Armas da
Reconstrução de Templos
Charles Evaldo Boller
Sinopse: O trabalhador guerreiro; com a trolha em uma das mãos e a
espada na outra.
Em qualquer empreendimento, material ou
espiritual, aonde o maçom se lance, há necessidade de trabalho constante. Daí o
afloramento da boa vontade ser eficiente arma de defesa contra a oposição
difamadora dos inimigos. No mínimo exige o aporte de coragem para enfrentar as
vicissitudes da vida, entretanto, sem a existência de forte espiritualidade é
praticamente impossível conciliar conflitos, sejam estes materiais ou
espirituais. É a característica e desenvolvimento espiritual que dá ao homem a
possibilidade de sobrevivência neste sistema competitivo. Característica que só
desenvolve plenamente se movida pelo heroísmo de vencer a si mesmo, pelas
aspirações e ideias que o diferenciam dos outros animais e de outros iguais.
Sua característica guerreira não é fortuita, aconteceu em resultado de
sucessivas fases de seleção natural, da prevalência do mais apto. É só olhar ao
passado, na história da trajetória do homem até o presente e verificar que a
jornada foi penosa, inclemente. Protegiam-se em locais lúgubres como florestas
e cavernas, ou então, em encostas e escarpas para escapar aos predadores ou da
fúria dos fenômenos naturais. A luta foi longa e muitos agonizaram para lançar
o homem no atual estágio de desenvolvimento.
É notório que, apenas os agrupamentos de
homens que detinham as mais desenvolvidas características espirituais
progrediram e sobreviveram; os demais sumiram nas brumas do tempo sem deixar
vestígio de suas passagens. Só as civilizações altamente desenvolvidas em
espiritualidade deixaram marcas indeléveis de suas passagens e podem ser vistas
hoje ainda. Estas características passaram entre as gerações e, de tão
significativas, gravaram-se na estrutura social, passando por herança aos
herdeiros, representando a diferença entre a vida e a morte, felicidade e
sofrimento. Apenas as sociedades que obtiveram maior sucesso em sustentar
características espirituais suplantaram as demais e dominaram por um tempo,
normalmente enquanto primavam por altos valores morais e espirituais em suas
sociedades. Só através da evolução espiritual é que foi possível obter
recompensas de evolução e supremacia e nunca sem o empunhar da espada para
defender-se dos inimigos. Os inimigos visíveis são mortos pela espada nos
campos de batalha que se cobrem com sangue e, como consequência da derrotas, os
seus castelos, templos e cidades são derrubados e incendiados; em muitos casos
não sobra pedra sobre pedra. Os inimigos invisíveis, aqueles que conspiram para
derrubar o templo interno de cada um, são eliminados por uma espada simbólica
com capacidades de lógica, psicologia e gnosiologia.
A espada de defesa na construção e
reconstrução de templos internos serve-se da lógica. É ela quem percebe quando
o inimigo tenta, por insídia ou ignorância, destruir a construção. Embora a lógica
pareça artificial, ela se impõe por si mesma. É a aplicação da razão ao
pensamento enquanto pensado. É ferramenta do pensamento enquanto estiver no
campo das ideias. Não atua no Universo físico, apenas no pensamento. O grande
inimigo da construção é construído no pensamento, e é lá que deve aportar a
sagacidade da lógica da espada para matar raciocínios tortos e que conduzem ao
erro. É importante entender claramente o que o orador verbaliza e absorver
corretamente as estruturas das palavras e frases e sua organização interna.
Cabe ao maçom saber falar bem e interpretar corretamente o que fala, usando com
galhardia a linguagem para expressar seu próprio pensamento e entender o que os
outros realmente verbalizam. Não só ouvir, mas dar sentido lógico e aplicabilidade
prática ou sensível. Deve ir além das palavras e descobrir falhas de
raciocínio. Andar armado com a espada é necessidade em qualquer ambiente onde
se reúnem homens. Todos têm interesses: uns bons, outros não! Que valor tem
elogios ditos de forma a apenas fazer coceiras nos ouvidos dos ouvintes? Não é
ofensa discordar! Desonesto é elogiar quando existe erro em algum raciocínio.
Desgraçada é a construção cujo alicerce é minado pela adulação e falsidade. É
cada um em si quem permite que os outros o atinjam com suas armadilhas, com
seus pensamentos errados, e isto dura até o momento em que se aplica a fria
espada da lógica para derrubar pensamentos tortos. E onde está a lógica na
composição da espada? Ela está no fio. Quanto mais aguçada a lógica, com mais
facilidade ela corta os raciocínios errados e o derruba inimigo da construção.
A espada que é usada na construção tem mais
uma propriedade: a psicologia, capacidade inata ou aprendida para lidar com
outras pessoas e consigo mesmo, levando em conta suas características
psicológicas. Convém armar-se da espada que percebe a origem do pensamento
expresso e qualificá-lo quanto ao tipo a que pertence. Qual linha ideológica
defende. A lógica é dependente da psicologia, daí sua importância. A psicologia
permite conhecer o processo de pensamento do homem, senão como saber onde
atingir os pontos vitais do inimigo? Conhecer bem o homem e os pontos fracos e
fortes do seu pensamento é importantíssimo na luta para defender o pátio de
obras de construção ou reconstrução de templos. É aprender a reconhecer onde se
é mais vulnerável, onde as muralhas são mais frágeis e que eventualmente
permitirão um ataque surpresa de vícios e paixões. A psicologia é a essência do
"conhece-te a ti mesmo". Sem conhecer a maneira como o homem pensa e
sente é apenas luta inglória e o templo pode vir abaixo a qualquer sopro de
contrariedades. Se a lógica é o fio da espada, a psicologia é a sua estrutura,
o seu desenho é o que lhe dá forma.
