Os Dois Coveiros
da Maçonaria
Por Ricardo Vidal
Meus
prezados Irmãos!
Meus amados
irmãos Aprendizes e Companheiros!
Mais de uma
década de rica experiência na Maçonaria, de convívio com pessoas que pensam e
agem das mais diversas maneiras; de observação, pesquisa, investigação e busca
incessante da verdade, permitiu-me identificar inúmeros tipos de maçons,
dois dos quais são altamente deletérios à saúde da nossa sublime
instituição, fonte de seus principais problemas: o místico supersticioso e o
vaidoso arrogante. Conhecer um pouco da personalidade desses dois
impostores, existentes em nosso meio em razoável número, bem como as
desordens psicológicas que definem o comportamento anormal e antimaçônico
de ambos, é uma boa maneira de proteger-se deles, em especial em situações em
que não é fácil ou possível evitá-los.
Estou certo
de que o presente trabalho será de grande valia para os irmãos mais novos,
sobretudo para aqueles que ingressaram em nossa instituição com a mente cheia
de pensamentos honestos e ideais elevados. Servirão também para fazer corar de
vergonha aqueles que se enquadram em nossa análise, persuadidos de que estão a
salvo dos olhares atentos de irmãos mais esclarecidos.
PARTE
I
O
MÍSTICO SUPERSTICIOSO
(O paraíso
do idiota é o mundo de ilusões por ele criado)
Antes de
iniciarmos a análise desse tipo de maçom, seria interessante passarmos os olhos
em alguns princípios fundamentais da Maçonaria que ele contraria ou ignora,
total ou parcialmente:
a) A
Maçonaria não impõe limites á livre INVESTIGAÇÃO DA VERDADE e exige de todos a
maior TOLERÂNCIA;
b) A
Maçonaria é acessível a homens de todas as CLASSES, CRENÇAS RELIGIOSAS E
OPINIÕES POLÍTICAS, excetuando-se aquelas que privem o homem da liberdade de
consciência, restrinjam os direitos e a dignidade da pessoa humana, ou que
exijam submissão incondicional aos seus chefes, ou, ainda, PRIVEM O HOMEM DA
LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO;
c) O
objetivo da Maçonaria é COMBATER A IGNORÂNCIA em todas as suas modalidades;
d) E o
FANATISMO e as paixões que acarretam o OBSCURANTISMO (*)
_________________________________
(*) Ritual
do Simbolismo do Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito, págs.1-2.
(Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo-GLESP).
(a)
Intolerância e mediocridade
Violador
contumaz dos regulamentos acima, e de dezenas de outros que disciplinam as
nossas relações, incluindo os landmarques, o maçom supersticioso é inimigo da
verdade e amante da mentira. A facilidade com que se entrega aos encantos de
certas imposturas – algumas fabricadas por bárbaros e alucinados que viveram na
Idade do Bronze–, chega, em alguns casos, a ser revoltante.
Preguiçoso mental por excelência – característica notória de todo
indivíduo supersticioso –, ele nunca se dá ao trabalho de investigar o que lhe
apregoam ou as falsidades que instila deliberadamente na própria cabeça,
permanentemente cheia de minhocas e voltada para o mundo das coisas
extravagantes. Ele absorve dogmas, fábulas e teorias mirabolantes sem jamais
submetê-las ao crivo da razão. Quanto mais fantástico e absurdo é o mito que
lhe apregoam, mais fácil e avidamente ele o devora. Para ele as coisas irreais
valem mais do que as reais; as invisíveis, mais do que as visíveis.
Runas, mantras, chacras, cristais, sefirotes, bruxedos, pentagramas e amuletos
valem mais do que pontes, pomares, diques, vacinas, adubos, medicamentos,
escolas, asilos, Filosofia, Matemática, Medicina etc. A Ciência não é objeto de
suas preocupações, a Filosofia o aborrece e da realidade ele foge como a barata
das cerdas de uma vassoura. São coisas incompatíveis com o seu cérebro
indolente e obscuro, porque a Ciência requer investigação, a Filosofia
exige estudo e reflexão e a realidade não combina com a covardia. No seu tosco
entendimento, esses assuntos maçantes devem ser deixados a cargo dos
desprezíveis materialistas, indivíduos afastados de deus.
O maçom
supersticioso não vê com bons olhos o progresso da Ciência e raro é o que têm
respeito pelos irmãos que só aceitam o que ela ensina e a experiência confirma.
Nesses costuma lançar a pecha de ateus, ímpios, descrentes e outros
termos rebaixados, cujas etimologias muitas vezes nem conhece. Autênticas
e dignas de louvor são para ele apenas a confissão religiosa que professa, as
quimeras que fermentam em seu cérebro, e as divindades nas quais crê. Tudo o
mais ele rechaça como coisa vil e falsa.
Quais são os
ídolos do maçom supersticioso? Os irmãos Francisco Miranda, George Washington,
Simon Bolívar, San Martin e Gonçalves Ledo, que sacudiram o jugo do colonialismo
e libertaram o continente americano de seus opressores europeus? Não, são os
impostores Cagliostro e Saint-Germain, dois assíduos frequentadores de cadeias
que perambulavam pela Europa no séc. XVIII, aplicando golpes por onde passavam!
Por esses nutre um amor todo especial, ainda que em suas respectivas folhas de
serviço não conste o registro de um único ato comprovado praticado em prol da
humanidade.
