ver e pensar.
Na Maçonaria nos é ensinado
que nascemos livres porque nascemos racionais e os seres humanos são, por isto,
considerados iguais, independente de governos e outros homens. Usamos desta
experimentação sensorial não apenas através de nossos dispositivos de percepção
da realidade, criamos uma nova percepção, pela fantasia, e por um exercício do
pensamento estamos passeando fora de nossos corpos físicos pelo espaço infindo.
Parece insanidade, mas é
divertido. E como diz Domenico de Masi: não sei se estou trabalhando,
aprendendo ou me divertindo.
Os trabalhos do Rito Escocês
Antigo e Aceito querem demonstrar ser o homem infinito e que suas posses são
finitas. Locke concebe o infinito como resultante da unidade homogênea de
espaço, número e duração, e o que diferencia uma da outra é que o infinito
apenas não tem limite. Deduzimos que o homem material é finito enquanto presa
da materialidade e torna-se infinito quando desperta para a liberdade da razão
apoiada pelo conhecimento.
É isto a que este passeio
conduz.
Início do Passeio
Percebe quão devagar estão
nossos passos neste passeio? Não há necessidade de correr. Nossas experiências
mais eficientes não ocorrem sempre aos saltos, mas em pequenos avanços de uma
dimensão para a outra de um conhecimento alicerçando o próximo, ciclos eternos
de tese, antítese e síntese. Assim se faz na Maçonaria. O salto é dado pela
mente e não pelo corpo material. É disto que devemos nos libertar para penetrar
nos segredos de nós mesmos. Apenas em condições especiais obtemos a verdadeira
luz para investigar a verdade oculta em nós mesmos. Nossa fantasia cria o
ambiente, nossa racionalidade preenche os vazios.
Se olharmos todo o trajeto
que nos trouxe até aqui é realmente um salto imenso para a nossa pequenez de
criatura vivente do espaço tridimensional. Aqui só existe a noção de espaço
porque trouxemos junto conosco as carcaças que nos contêm. Qualquer forma que
adotarmos, seja ela material ou assim como nos imaginamos agora, não passamos
todos de simples viajantes espaciais, é o que todos somos; astronautas
deslocando-se permanentemente pelo espaço sideral numa velocidade estonteante a
um destino desconhecido.
Vamos diminuir de tamanho,
aliás, nós não temos dimensão, podemos ser imensamente grandes ou infinitamente
pequenos, basta querer. Nossa mente vai fazer com que diminuamos de tamanho
lentamente, porque ainda faz pouco tempo que abandonamos nossa clausura física
e adentramos nesta nova condição de existência.
Vamos encolher até que
possamos entrar pelo ouvido do meu corpo material aí em frente e que conheço
bem, haja vista que já fiz alguns passeios dentro dele ultimamente. Vamos
diminuir de tamanho até que possamos divisar as moléculas desta carcaça.
Percebeis como meu corpo está
desaparecendo?
O corpo está se dissolvendo
lentamente.
Porque será?
Um Universo Interior
Boyle foi o primeiro que não
aceitou mais as teorias de Aristóteles dos quatro elementos: água, terra, ar e
fogo e formulou as bases e conceitos dos elementos químicos.
A diversidade de moléculas
com que um corpo físico é composto é enorme, então escolhamos a primeira
molécula que encontrarmos e vamos continuar a diminuir de tamanho para podermos
abordar um dos átomos.
Sabia que não foi Boyle quem
criou a ideia de átomo? Isto já foi cogitado na antiga Grécia, por Demócrito; é
dele a ideia que os materiais são formados por partículas minúsculas. Hoje
dispomos deste conhecimento porque estamos apoiados nos ombros de gigantes do
passado.
Pode-se dizer que o átomo é
formado por duas regiões que ocupam o espaço: o núcleo, que é seu centro
compacto e pesado, e uma coroa ou eletrosfera. No núcleo estão os nêutrons e
prótons e na eletrosfera movem-se os elétrons em diversas órbitas.
Rutherford sugeriu que o
tamanho do átomo seria algo em torno 0,000.000.01 centímetro. Para imaginarmos
melhor o significado desta dimensão consideremos o homem do tamanho de um átomo
e toda a população da Terra caberia na cabeça de um alfinete e ainda sobraria
muito espaço.
E nós estamos do tamanho de
um átomo agora.
Só que não vemos nada.
Por quê? Se moléculas das
mais diversas compõem um corpo físico, elas deveriam estar em todo lugar,
trilhões delas deveriam estar presentes aqui, e deveriam obliterar a luz do
sol.
