Desafios que a Maçonaria deve vencer
Fábio
Cyrino, M.I. 33° REAA
Harmonia e
Concórdia 3522
Oriente de
São Paulo (SP) – Grande Oriente do Brasil/ GOSP
Ao longo de
sua história, a Maçonaria, não aquela das lendas e tradições românticas, de
tempos imemoriais, das guildas de ofício que pretendiam manter uma reserva
intelectual de mercado, mas sim a Maçonaria como Instituição, fruto de um
momento social iluminista originada ao longo do final do século 17 e início do
18, sempre enfrentou oposição do chamado “mundo profano”, principalmente por
seu caráter sigiloso, reservado, secreto até.
Nestes quase
300 anos de existência oficial a ser completada em 2017, a Maçonaria se deparou
com fortes movimentos que pretenderam controlá-la e até mesmo suprimi-la, com a
eliminação de suas estruturas, a prisão e mesmo a condenação à morte de seus
integrantes. Desde a emissão da Bula In Eminenti Apostolatus Specula, por parte
do papa Clemente XII, em 28 de abril de 1738, uma das primeiras tentativas de
sua supressão, até os fortes ataques sofridos ao longo do século 20 por nações
totalitárias, de caráter fascista, mesmo assim a Maçonaria sempre representou
ao mesmo tempo um farol de conquistas sociais de Liberdade e Igualdade entre os
Homens e uma ameaça aqueles que pretendiam a perpetuação de um status quo
baseado no controle do Estado e da Sociedade por poucos, uma elite perversa que
visava ao controle do conhecimento, aos meios de produção, às liberdades
individuais.
Nestes
últimos 300 anos, em suas fileiras, a Maçonaria abrigou líderes políticos,
libertadores, intelectuais, filósofos, cientistas e artistas: de Saint-Martin e
Washington; de Voltaire a Franklin; de Mozart e Puccini a Montaigne e Fleming.
A Maçonaria sofreu e sobreviveu, sempre permanecendo imune aos ataques externos
e internos à sua estrutura globalizada, em uma época em que o termo ainda nem
sequer havia sido cunhado.
Nestes 300
anos, lutou-se pela Liberdade social, pelo acesso universal à instrução, pelo
direito de acesso aos meios de produção, pela liberdade política, pela defesa
dos Estados laicos e pela comunhão entre os povos. Lutou-se pelo fim do
Absolutismo; pelo fim da Escravidão; pela eliminação das oligarquias na
sociedade; pela eliminação do totalitarismo de Hitler, de Mussolini e de
Franco, exemplos de Estados onde a Maçonaria foi perseguida e praticamente
eliminada, com a morte de aproximadamente 400.000 maçons em campos de
extermínio, conforme os registros oficiais apontam; lutou-se pelo fim da
Ditadura do Proletariado nas quatro décadas após o término da Segunda Guerra
Mundial e tem se lutado ainda pela supressão das injustiças sociais e
econômicas.
Agora nestas
primeiras décadas do século 21, a Maçonaria, de uma maneira geral, enfrenta um
inimigo maior que todos aqueles que já a confrontaram: a indiferença. A
indiferença por parte de seus integrantes de que não há mais batalhas a serem
vencidas; a indiferença e a acomodação por parte de seus integrantes de que as
grandes causas se resumem a encontros sociais e a discursos vazios
desassociados da realidade prática de um mundo em transformação, um mundo que
exige respostas rápidas para questões cada vez mais complexas; a indiferença
por parte de seus integrantes com relação aos equívocos internos e à luta
insana por um poder sem poder algum; a indiferença diante de grupos que
simplesmente se esquecem dos compromissos assumidos no instante de suas
iniciações.
Portanto, o
maior inimigo da Maçonaria não está somente no crescimento de movimentos
antimaçônicos, no crescimento de teorias de conspirações, nos ataques de grupos
extremistas que tem se infiltrado dentro da Ordem, com o intuito de se valer da
“proteção” de seus templos para fins menores e escusos. O maior inimigo da
Maçonaria está na constituição, internamente, em nossas fileiras, de grupos de
interesses particulares, na construção de uma oligarquia, de um governo de
poucos, por si só perverso, com pretensões de se perpetuar no poder da
Instituição, transformando-se numa autocracia ou mesmo numa plutocracia. O que
se tem visto de uma forma generalizada é que os interesses maiores, os interesses
sociais e culturais de grande parte da sociedade profana e maçônica, foram
deixados de lado, em troca de uma política feita para se garantir regalias
efêmeras e reuniões festivas sem significados maiores.
Mas quais
desafios a Maçonaria deve vencer?
Antes de
qualquer ação concreta, antes de se voltar à sociedade profana, a Maçonaria
deve se re-inventar, não no sentido de se criar um novo padrão de atuação, mas
sim de se retornar aos princípios defendidos e elaborados por aqueles que
“inventaram” a Instituição; uma reformulação da “ética maçônica” com vias ao
re-exame dos hábitos dos maçons e do seu caráter em geral, de modo a se evitar
o desmoronamento dos pilares de sustentação da Instituição; um re-exame das
reais necessidades da Maçonaria, principalmente com relação àqueles que
pretendem ocupar a liderança e a representação de nossa Ordem, guindando-se aos
seus maiores postos, não só o mais carismático, mas também aquele que seja mais
preparado do ponto de vista ético, intelectual e moral.
Necessitamos
de um novo padrão de comportamento, não o comportamento vigente, voltado para a
auto promoção e a perpetuação de privilégios, mas sim um novo padrão para se
vencer os desafios referentes à construção de uma sociedade profana baseada nos
princípios fundamentais defendidos pela Ordem, ou seja a formação de Homens
preparados para a diminuição das diferenças existentes entre as classes, não
somente sob a ótica econômica, mas também do ponto de vista cultural e
educacional.
O que
devemos ter em mente e plenamente consciente que a Maçonaria é a Instituição
onde o mundo deve se espelhar e não o contrário. Que os exemplos de valorização
do Homem, da História e da Cultura que sempre foram os grandes pilares da
Maçonaria iluminem o mundo de trevas profano a partir de nossas fileiras e não
o oposto, pois não podemos permitir que as trevas desse mesmo mundo obscureçam
as Colunas de nossa Instituição.
Devemos ser
vaidosos não por aquilo que pretendemos ser, mas sim, orgulhosos por toda ação
e comportamento que nos identifiquem e reconheçam como Homens preparados para
transformar o Mundo.
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