Em quem se
espelha esse tipo de maçom? Nos irmãos Tomas Jefferson, Tomas Paine e
Lafayette, que fundaram a nação mais poderosa e próspera do planeta, os Estados
Unidos da América? Talvez ele nem saiba quem foram esses três gigantes! Sua
preferência é por gente ignota, paspalha e sem biografia, tais como Martinez de
Pasqually e o Barão de Tschouldy, dois impostores que inundaram a coreografia
maçônica de graus fraudulentos!
Quais são os
“líderes espirituais” do nosso maçom? Algum filósofo que contribuiu para içar a
humanidade das trevas da ignorância, abrindo-lhe as alamedas do progresso, tais
como os irmãos Montesquieu e Voltaire? Não, são os visionários Emmanuel
Swedemborg e Luís Claude de Saint-Martin, que em seus livros descreveram os
mistérios da criação com a mesma autoridade que algumas doses de aguardente
confere a um bêbado, que fala o que lhe vem na cabeça quando fica fora de si!
Nas palavras
de quem nosso personagem dá crédito? Nas que se acham nas páginas monumentais
deixadas pelos cientistas maçons Alexander von Humboldt e Samuel Hahnemann?
Não, interessam-se mais pelas depravações saídas da pena de libertinos
como Charles Leadbeater e Aleister Crowley, dois notórios maníacos!
Quais são os
poetas preferidos do maçom em exame? Os imortais e insignes irmãos Pushkin,
Lessing e Goethe? Não, conhece-os apenas pelo nome, quando os conhece!
Em compensação, tem na ponta da língua cada parágrafo escrito pelos
impostores e visionários Eliphas Levi, Papus, Madame Blavastky e Anne Besant,
que poluíram a Maçonaria com suas teorias absurdas!
Quais são as
preferências musicais desse nosso irmão sonhador? Alguma sinfonia composta
pelos irmãos Haydn, Liszt ou Mozart? Não, prefere ouvir ruídos eletrônicos
conhecidos no mercado como música New Age, ou, opcionalmente, compassos
repetitivos e distorcidos produzidos pela cítara de algum faquir esquelético!
Que livros
figuram na estante do maçom supersticioso? Algum escrito pelos luminares maçons
Franklin, D´Alembert e Knigge? Não, prefere orná-la com engendros
sensacionalistas e inúteis do tipo Conceito Rosacruz do Cosmos (Max Heindel), O
Casamento Alquímico de Christian Rozencreutz (autor desconhecido), A Força
Oculta (Helena P. Blavatsky), Dogma e Ritual da Alta Magia (Eliphas
Levi), Eram os Deuses Astronautas (Erich von Daniken), O Despertar dos Mágicos
(Jacques Bergier e Louis Pauwels) e outros lixos congêneres que usa para adubar
diariamente o jardim do mundo de ilusões em que vive!
O que é
comum encontrarmos na cabeceira da cama onde se deita o nosso maçom, quando ele
nos convida a conhecer a sua residência? Algum livro útil que fortaleça
as funções do cérebro? Alguma obra que aperfeiçoe e aguce o raciocínio? Algum
material útil à sociedade e ao progresso do país? Não, mais fácil é
acharmos amuletos de toda a natureza ou, como eu mesmo já tive oportunidade de
presenciar, copos contendo pedaços de cristais imersos em água, cuja função é,
segundo ele, atrair “vibrações positivas” e as “forças cósmicas do Universo”.
(**)
(**) E
também fêmeas de insetos e mosquitos transmissores de pragas e doenças
contagiosas.
Inconsciente
de sua própria pequenez, incapaz de enxergar um palmo na frente dos olhos
embotados pelo véu da ignorância, ao discorrer sobre os enigmas da criação o
maçom supersticioso acaba se revelando uma criança atrevida, quando não um
perfeito idiota. Ele fala da criação dos mundos com uma fluência tal que torna
difícil conter o riso. Da maneira como descreve o Grande Arquiteto Universo,
chega a passar a impressão de ser o próprio, ou pelo menos de alguém com quem
diariamente toma um trago no bar da esquina. No íntimo, ele não crê nem
aplica os pontos das doutrinas quiméricas que apregoa, sobretudo aqueles que
versam sobre a prestação de ajuda aos pobres. Raro é o que não se omite nesse
particular. Ele costuma deixar a máscara cair quando um irmão necessitado
solicita a sua ajuda ou uma criança pobre aparece-lhe na frente mendigando algo
para comer ou para se vestir.
(b)
Lixeiros e Mercadores de Ilusões
O maçom
supersticioso age como lixeiro na Maçonaria, só que de maneira inversa ao do
valoroso funcionário do serviço público de limpeza, que cuida do asseio de
nossas ruas. Toda a porcaria que consegue catar no esterco místico da sociedade
ele traz para dentro da sua loja para fortalecer suas arengas, conquistar
sequazes, e gente com quem compartilhar suas fantasias excêntricas. Se a
loja dispõe de uma biblioteca, ele logo a transforma em depósito de lixo, em
uma réplica quase idêntica da que possui em casa, entulhando-a com títulos
iguais ou semelhantes aos citados lá atrás.
Por
fanatismo, inocência, ou mesmo princípio de loucura, nosso personagem assim age
porque julga ser uma criatura especial, um verdadeiro “iniciado”, um
iluminado com missão divina na Terra, quando na verdade não passa de um
desequilibrado emocional, de um visionário movido por “delírios de
poder”, de um infeliz que nutre certo desprezo pela vida na Terra.