Onde estarão?
A eletrosfera de um átomo é
cerca de 10.000 a 100.000 vezes maior que o núcleo. Então, porque não estamos
vendo nada?
Vamos diminuir mais umas
100.000 vezes o nosso tamanho. Ainda não vemos nada. O corpo pelo qual estamos
viajando simplesmente sumiu. O que existe ao nosso redor é apenas espaço vazio.
Só a luz do sol chega até nós.
Continuemos a procurar até
encontrar um núcleo de átomo, formado de prótons, nêutrons e outras partículas
insignificantes, e assim como nós, desloca-se solitário nesta imensidão do espaço.
É do tamanho de uma laranja, e cabe em nossa mão.
Onde estará o elétron que faz
par com este núcleo?
Sabemos que a massa do
elétron tem em torno de 1.840 vezes menos massa que o núcleo. Muito pequenos
para serem vistos, mesmo com estes olhos que temos agora. Temos que diminuir
ainda mais de tamanho para divisar corpúsculo tão diminuto, será por isto que
não vemos o elétron?
Não! Ele não é visto porque
nós paramos o tempo, lembra?
Somos criaturas muito
poderosas em nosso mundo de fantasia.
O elétron deste átomo está
parado em algum lugar que pode estar em termos proporcionais a nossa atual
estatura a alguns quilômetros daqui, ou até bem perto como alguns centímetros.
Não o vemos apenas devido suas dimensões relativas diminutas.
Estou cansado. Vamos diminuir
mais nossa estatura, até ficarmos tão pequenos que possamos sentar
confortavelmente sobre o núcleo deste átomo.
Ainda não vemos o elétron, e
teríamos que encolher ainda cerca de quase umas 2.000 vezes a nossa atual
estatura, e ainda assim seria muito difícil encontrá-lo.
Vamos restaurar o fluxo do
tempo.
Não se assuste com a
escuridão!
Consegue imaginar o que
aconteceu?
Porque esta escuridão súbita?
São os elétrons! Eles nos
deixaram cegos! Esconderam o Sol.
O Mundo Material
Os elétrons em movimento
impedem a luz de chegar até nós. Isto porque a velocidade com que o elétron
gira em torno do núcleo é tão alta que mesmo com sua minúscula massa impede a
passagem da luz.
Sua velocidade é tal que pode
ser comparada à própria velocidade da luz.
A velocidade dos elétrons é
de tal magnitude que num determinado instante cada um deles pode estar ocupando
qualquer espaço ao redor do núcleo. Ele tem apenas uma probabilidade de estar
fisicamente num determinado lugar, num determinado instante. As fórmulas
matemáticas da mecânica da física quântica não oferecem valores determinados,
apenas probabilidades.
Compare com as hélices de um
avião; as pás parecem estar em todo o entorno de seu eixo ao mesmo tempo,
podemos olhar através delas porque sua velocidade é inferior a da luz. Mesmo
assim, as pás parecem estar em todo lugar ao mesmo tempo. Com o elétron é
parecido, mas em escala de velocidades imensamente superior.
É assim que se forma a
matéria sólida de que são formados nossos corpos, o mausoléu de nossos
pensamentos. A velocidade com que os elétrons giram ao redor de seus núcleos
cria a matéria, lhe proporciona solidez. É como tudo no Universo físico é
construído.
Esta é a assinatura do Grande
Arquiteto do Universo dentro de nós mesmos.
Isto até contradiz Locke, mas
não esqueçamos que nossa existência aqui é apenas resultado de ficção, do
exercício de nossa mente criativa.
Mesmo assim, esta constatação
nos leva a inferir ser este, de fato, o nosso local mais sagrado. Como é imenso
o corpo físico de qualquer ser vivente! O homem em sua inteireza, considerando
a carcaça, a mente, as emoções, sua espiritualidade e outros detalhes é um
Universo tremendamente complexo, semelhante ao grande Universo.
A este Universo que existe
dentro de cada ser vivente, devido exatamente a esta diversidade e
complexidade, denominamos Macrocosmo apenas para simplificar nossas limitações
de entendimento.
É assim, de forma espantosa,
com quase nada de matéria, com quase absoluto espaço vazio que o Grande
Arquiteto do Universo produziu toda a matéria sólida do Universo.
Milagre ou realidade?
Será que legitima a expressão
do penso, logo existo, de Descartes?