Podemos associar fé à psicologia, que
endurece o metal de que é feita. Fé é a crença no não visto. Acreditar na
existência daquilo que o maçom representa apenas por um conceito, ao qual
denomina Grande Arquiteto do Universo, é um ato de fé. É aceitar, mesmo sem
ver, a manifestação de uma mente lógica que apenas cria as leis que dão vida.
Este ato de fé é resultado da atuação de lógica e psicologia.
A esperança dá sentido e razão do porque
lutar para defender o templo interno, aponta a direção para a espada atingir os
pontos vitais do inimigo. É a certeza que o Criador não o colocou nesta bela
nave espacial sem um propósito definido. Para alguns é indiferente viver em
virtude da existência do mal, mas a maldade é criação do livre arbítrio da
criatura e não do Criador. A intenção do Arquiteto é simples: felicidade.
Uma espada bem afiada, dura, bem desenhada,
manejada com habilidade carece de mais uma característica: a gnosiologia;
teoria geral do conhecimento humano, voltada para a reflexão em torno da
origem, natureza e limites do ato de pensar; defende o pensamento quanto ao seu
valor; estuda as relações entre as diversas verdades de um pensamento, entre o
conhecimento e o objeto conhecido. Em grosso modo é a psicologia e a lógica
atuando juntas para construir pensamentos corretos, sem falha, onde a gnosiologia
apenas os organiza e classifica. É o conhecimento resultante da interpretação
correta do pensamento enquanto estiver na cabeça. É a organização de
conhecimentos visíveis como visão, gosto, tato, e invisíveis, ou como fantasia,
metafísica e outras. Gnosiologia é necessária ao maçom para que esteja
estruturado com uma espada eficiente, treinada e organizada para defender a
construção de seu templo interior. É a espada do conhecimento que espanta todo
e qualquer inimigo que tenta destruir a bela construção moral que cada maçom
deve ser na construção da sociedade humana. É o motivo de o maçom estudar em
sua loja os mais diversos assuntos do pensamento, guardando-os para aplicação
em sua vida. O resultado de todo conhecimento é ordenado e organizado pela
gnosiologia. Ela é a espada toda. Está em todos os detalhes, de como este são
belos, ordenados e prontos para o uso. Uma arma desprovida de treinamento,
organização e método são o mesmo que possuir um revólver sem saber usá-lo, vem
o meliante e leva tudo, inclusive a arma.
O maçom que prima pela reconstrução
constante de seu interior, de seu templo vivo, usa a trolha numa das mãos e
empunha a espada na outra, e em virtude desta condição de permanente alerta é
bem sucedido na vida, progride material e emocionalmente - apesar das
dificuldades, é feliz. Aprende a suportar a visão do ser e do que há de mais
luminoso do ser, visão equilibrada que passa a interpretar como o bem. Só usa
da espada para matar os inimigos que tentam bloquear o caminho para a luz, para
intimidar e afastar os que tentam interferir na sua permanente reconstrução,
razão da sabedoria, manifestação da felicidade. O sumo do bem é encontrar a
felicidade. Está consciente que é pelo valor, perseverança e firmeza com que
trata seus assuntos internos que dependem seu sucesso na sociedade e constantes
momentos de felicidade. Com este repetido trabalho de reconstrução do templo
interno obtém a vitória da liberdade como consequência da coragem e da
perseverança. Está consciente que o caminho da luz é resultado da repetição que
conduz ao hábito, pois quem tem por hábito repetir práticas virtuosas
certamente encontra a felicidade. Trabalha para construir um ambiente de paz e
harmonia onde possa crescer junto com seus irmãos e cidadãos do mundo, sempre
alerta contra os ataques, os quais são repelidos com coragem e firmeza. O
ambiente que ele constrói internamente reflete-se ao seu redor, contamina aos
que lhe são próximos. Surge o ambiente fraterno onde as pessoas tratam-se como
irmãos, onde se reúnem diversos templos vivos semelhantes que têm profundo amor
entre si, e como consequência, lá naquele local sagrado se manifesta aquilo que
o maçom define pelo conceito de Grande Arquiteto do Universo.
Bibliografia:
1. CAMINO, Rizzardo da, Rito Escocês Antigo
e Aceito, Graus um ao Trinta e Três, ISBN 978-85-370-0222-3, primeira edição,
Madras Editora Ltda., 302 páginas, São Paulo, 2009;
2. CLAUSEN, Henry C., Comentários Sobre
Moral e Dogma, primeira edição, 248 páginas, Estados Unidos da América, 1974;
3. MIRANDA, Pedro Campos de, Os Caminhos da
Maçonaria, ISBN 85-7252-216-6, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha
Ltda., 160 páginas, Londrina, 2006;
4. SANSÃO, Valdemar, O Despertar para a
Vida Maçônica, ISBN 85-7252-206-9, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha
Ltda., 192 páginas, Londrina, 2005;
5. SOBRINHO, Octacílio Schüler, Maçonaria,
Introdução Aos Fundamentos Filosóficos, ISBN 85-85775-54-8, primeira edição,
Obra Juridica, 158 páginas, Florianópolis, 2000;
6. SPOLADORE, Hercule, O Homem, o Maçom e a
Ordem, ISBN 85-7252-204-2, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha Ltda.,
194 páginas, Londrina, 2005.
Data do texto: 05/02/2010
Sinopse do autor: Charles Evaldo Boller,
engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4 de
dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.
Loja Apóstolo da Caridade 21 Grande loja do
Paraná
Local: Curitiba
Grau do Texto: Aprendiz Maçom
Área de Estudo: Espiritualidade, Filosofia,
Maçonaria, Moral
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