Seu comportamento proselitista, contrário ao regulamento que proíbe toda
e qualquer discussão de caráter político ou religioso em loja, compromete o
maior tesouro que a Maçonaria “ainda” possui, único no planeta, que é o
de poder reunir, sob um mesmo teto, irmãos de todas as nacionalidades, etnias e
religiões.
Ao lado
desse irmão não poderia faltar, é claro, o onipresente mercador de
ilusões, o maçom falsário que vive com ele em permanente estado de simbiose,
que lucra com a sua credulidade. Este embusteiro começa a sua carreira na
Maçonaria construindo pacientemente uma auréola mística em torno de si,
deixando transparecer aos desavisados ser um homem sábio e virtuoso, de ser o
“conhecedor da verdadeira Maçonaria”. Sua única intenção é mais tarde
colocar à venda no mercado as porcarias que vai escrever com a sua pena
fraudulenta, a partir de concepções quiméricas geradas nos antros
obscuros do seu cérebro ou de material sensacionalista publicado dentro e
fora do país. Mais do que lixeiro, o mercador de ilusões atua na
Maçonaria da mesma forma que o proxeneta na zona do baixo meretrício. Não há
nada que fique a salvo de suas prostituições: nossa filosofia
maçônica de vida, nossos símbolos, nossas reuniões, nossas alegorias, nossas
comemorações, nossos banquetes e, lamentavelmente, nossos irmãos
Aprendizes e Companheiros. Esses são as suas maiores vítimas, pois enquanto não
adquirem resistência intelectual e conhecimentos maçônicos suficientes
para rechaçarem as suas imposturas (alguns não adquirem nunca!), eles as
assumem como verdades sublimes e, o que é pior, passam a apregoá-las por toda
parte como tais, inclusive no mundo profano, expondo nossa instituição ao
ridículo. Em tudo esse defraudador põe o seu dedo ruinoso para corromper e
mistificar, jamais se lembrando, porém, de usá-lo para ressaltar o real,
simples, mas magnânimo propósito de nossas alegorias, QUE É O DE FAZER COM QUE
O MAÇOM (pedreiro por definição) JAMAIS SE ESQUEÇA DO SEU PAPEL DE
CONSTRUTOR SOCIAL. Com o tempo, palavra dele vai adquirindo ares de autoridade
e os erros que dissemina nas calamidades que escreve passam a triunfar
sobre a verdade.
(c)
Comportamento e atuação como Mestre Maçom
Como Mestre
esse tipo de maçom desencoraja a livre e sadia investigação dos fatos, de
modo a fazer com que os Aprendizes e Companheiros assumam como verdadeiras
suas ridículas superstições. Por ser um zero intelectual, costuma
tratá-los como crianças, apregoando-lhes pseudociências, anedotas místicas
pueris, e bobagens de fácil assimilação. Só recebem o seu aplauso os trabalhos
que estiverem floreados com as quimeras com as quais está de acordo. Ao mesmo
tempo opõe-se aos Mestres que se esforçam para ministrar-lhes
ensinamentos maçônicos úteis. Sua estupidez ele a demonstra quando é
questionado a respeito das doutrinas que tenta propagar em loja. Quando não as
ignora por completo, como é de praxe, conhece-as muito superficialmente,
limitando-se apenas a repetir chavões surrados assoprados em seu ouvido por
outros visionários tão ou mais ingênuos do que ele. Com frequência, e às vezes
sem se dar conta do desrespeito com que o faz, o maçom supersticioso costuma
inserir seus irmãos no âmbito de suas fantasias místicas particulares,
negando esse mesmo direito aos outros quando está em seu poder fazê-lo. Como
orador, ou mesmo quando pede a palavra nas reuniões, é quase sempre para
arengar uma impostura que absorveu sem exame ou uma frase feita colhida em
algum dos “livros” que enumeramos há pouco. Como Venerável, recorre com
frequência ao expediente arbitrário da censura para defender da destruição uma
fábula qualquer que cultiva no cérebro, ou mesmo para silenciar um irmão que
tente incinerá-la com a tocha da razão. Por fim, o maçom supersticioso
tem carinho especial pelas “verdades reveladas” que, a rigor, nada mais são do
que anedotas destituídas de sentido impressas em papel pintado, transmitidas em
sonho por criaturas do além a um número seleto e reduzido de bárbaros que
supostamente viveram nos pródromos da civilização. Esse amor é de certa forma
compreensível porque, primeiro, essas “verdades” são brechas que facilitam o
enxerto de imposturas (de fabricação própria ou de terceiros) em nossas
alegorias e manuais de instrução; segundo porque os rituais de alguns “altos graus”,
que ele assume como maçônicos, acham-se repletos delas, de forma velada ou
explícita, o que pode encorajar o seu “instinto reformador” a torná-los ainda
mais fraudulentos do que já são, se estiver em seu poder fazê-lo, tal como
muitas vezes ocorreu no passado; terceiro porque elas permitem-no transformar a
Maçonaria – pelo menos em sua imaginação–, em uma espécie de local de
culto particular, em apêndice de alguma religião que o frustra ou frustrou.