Se tomarmos a realidade do
ponto de vista em que nos encontramos agora, certamente deduziríamos que nada
somos. Tudo o que existe é feito essencialmente de espaço vazio, somos feitos
do nada, então nada deveríamos ser. Existimos apenas como que por milagre. Um
maravilhoso feito do Incriado.
Heidegger argumentava que o
ser se faz no tempo; e é o que constatamos em nossa experiência; o ser é o nada
que o constitui.
Platão afirmava que o
Universo em que vive o homem é ilusório, feito de sombras e aparências; em
nossa experiência, quanto desta assertiva é verdadeiro?
O que acabamos de afirmar e
virtualmente constatar, foi baseado na informação de que o elétron e o próton
contêm massas, isto é, que sejam efetivamente feitos de matéria sólida, mas que
o garante?
Existem considerações
científicas atuais que dizem terem os átomos ora o comportamento de partícula e
ora de fenômeno ondulatório, isto é, não possuírem massa e serem constituídas
exclusivamente de campos de força, de campos eletromagnéticos, de energia.
Aí então a nossa pasma
intelectualidade entra em pane!
Se os átomos não são nada
mais que campos de força, então somos efetivamente feitos de puro espaço vazio,
nada somos!
Simples fótons?
Campos magnéticos em
interação e deslocando-se à velocidade da luz?
Ainda sem considerar a teoria
das Supercordas que remetem até o instante do inicio da expansão do Universo, o
inicio de toda a história que nossos cientistas sonhadores dão para o Universo
e ao qual denominam big bang, já nos satisfazemos com o fato de constatar que
existe um projeto racional e um objetivo válido para tomar parte nesta grande
orquestra da vida, esta milagrosa massa de seres viventes. Porque olhando em
nossa própria essência, sequer deveríamos existir! É um milagre! Os fatos
apontam para uma realidade onde a vida tem uma insignificante possibilidade de
se manifestar.
A Improbabilidade da Vida
Partindo da constatação que
as fórmulas da mecânica quântica nos fornecem apenas probabilidades e nunca
certezas qual seja a verdadeira constituição do átomo. Acrescente-se que as
moléculas de que nossas carcaças são formadas constituem apenas um por cento de
toda a massa do Universo, isto porque, 75% de toda matéria do Universo é
formada por Hidrogênio, 24% é Hélio, e o restante 1% (um por cento) é constituído
por todos os demais elementos da tabela periódica. Desde o lítio, passando pelo
carbono até chegar ao urânio.
A química que dá origem à
vida é uma insignificância quantitativa em relação ao gigantismo do Universo!
Daí nossa intelectualidade vir
a se preocupar com a existência e a realidade nos faz singelos na imensidão
deste Universo - especula-se que existam outros Universos. É deveras um milagre
possuirmos consciência!
Percebe a maravilha desta
descoberta dentro de nós mesmos?
Consegue observar o quanto
somos infinitos na forma em que nos encontramos e o resto do Universo é finito?
Em termos absolutos poderíamos até dizer que nem infinitos somos, mas
inexistentes.
Conscientizou-se agora do
quanto somos livres e iguais neste Universo criado pelo Grande Arquiteto do
Universo?
É razão mais que suficiente
para buscar o conhecimento para nos entendermos melhor uns com os outros.
Fazer estes tipos de viagens
é o único caminho que dispomos para trilhar pelos caminhos que conduzem para a
liberdade e perfeição; simplesmente porque nos conscientizamos que existe um
criador, não é possível que tudo seja resultado de obras do acaso sem a
presença de uma mente pensante por traz de tudo o que se manifesta na natureza.
Esta nossa realidade, esta nossa
insignificância perante o milagre da existência material já é suficiente para
nos levar a entender do porque o amor fraterno é o único caminho para a
verdadeira igualdade.
Na essência somos todos
relacionados e iguais. Somos imperfeitos em nossa materialidade, mas alcançamos
a perfeição em nossa racionalidade, da mesma forma como disse Platão: o único
círculo perfeito é a ideia de círculo que existe em nossa imaginação.
Abrangência do Mundo Interior
Estenda esta visão às outras
dimensões que temos: espiritualidade, emotividade, pensamentos, e outros. Este
conhecimento de nós mesmos não fica limitado ao que estamos percebendo neste
instante, este crescimento exige a perfeição tanto do espírito como do coração.
