domingo, 8 de outubro de 2017


Milênio segundo

 

Dez séculos são passados...

Bizâncio, empalidecida,

Transfere esplendor e vida

Ao poderio de Otão.

Desde o grande Constantino,

O ocidente, aos tempos novos,

Faz-se assembléia de povos,

Esperando a paz em vão.

 

Há quem sonhe liderança

De nível superior...

Alguém que trouxesse amor

À construção do porvir;

Mas entre os feudos altivos,

Irrompe Henrique Segundo,

Que grita, à face do mundo:

"Conquistar ou destruir..."

 

O milênio começava,

Tendo a Guerra por destino...

Crescêncio, Arnoldo e Arduíno

São ínclitos europeus;

Tramam ódios e batalhas,

Morrem, no entanto, esquecidos,

Hoje, heróis de tempos idos

Na pátina dos museus.

 

Pedro, o Eremita, aparece...

Iniciam-se as cruzadas,

Nas cortes e nas Estradas,

Ao brado de "Deus o quer..."

Viajam para a matança

Frederico, Godofredo...

Todo o Ocidente sem medo

Cede as vidas que tiver.

 

Após Francisco de Assis,

Destaca-se a Renascença;

Fulge o prodígio da Imprensa,

A arte é brilho e elevação.

A América é um Mundo Novo,

Mas, entre o ouro e os conchavos,

Há milhões de homens escravos,

Rogando libertação!...

 

Clamando pelo Direito

Que a tirania extermina,

No cepo da guilhotina

Pede a França novas leis;

Entretanto, Bonaparte,

Águia da força e do mando,

Passa, na Terra, formando

Tronos outros e outros reis.

 

Novos tempos, novas armas...

Nações alteram limites,

Há sinistros apetites,

Na terra, no mar, no ar...

A vida suplica aos homens:

"Deus existe!... Sois cristãos,

Entrelaçai vossas mãos!.."

E os homens gritam: "lutar!..."

 

Os grandes conquistadores

Passaram a nobre arquivo,

Um só deles está vivo,

Espalhando amor e luz!...

Desde o século primeiro,

Esse imortal companheiro

É Jesus, sempre Jesus!...

 

Castro Alves, do livro Paz e Libertação.

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