Quando se compara os rituais modernos com os originais – ou mesmo os atuais em
circulação–, nota-se de imediato a enorme quantidade de invencionices
grosseiras que foram sendo introduzidas ao longo dos anos por impostores como
Cagliostro, Saint-Martin, Fessler, Willermoz e outros, de modo a adequá-los às suas
personalidades excêntricas. Não é demais sublinhar aqui que essas
“verdades reveladas”, que se esfarelam facilmente quando recebem o bafejo
de um raciocínio bem aplicado, durante séculos foram empregadas para atrasar a
marcha da Ciência, cobrir o planeta de místicos e monges inúteis; escravizar a
humanidade; derramar rios de sangue e lágrimas; encher o mundo de órfãos e
viúvas, inventar instrumentos de tortura e dor; destruir civilizações
inteiras, acender as chamas da perseguição; encarcerar cientistas,
investigadores, poetas e filósofos honestos (muitos maçons); promover guerras;
atiçar levantes sangrentos; semear o ódio e fazer milhares de vítimas por toda
parte.
(d)
Prejuízos à Maçonaria
Essa fé que
ordena-nos crer cegamente no que nos dizem, que não permite o emprego da razão,
é a fé do ignorante; ou do estúpido que se converte em fácil instrumento dos
demais. O homem que não estuda o que não compreende, que aceita sem exame o que
lhe dizem, degenera sua condição, igualando-se ao bruto.
(Ritual do
Grau 18o – Cavaleiro Rosa Cruz – Rito Escocês Antigo e Aceito)
A fé no
desconhecido é patrimônio da ignorância.
(Ritual do
Grau 19o – Grande Pontífice – Rito Escocês Antigo e Aceito)
O maçom
supersticioso difere-se do obscurantista religioso apenas na arte da
dissimulação e no que diz respeito aos seus objetos de culto. Ambos são
inimigos da liberdade de expressão e amigos da censura e da arbitrariedade: o
primeiro no íntimo e o segundo de forma manifesta. No resto, são iguais
em quase tudo.
Julgando-se
acima da lei, nosso personagem não compreende que para que a “Fraternidade dos
Maçons Livres e Aceitos” continue merecendo assim ser denominada e funcionando,
é mister que seus membros guardem para si suas fantasias e crenças
particulares, bem como respeitem outras formas de fé e maneiras de pensar, tal
como mandam os nossos regulamentos. Teimoso, intolerante e insolente, ele
chega às vezes ao extremo de agir como um velho decrépito, não importando a sua
idade e o ridículo que o seu comportamento suscita. Em qualquer esfera da
vida, ante um fato novo e incontestável, uma descoberta científica que
lança por terra uma quimera que fermenta em seu cérebro, ele passa a
odiar o fato e, sobretudo quem o descobriu. Na Maçonaria, procede de modo
idêntico: mesmo estando demonstrada a incompatibilidade de suas concepções com
a realidade, com a história e filosofia maçônicas, continua a defendê-las
com unhas e dentes, caso creia nelas. De maneira alguma se curva às evidências
e aos fatos, que falam mais alto do que qualquer opinião.
Os
Landmarques 19, 20 e 21, que estabelecem, respectivamente, a obrigatoriedade do
maçom crer em um “princípio criador”, crer em uma vida futura, e crer nas
verdades reveladas em algum “Livro da Lei”, parecem ser os únicos regulamentos que
o nosso maçom costuma obedecer, ou melhor, supõe-se que o faça, pois não há
como saber no quê ele realmente crê na intimidade, sobretudo se for um
hipócrita. E hipocrisia é o que não falta no meio religioso. (***) Além
do mais, como são bastante vagos nesses três pontos, esses landmarques
obsoletos –que por estarem em frontal contradição com a liberdade de pensamento
há muito tempo já deveriam ter sido suprimidos–, podem ser interpretados
de inúmeras maneiras e, por isso mesmo, serem empregados para impor o arbítrio
a um irmão que professa uma crença incomum (ou nenhuma), censurar concepções a
respeito da vida além-túmulo diferentes das que estão na moda, criticar o que
alguns entendem como “revelação” e, ainda, anatematizar grupos religiosos
minoritários que manifestem suas crenças particulares, ainda que de maneira
honesta. Tente o leitor afirmar, por exemplo, que crê em um deus
diferente do judaico-cristão e observe o semblante de desaprovação do maçom em
exame! Melhor ainda, diga com ar de seriedade que crê nos deuses indianos
(Brahma, Ganesha, Xiva etc.) e veja o como o seu rosto se retorce! Teste a
tolerância que ele diz praticar rejeitando a Bíblia como “Livro da Lei” e
exigindo a sua substituição pelo Alcorão! Questione os dogmas e os sofismas que
ele apregoa em loja dirigindo-lhe uma pergunta bem simples: com que autoridade
você afirma isso? Peça pelas credenciais dos impostores cujas doutrinas abraçou
e observe o seu tartamudear!
(***) É mais
fácil fazermos passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que encontrarmos
um crente que já se deu o trabalho de estudar o livro sagrado do credo que
abraçou (ou que lhe foi imposto), usado geralmente como enfeite em prateleiras.