Há necessidade de treinar
nossas percepções tanto do visível como do invisível, e tudo é dedutível por
nossa capacidade de abstração, de fantasia, até vir a comprovar-se pela
experimentação científica. Assim como aconteceu com Pitágoras, que na tradição
intelectual do mundo ocidental teve transformada a sua capacidade de mística
matemática numa espécie de ponte entre a razão humana e a inteligência divina.
De nossa parte, enquanto sonhamos, não temos provas materiais da imaginação ser
realizável, ao menos enquanto estivermos restritos ao nosso cárcere material,
ao nosso corpo físico. Tampouco criamos proposições que não possam ser
questionadas, até contrariadas, pois algo assim, nas palavras de Isaiah Berlin,
não contém informação.
Devemos procurar a justiça e
a fraternidade, o amor fraterno, para obter a possibilidade de, mesmo
imperfeitos em alguns aspectos, sermos levados à perfeição do intelecto e da
espiritualidade pela força do pensamento.
E assim como efetuamos nossa
caminhada até ficarmos sentados aqui nesta escuridão sem ter medo de nada,
quando o tempo está em marcha, aonde chegamos devagar, um passo de cada vez. A
Maçonaria nos ensina que o caminho da perfeição também não se dá aos saltos,
senão com muita prudência e lentidão. Velocidade é coisa de elétron em sua
órbita, nós devemos lentamente ir formando uma base educacional em busca da
verdadeira liberdade que nos liberta do fanatismo, do ódio e outros vícios.
Pois se viéssemos até aqui na superfície deste núcleo de átomo num salto,
certamente desfaleceríamos. A escuridão nos enlouqueceria! Não entenderíamos
que na escuridão de nosso mais recôndito ser, na falta da liberdade a que o
elétron nos levou, nos sentiríamos presos, imobilizados, com medo de nos mexer,
inclusive de pensar. E o medo desta prisão certamente nos induziria a adotar
alguma postura fanática e alienante, quem sabe até, num ato desesperado, o
suicídio.
Percebe o quanto a nossa
capacidade de sonhar é infinita e como isto nos diferencia do homem-fera
primitivo? A filosofia do Rito Escocês Antigo e Aceito está conectada ao
conhecimento humano, desde sua pequenez diante do Universo, até o gigantismo de
sua capacidade de sonhar e pensar. É pela capacidade racional inteligente que
todo maçom deriva conhecimentos detalhados e genéricos para a sua própria
sobrevivência física e intelectual. Uma coisa puxa a outra.
O sonhar leva a predispor o
iniciado na busca contínua de instruções e conhecimentos. Isto o leva a efetuar
saltos mentais e lhe impõem denodo quando se interna na caminhada dos mundos
desconhecidos, reservados apenas aos que têm coragem de enfrentar as veredas do
desconhecido. Mesmo que lá reine escuridão, a mente continuará a irradiar a luz
do entendimento de verdades cada vez mais complexas e intrincadas.
O peregrino cego carrega
junto de si a luz do entendimento ao buscar intensamente dentro de si mesmo o
conhece-te a ti mesmo, de Sócrates. O homem pensador passa a aperfeiçoar-se.
Depois que se aperfeiçoou e
descansou parte em nova jornada, em ciclos eternos de sonhos, racionalizações e
sedimentações de novos conceitos.
Fica evidente que ao
adentrarmos no mausoléu que somos, despertam ideias ocultas que até então não
percebíamos. Encontramos alguns porquês da existência: De onde venho? Para onde
vou? Algo que é possível descobrir com viagens ao interior de nós mesmos. Faz
da passagem para o oriente eterno apenas mais uma etapa da vida; algo que
alivia o constrangimento e medo da morte. Este é o conhecimento, a luz que o
profano busca em nossos templos; é a travessia que o iniciado faz quando se
desloca do ocidente para a luz do oriente. Ao nos libertarmos do medo da morte,
rompem-se os grilhões da escravidão do mundo material e passa a brilhar a luz
da sabedoria do Grande Arquiteto do Universo.
Templos Vivos
Todo maçom é considerado de
fato um templo vivo.
Só a partir desta constatação
o maçom passa a considerar-se criatura pura e sagrada. Certamente tudo faz para
não conspurcar o ambiente sagrado de que é constituído seu templo interior,
derivando que isto induza o desenvolvimento de conceitos morais e éticos cujo
objetivo preservará a pureza do lugar sagrado de seu interior. Isto faz do
mundo interior um lugar perenemente limpo e puro.