*
* *
Com raras
exceções e em inúmeros particulares, todo maçom supersticioso é um ser nocivo à
Maçonaria, não importando que seja um cidadão de boa índole e honesto. Sua
mentalidade irracional, sua intolerância, sua mediocridade, seu desprezo pela
Filosofia, seus incontroláveis impulsos proselitistas, terminam por afugentar
irmãos sóbrios e esclarecidos, causando um prejuízo incalculável à nossa
instituição. Por serem incapazes de conviver em harmonia com a
diversidade, estes maçons buscam a companhia somente daqueles que creem nos
mesmos devaneios místicos; que padecem dos mesmos preconceitos e desordens
psicológicas. Com o tempo passam a constituir grupelhos de gente hipócrita e
insuportável, excluindo de suas relações irmãos que cultivam valores com os
quais não estão habituados, sobretudo aqueles que utilizam a Razão como guia e
a Filosofia como farol nos caminhos da vida. Depois, fundam lojas não para
trabalharem em prol da sociedade, da nação, da família, e de si mesmos, mas
para entupirem-se de crendices e falsidades, prostituírem os objetivos da nossa
Veneranda Instituição, e imbecilizarem-se mutuamente.
PARTE
II
O
VAIDOSO ARROGANTE
(a)
Baixa autoestima e complexo de inferioridade
Nenhum
ditador provocou ou vêm provocando tanto dano à Maçonaria quanto o maçom
vaidoso, este sapador inveterado, este Cavalo de Tróia que a destrói por
dentro, sem o emprego de armas, grilhões, ferros, calabouços, e leis de
exceção. Ele é indiscutivelmente o maior inimigo da Maçonaria, o mais nefasto
dos impostores, o principal destruidor de lojas. Ele é pior do que todos os
falsos maçons reunidos porque se iguala a eles em tudo o que não presta e
raramente em alguma virtude.
Uma
característica marcante que se nota neste tipo de maçom, logo ao primeiro
contato, é a sua pose de justiceiro e a insistência com que apregoa virtudes e
qualidades morais que não possui. Isso salta logo à vista de qualquer um que
comece a comparar seus atos com as palavras que saem da sua boca. O que se vê
amiúde é ele demonstrar na prática a negação completa daquilo que fala,
sobretudo daquilo que difunde como qualidades exemplares do maçom aos
Aprendizes e Companheiros, os quais não demora muito a decepcionar. Vaidoso ao
extremo, para ele a Maçonaria não passa de uma vitrine que usa para se exibir,
de um carro de luxo o qual sonha um dia pilotar. E, quando tem de fato este afã
em mente, não se furta em utilizar os meios mais insidiosos para tentar
alcançá-lo, a exemplo do que fazem nossos políticos corruptos.
Narcisismo
em um dos extremos, e baixa autoestima no outro, eis as duas principais
características dos maçons vaidosos e arrogantes. No crisol da soberba em que
vivem imersos, podemos separá-los em dois grupos distintos, porém idênticos na
maioria dos pontos: os toscos ignorantes e os letrados pretensiosos.
A trajetória
dos primeiros é assaz conhecida.
Por serem
desprovidos do talento e dos atributos intelectuais necessários para
conquistarem posição de destaque na sociedade, eles ingressam na Maçonaria em
busca de títulos e galardões venais, de fácil obtenção, pensando com isso obter
algum prestígio. Na vida profana, não conseguem ser nada além de meros
serviçais; de mulas obedientes que cedem a todos os tipos de chantagem. Por
isso, fazer parte de uma instituição de elite como a Maçonaria (isso mesmo, de
elite!) produz neles a ilusão de serem importantes; ajuda a mitigar um
pouco a dor crônica que os espinhos da incompetência e da mediocridade produzem
em suas personalidades enfermas.
O segundo em
quase tudo se equipara ao primeiro, porém com algumas notáveis exceções.
Capacitado e
instruído, em geral ele é uma pessoa bem sucedida na vida. Sofre, porém, desse
grave desvio de caráter conhecido pelo nome de “Narcisismo”, que o torna ainda
pior do que o seu êmulo sem instrução. Ávido colecionador de medalhas, títulos
altissonantes e metais reluzentes, este maçom é uma criatura pedante e
intragável, que todos querem ver distante. No fundo ele também é um ser que se
sente rejeitado; sua alma é um armário de caveiras e a sua mente um antro
habitado por fantasmas imaginários. Julgando-se o centro do Universo, na
Maçonaria ele obra para que todas as atenções fiquem voltadas para si, exigindo
ser tratado com mais respeito do que os irmãos que atuam em áreas profissionais
diferentes da dele. Pobre do irmão mais jovem e mais capacitado que cruzar o
seu caminho, que ousar apontar-lhe uma falta, que se atrever a lançar-lhe no
rosto uma imperfeição sua ou criticar o seu habitual pedantismo! O seu rancor
se acenderá automaticamente e o que estiver ao seu alcance para reprimi-lo e
intimidá-lo ele o fará, inclusive lançando mão da famosa frase, própria do
selvagem chefe de bando: Sabe com quem está falando!!! Desse modo ele acaba
externando outra vil qualidade, que caracteriza a personalidade de todo homem
arrogante: a covardia.
O número de
irmãos que detesta ou despreza este tipo de maçom é condizente com a quantidade
de medalhas que ele acumula na gaveta ou usa no peito. Na vida profana seus
amigos não são verdadeiros; são cúmplices, comparsas, associados e gente que
dele se acerca na esperança de obter alguma vantagem. E nisso se insere a
mulher com a qual vive fraudulentamente. Todos os que o rodeiam, inclusive ela,
estão prontos a meter-lhe um merecido chute no traseiro tão logo os laços de
interesse que os unem sejam desfeitos. O seu casamento é um teatro de
falsidades e o seu lar um armazém de conflitos. Raramente familiares seus são
vistos em nossas festas de confraternização. Quando aparecem, em geral
contrariados, não conseguem esconder as marcas indeléveis de infelicidade que
ele produz em seus rostos.
Em sua
marcha incessante em busca de distinções sociais, que supram a sua insaciável
necessidade de autoafirmação, é comum vermos este garimpeiro de metais de falso
brilho farejando outras organizações de renome, tais como os clubes Lyons e
Rotary, e gastando nessas corridas tempo e dinheiro que às vezes fazem falta em
seu lar. A Maçonaria, que tem a função de melhorar o homem, a sociedade, o
país, e a família, acaba assim se convertendo em uma fonte de problemas para os
seus familiares; e ele, em uma fonte de problemas para a Maçonaria.
Um volume
inteiro seria insuficiente para catalogar os males que este inimigo da paz e da
harmonia pratica, este bacilo em forma humana que destrói nossa instituição por
dentro, qual um cancro a roer-lhe as células, de modo que limitar-nos- emos a
expor os mais comuns.
(b)
Comportamento em loja
Incapaz de
polir a Pedra Bruta que carrega chumbada no pescoço desde o dia em que nasceu,
de aprimorar-se moral e intelectualmente, de lutar para subtrair-se das trevas
da ignorância e dos vícios que corrompem o caráter; de assimilar conhecimentos
maçônicos úteis, sadios e enobrecedores, para na qualidade de Mestre poder
transmiti-los aos Aprendizes e Companheiros, o que faz o nosso personagem?
Simplesmente coloca barreiras em seus caminhos, de modo a lhes retardar o
progresso! Ao invés de estudar a Maçonaria, para poder contribuir na formação
dos Aprendizes e Companheiros, de que modo ele procede? Veda a discussão sobre
assuntos com os quais deveria estar familiarizado, fomentando apenas
comentários sobre as vulgaridades supérfluas do seu cotidiano! Ao invés de
encorajar o talento dos mesmos, de ressaltar suas virtudes e estimular o seu
desenvolvimento, o que faz ele? Procura conservá-los na ignorância de modo a
escamotear a própria! Ao invés de defender e ressaltar a importância da
liberdade de expressão e da diversidade de opiniões para a evolução da
humanidade, como ele age? Censura arbitrariamente aqueles cujas ideias não
estejam em harmonia, ou sejam contrárias às suas! Ao invés de fomentar debates
sobre temas de importância singular para o bem da loja em particular e da
Maçonaria em geral, como age ele? Tenta impedir a sua realização por carecer de
atributos intelectuais que o capacitem a participar deles! E, nos que raramente
promove, como se comporta? Considera somente as opiniões daqueles que dizem
“sim” e “sim senhor” aos seus raramente edificantes projetos!
Tal como o
maçom supersticioso, este infeliz em cujo peito bate um coração cheio de inveja
e rancor nutre ódio virulento e dissimulado pela liberdade de expressão, que
constitui um dos mais sagrados esteios sobre os quais repousam as instituições
democráticas do mundo civilizado, uma das bandeiras que a Maçonaria hasteou no
passado sobre os cadáveres da intolerância, da escravidão e da arbitrariedade.
Dos atos
indecentes mais comumente praticados por este falsário, o que mais repugna é
vê-lo pregando “humildade” aos irmãos em loja, em particular aos Aprendizes e
Companheiros, coberto da cabeça aos pés de fitões, joias e penduricalhos
inúteis, qual uma árvore de natal. Outro é vê-lo arrotando, em alto e bom som,
ter “duzentos e tantos anos de Maçonaria” e exibindo o correspondente em
estupidez e mediocridade. O terceiro é vê-lo trajando aventais, capas,
insígnias, chapéus e colares, decorados com emblemas que lembram tudo, exceto
os compromissos que ele assumiu quando ingressou em nossa sublime e veneranda
instituição.
Cego,
ignorante e vaidoso, nosso personagem não percebe o asco que provoca nas
pessoas decentes que o rodeiam.
Como já foi
dito, a Maçonaria serve apenas de vitrine para ele. Como não é possível
permanecer sozinho dentro dela sem a incômoda presença de outros impostores –
os quais não têm poder suficiente para enxotar–, ele luta ferozmente para
afastar todo e qualquer novo intruso, imitando alguns animais inferiores aos
humanos na escala zoológica, que fixam os limites de seus territórios com os
odores de suas secreções e não toleram a presença de estranhos. Qualquer irmão que
comece a brilhar ao lado desta criatura rasteira é considerado por ela inimigo.
A luz e o progresso do seu semelhante o incomoda, fere o seu ego vaidoso. Por
este motivo tenta obstaculizar o trabalho dos que querem atuar para o bem da
loja; por isso recusa-se a transmitir conhecimentos maçônicos (quando os
possui) aos Aprendizes e Companheiros, sobretudo aos de nível intelectual
elevado, ou os ministra em doses pífias, para que futuramente não sejam tomados
como exemplos e ofusquem ainda mais a sua mediocridade. Um maçom exemplar,
íntegro, que cumpre rigorosamente os compromissos que assumiu quando ingressou
em nossa instituição, não raro converte-se em alvo de suas setas, pois seus
olhos míopes não conseguem ver honestidade em ninguém; sua mente podre o
interpreta como potencial “concorrente”, que nutre interesses recônditos
semelhantes aos seus.