Desperta adicionalmente que
apenas limpar o templo interior não é suficiente. A pureza moral e ética é
insuficiente. Exige-se que o interior do templo, local da razão e dos
sentimentos equilibrados, nutram o cérebro com estímulos que levem a buscar a
perfeição. Daí ressalta-se a importância em velar na maioria das vezes do
centro das emoções, o coração, de modo a mantê-lo subjugado à mente, pois é
considerado esotericamente um mausoléu e tudo aponta para o coração como túmulo
do maçom; ao menos enquanto não morrer o maçom que o contém.
O caminho para a liberdade e
perfeição do maçom é dominar suas paixões com o objetivo de acabar com atitudes
extremadas e fanáticas. E a vereda do espírito passa pela capacidade de sonhar,
com grandes chances de converter a fera humana, apenas controlada pelas leis,
em ser humilde diante da grandiosidade do que daqui divisamos.
Quando o tempo se desloca, em
nosso interior reina escuridão enquanto não efetuarmos um salto para dentro de
nós mesmos iluminados pela sabedoria do entendimento desta viagem. Este
deslocamento é realizado em pequenas estações, para que o choque da descoberta
desta escuridão não nos deixe cegos e com medo, assim como fazemos em nossa
evolução pelos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito.
O medo pode nos imobilizar e
escravizar aos extremismos.
É necessária coragem para
desbravar o caminho.
Agora que mostrei a minha
senda, faça as tuas viagens a sós para dentro de você mesmo e descubra teus
próprios caminhos. Só não se assuste com a escuridão do lugar, leve sempre
junto a luz de tua capacidade intelectual para de lá sair em segurança. Ao
homem maçom é dado caminhar só na busca de sua espiritualidade e liberdade,
exatamente porque ninguém a pode fazer por outrem. É tarefa individual e
intransferível.
E saiamos daqui, pois os
trabalhos encerraram a meia-noite.
Bibliografia:
1. ANTISERI, Dario; REALE,
Giovanni, História da Filosofia, Antigüidade e Idade Média, Volume 1, ISBN
85-349-0114-7, primeira edição, Paulus, 670 páginas, São Paulo, 1990;
2. BOSQUILHA, Gláucia Eliane,
Mini manual compacto de Química, Editora Rideel, 1999;
3. Dicionário Eletrônico
Houaiss da Língua Portuguesa, versão 1.0, 2001;
4. GUIMARÃES, João Francisco,
Maçonaria, A Filosofia do Conhecimento, ISBN 85-7374-565-7, primeira edição,
Madras Editora Ltda., 308 páginas, São Paulo, 2003;
5. LOCKE, John, Ensaio Acerca
do Entendimento Humano, tradução: Anoar Aiex, ISBN 85-13-01239-4, primeira
edição, Editora Nova Cultural Ltda., 320 páginas, São Paulo, 2005;
6. MARTINS, Maria Helena
Pires; ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, Filosofando, Introdução à Filosofia, ISBN
85-16-00826-6, primeira edição, Editora Moderna Ltda., 396 páginas, São Paulo,
1993.
Nota:
1. Postulado, o que se
considera como fato reconhecido e ponto de partida, implícito ou explícito, de
uma argumentação; premissa; afirmação ou fato admitido sem necessidade de
demonstração;
2. Parar o tempo é
impossível, mas esta condição é importante para demonstrar a viagem;
3. Aqui a pedra bruta sendo
observada pelo aprendiz maçom, em sua materialidade;
4. O homem maçom é infinito
em sua condição espiritualizada, na essência de sua condição pura. É limitado
por sua carcaça material, pelo corpo que reveste a mente do iniciado;
5. Referência a Deuses, uma
entidade poderosa; pessoa poderosa;
6. Experiências vindas dos
sensos de tato, olfato, gosto, audição e visão;
7. A racionalidade, o
pensamento racional e sem emotividade;
8. Em sendo isto o que
determinava que o estado devesse apenas cuidar do bem-estar das necessidades
materiais do povo, sem adotar qualquer tipo de religião. Com esta postulação
ele se opôs à teocracia anglicana que legitimava o poder absoluto do rei no
plano espiritual, pois o soberano tinha o direito de impor à nação a sua
escolha de uma crença e culto;
9. Conforme o primeiro modelo
científico desenvolvido por John Dalton;
10. Grande Arquiteto do
Universo, para a maçom é um conceito da existência de um princípio criador; o
que permite à maçom congregar todos os credos e religiões sem conflitos; pode
ser o Deus da cristandade, o Jeová dos judeus, o Alá dos muçulmanos; o Tat
védico; o Brahma dos hindus; o Osíris dos egípcios; Astarté dos babilônios; o
Odin dos escandinavos; Belém dos celtas; o Apolo dos gregos; ente infinito,
eterno, sobrenatural e existente por si só; causa necessária e fim último de
tudo que existe; O criador de todas as coisas; o alfa e o ômega; o princípio e
o fim; nas religiões primitivas, designação dada às forças ocultas, aos
espíritos mais ou menos personalizados; princípio absoluto, realidade
transcendente ou Ser primordial responsável pela origem do Universo, das leis
que o regulam e dos seres que o habitam, fonte e garantia do Bem e de todas as
excelências morais;
11. Macrocosmo, designação
dada ao Universo nas doutrinas que admitem uma correspondência entre cada uma
das partes que o constituem e cada uma das partes que compõem o corpo humano,
visto como um Universo em redução; o mundo (em suas dimensões física, cultural,
social ou religiosa) em relação ao homem, considerado como sua componente
essencial e sua representação em redução.