O maçom
arrogante mal conhece o significado de nossas belas e simples alegorias. Se as
conhece, as despreza. Sua mente acha-se preocupada unicamente com o sucesso de
suas empreitadas, em encontrar maneiras de estar permanentemente ao lado das
pessoas cujos postos ambiciona. Fama e poder são os seus dois únicos objetivos,
tanto na vida maçônica, como na profana. As palavras Liberdade, Igualdade e
Fraternidade, que compõem a Trilogia Maçônica, não fazem parte do seu
vocabulário, e com frequência é visto pisoteando os valores que elas encerram.
A história, a filosofia e os objetivos da nossa Veneranda Instituição não lhe
despertam o menor interesse, pois é frio, calculista, e não tem sensibilidade
nem conhecimento para compreendê-los e assimilá-los. Ele é diametralmente
oposto ao que deve ser o maçom exemplar, em todos os pormenores. É a antítese
de tudo o que a Maçonaria apregoa e deseja de seus membros: uma criatura vil e
rasteira que semeia a discórdia, afugenta bons irmãos, e termina por destruir
ou fragmentar a loja (ou lojas), resultado às vezes de anos de trabalho árduo,
caso ela teime em não se colocar sob a sua batuta ou se mostre contrária às
suas aspirações egoístas.
A insolência
desse tipo de maçom – e também o asco que destila–, vai crescendo conforme ele
vai “subindo” nos altos graus (ou graus filosóficos), lixo maçônico fabricado
por impostores no passado unicamente para explorar a estupidez e a vaidade de
homens como ele. Sentindo-se importante por ter sido recebido em determinado
grau, com a pompa digna de um rei, ele passa a considerar-se superior aos
irmãos de graus “inferiores”, em particular aos Aprendizes e Companheiros,
ignorando o que reza o segundo landmark, que estabelece a divisão da Maçonaria
Simbólica em apenas três graus. Mas reservar um tempo para dedicar-se à sua
loja, um momento para confraternizar com irmãos íntegros e honestos, ler algo
de útil que possa servir de instrução a si e aos demais, essas são as suas
últimas preocupações. O seu tempo disponível ele o reserva inteiramente às
festinhas fúteis, nas quais pode ser notado e lisonjeado, onde pode ajuntar-se
a outros maçons falsos e vulgares, prontos para lhes enterrar um punhal nas costas
na primeira oportunidade que surgir. Perceba o leitor com que velocidade esse
“irmão” deveras atarefado arruma tempo quando é chamado para arengar em um
tablado representando a Maçonaria! Note a pontualidade com que chega à
passarela onde vai desfilar e ser fotografado com os seus paramentos. Observe
como ele fica cheio de si quando é agraciado com uma rodela de lata qualquer ou
vê o seu lindo rosto estampado nas páginas de alguma revista maçônica! Perceba
como se curva aos pés dos que tem mais prestígio e poder do que ele! Note como
ele os bajula!
Este
prevaricador vagabundo não trabalha e não deixa os outros trabalhar para não
ter de arregaçar as mangas também. Quando se mete a ministrar instruções aos
Aprendizes e Companheiros ele o faz de modo precário, sem estar familiarizado
com elas. Raramente sabe responder questões que os irmãos lhe dirigem.
Tergiversa sempre com a mesma resposta: É preciso pesquisar! Ele não faz nada
porque não sabe fazer nada, não quer aprender nada, e no íntimo não gosta da Maçonaria
e não ama seus irmãos! Nossas reuniões são para ele um fardo. Nas vezes que
comparece em loja, exige ser ouvido e jamais dá atenção ao que falam os demais,
obrando para que a sua palavra sempre prevaleça nas decisões a serem tomadas.
Quando o seu nome não consta na Ordem do Dia – o que significa que não terá a
oportunidade de exibir a sua hipocrisia ou arengar as suas imposturas–,
retira-se antes da reunião terminar ou, quando permanece, o faz com o olhar
fixo no relógio.
Campeão em
faltas e em delitos, quando este falso maçom comparece à loja ele o faz para
dar palpites indevidos, censurar tudo e todos, propor projetos mirabolantes e
soluções inconsistentes com os problemas que surgem em nossas relações. Jamais
faz uso de críticas sadias e construtivas, aquelas que apontam erros e sugerem
soluções para os mesmos.
(c)
Comportamento na Sociedade
Passemos
agora à exposição do comportamento deste detestável impostor na sociedade,
outra praia onde adora se exibir, embora poucos o notem.
Ele circula
pelas ruas do bairro onde vive de nariz empinado, cheio de empáfia, tentando
vender a todos, sobretudo aos mais humildes, a falsa imagem de alguém assaz
importante. Ostentando correntes, anéis, gravatas, broches e outros adereços
maçônicos – alguns com peso suficiente para curvar o tórax–, tão logo se acerca
de uma roda de amigos, ou melhor, de gente com paciência para aturá-lo, ele
passa a ensejar conversas maçônicas desnecessárias, fazer alarde de sua
condição de maçom e de ser membro de uma poderosa “gangue”, com o único
propósito de colocar-se acima deles. Quando, porém, um profano lhe dirige
algumas perguntas a respeito de nossa instituição, movido por uma sadia e
natural curiosidade, ele responde geralmente o que não sabe, fitando-o de cima
para baixo, com desprezo, como se estivesse encastelado sobre um pedestal de
ouro.