Biografia:
1. Aristóteles ou Aristóteles
de Estagira, filósofo de nacionalidade grega. Nasceu em Estagira em 384 a. C.
Faleceu em 7 de março de 322 a. C. Um dos mais importantes pensadores de todos
os tempos;
2. Demócrito de Abdera,
filósofo grego. Nasceu em 16/01/460 a. C. Faleceu em 371 a. C. Criador da
teoria atômica. Da era pré-socrática que fundou a atomística. Estudioso da
matemática e física teve cultura semelhante à de Aristóteles;
3. Ernest Rutherford, físico
de nacionalidade inglesa e neozelandesa. Também conhecido por Lord Ernest
Rutherford of Nelson. Nasceu em Nelson, Nova Zelândia em 30 de agosto de 1871.
Faleceu em 1937 com 65 anos de idade. Suas pesquisas obtiveram incrível
importância, tendo elucidado uma série de problemas relacionados à
radioatividade, à estrutura dos átomos e à natureza elétrica da matéria;
4. John Dalton, escritor,
físico, professor, químico e tradutor de nacionalidade inglesa e irlandesa.
Nasceu em Eaglesfield em 6 de setembro de 1766. Faleceu em 27 de julho de 1844
com 77 anos de idade. É considerado o fundador da Teoria Atômica moderna;
5. John Locke, escritor e
filósofo de nacionalidade inglesa. Nasceu em Wrigton, Somerset em 29 de agosto
de 1632. Faleceu em Oates em 28 de outubro de 1704 com 72 anos de idade.
Rejeitou as ideias inatas: a fonte de nossos conhecimentos seria a experiência;
6. Martin Heidegger, filósofo
de nacionalidade alemã. Nasceu em Messkirch, Floresta Negra, Alemanha em 26 de
setembro de 1889. Faleceu em Messkirch em 26 de maio de 1976 com 86 anos de
idade. Um dos mais importantes representantes do existencialismo e da filosofia
alemã do século XX;
7. Platão ou Platão de
Atenas, filósofo de nacionalidade grega. Também conhecido por Aristócles Platão
de Atenas. Nasceu em Atenas em 428 a. C. Faleceu em Atenas em 347 a. C.
Considerado um dos mais importantes filósofos de todos os tempos;
8. René Descartes, cientista,
filósofo e matemático de nacionalidade francesa. Também conhecido por René du
Perron Descartes. Nasceu em La Haye, Touraine, Atual Descartes em 31 de março
de 1596. Faleceu em Estocolmo, Suécia em 11 de fevereiro de 1650 com 53 anos de
idade. Muitos filósofos consideram-no o pai da filosofia moderna;
9. Robert Boyle, cientista,
físico, matemático e químico de nacionalidade irlandesa. Nasceu em Lismore,
Irlanda em 28 de março de 1950. Faleceu em Londres em 30 de dezembro de 1691.
Estabeleceu de forma clara e precisa os conceitos de elemento químico,
combatendo assim os elementos alquimistas e aristotélicos;
10. Sócrates ou Sócrates de
Atenas, filósofo de nacionalidade grega. Nasceu em Atenas em 468 a. C. Faleceu
em 399 a. C. Um dos mais importantes pensadores de todos os tempos.
Data do texto: 02/09/2008
Sinopse do autor: Charles Evaldo
Boller, engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4
de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.
Loja Apóstolo da Caridade 21
Grande loja do Paraná
Local: Curitiba
Grau do Texto: Aprendiz Maçom
Área de Estudo: Filosofia,
Maçonaria
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