Como o
caracol, este tipo de maçom costuma deixar um rastro visível e brilhante por
onde trafega, tornando muito fácil a identificação sua e do seu paradeiro, que
é o que ele efetivamente deseja, embora afirme o contrário. Mas, para a sua
infelicidade, pouca gente dá importância aos seus recados vaidosos. O
automóvel, o lar e o local onde trabalha correspondem ao exoesqueleto deste
animal, ao passo que os adereços e os objetos maçônicos que ele usa e espalha
por todos os lados à gosma que libera. Impulsos provenientes de regiões
recônditas do cérebro onde se alojam o seu complexo de inferioridade e a sua
baixa autoestima dizem a ele onde derramá-la.
Do mesmo
modo que prostitui nossa instituição, transformando-a em templo da vaidade, ele
corrompe também a natureza de muitos objetos inanimados, desvirtuando os
propósitos para os quais foram concebidos. Os vidros do automóvel não servem
para proteger os passageiros do vento e da chuva, mas para ostentar adesivos
maçônicos escandalosos que avisam os transeuntes e os motoristas dos carros que
estão na retaguarda que “alguém muito importante” maneja o volante. As paredes
da sua casa não servem como divisórias, mas de outdoors para a colagem de diplomas
maçônicos que levam o seu nome. O isqueiro ele usa para tentar acender um
cigarro que talvez nem fume ou sabendo que ele não funciona mais (o importante
é as pessoas notarem o compasso e o esquadro colados nele!). A caneta com
compasso encravado na tampa ele usa para mostrar que é maçom àquele que está
perto do papel no qual finge estar escrevendo alguma coisa. O relógio da sala
não serve para mostrar a hora certa, mas para dizer aos visitantes que o seu
dono é maçom. As estantes da sala não servem para acomodar bons livros, mas
para armazenar troféus, medalhas, placas comemorativas, mimos e tudo o mais que
avise que há um maçom por ali. O mesmo vale para pratos, talheres, lenços,
gravatas, bonés, bolsas, bonecos, malas, bengalas e, pasmem, até revólveres e
espingardas! (ver fotos) Enfim, qualquer objeto que possa lhe servir de
propaganda ele o corrompe.
d)
Prejuízos
O Maçom
arrogante sabe muito bem que é um desqualificado moral, que carece das virtudes
necessárias para dirigir homens de caráter, mas mesmo assim quer assumir o
cargo de Venerável e nele perpetuar-se por tempo indeterminado, se possível.
Insolente, julga-se o único com aptidão para empunhar o malhete, menoscabando a
capacidade dos demais irmãos. Sempre que pode procura manobrar as eleições para
que os cargos em loja sejam preenchidos por integrantes de sua medíocre
camarilha, que, uma vez empossada, vai aprovar seus atos malsãos e alimentar a
sua vaidade. Dessa maneira ele trava as rodas da loja, impedindo-a de
progredir, de desfraldar as suas velas.
Nosso
personagem costuma mais faltar do que comparecer às reuniões, como já foi dito.
Quando o faz, é quase sempre para tentar colocar-se em destaque, humilhar
alguém, violar regulamentos, e fazer prevalecer os seus caprichos pessoais. É
claro que ele não age só, pois se assim fosse a sua eliminação seria fácil e
sumária. Ele conta com o respaldo de pequenos grupelhos de gente sórdida e
submissa, que aprova suas ações, que corrompe e deixa-se corromper. Às vezes
conta até com a cumplicidade dissimulada de alguns delegados, que, por motivos
políticos ou de ordem pessoal, fazem vista grossa aos seus insidiosos manejos e
prevaricam no que constitui uma das mais importantes missões dentro da
Maçonaria.
Terminado o
período de sua administração como Venerável, este impostor passa a meter o
nariz em assuntos que não mais lhe dizem respeito, usurpando funções de outros
irmãos da loja, incluindo as do seu sucessor. Quer mandar mais do que os
outros, quer ser o dono da loja; quer admitir candidatos sem escrutínio para
engrossar a sua camarilha; quer manobrar a todos e violar leis; expõe os
Aprendizes e Companheiros a constantes querelas com outros Mestres, quase
sempre motivadas pela vaidade e pela sede de poder.
Especialista
em apontar erros nos outros, o maçom arrogante jamais admite um seu. Quando,
porém, as circunstâncias tornam isso impossível, ele o faz rangendo os dentes e
disparando setas em todas as direções, muitas vezes ferindo os poucos irmãos
que o querem bem. Além de tudo é um indivíduo vingativo. Caso sofra uma
contrariedade qualquer, ou veja descartada uma irracional conjectura sua, ele
passa a fomentar intrigas e provocar cismas na loja. Aquele que for investigar
as causas que levaram uma determinada oficina a abater colunas notará em seus
escombros a marca indelével da sua mão, que muitas vezes deixa impressa com
orgulho!
Elemento
altamente desestabilizador e perigoso, o maçom vaidoso é o principal
responsável pelo enfraquecimento das colunas de uma loja, pela fuga em massa de
bons irmãos, e pela decadência da Maçonaria de uma forma geral. Quanto maior
for o seu número agindo no corpo da Maçonaria, mais fraca, enferma e suscetível
à contração de outros males ela se torna, mais exposta a escândalos e prejuízos
ela fica. Sua eliminação é, portanto, condição si ne qua nom para a conservação
da saúde da nossa Sublime Instituição.
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