Restauração
de Templos Vivos
Charles Evaldo Boller
Sinopse: Exortação à espiritualidade; vida eterna;
restauração o templo interno e defesa dos inimigos; influência e pertencimento
ao Universo.
O maçom é sucessivamente exortado a
edificar e restaurar templos. Reconstruir templos danificados tem na Maçonaria
significado simbólico de grande profundidade filosófica. Isto porque na
reconstrução concorrem valores humanos significativos, bem mais intensos que na
sua construção. Para uma edificação ser reconstruída, esta deve possuir valor
inestimável, e são poucos os abnegados que se habilitam na empreitada de
reconstruir algo danificado e com alta probabilidade de ser destruído de novo.
Na reconstrução de templos concorrem valores como firmeza de decisão e
perseverança no objetivo para concluir a reconstrução, bem como, heroísmo no
enfrentamento de terríveis e insidiosos inimigos durante as atividades. A ordem
maçônica usa de ilustrações de reconstruções para provocar o raciocínio de
restaurações constantes de um tipo especial de templo: o homem integral.
Quando em Maçonaria se faz referência
a um templo, este designa o local de reunião dos maçons, e por extensão
simbólica, significa o "grande" Universo e o "pequeno"
Universo, aonde este último constitui a essência do próprio homem, sua força
vital, o seu corpo completo; o homem como um templo vivo. Entende-se por corpo
completo a sua constituição física e a força ativa que o mantém vivo. Este
conjunto complexo pode ser comparado a um Universo em miniatura composto de:
corpo, mente, emoção e espiritualidade. Na soma total destes elementos, o
espírito é considerado encarnado, parte do corpo físico. A reconstrução deste
tipo de templo ocorre a cada iniciação, a cada nova modificação interior, em
resultado da auto educação estimulada pela ordem maçônica. Cada pedreiro
trabalha com as ferramentas de que dispõe, em si mesmo e como resultado de seu
desenvolvimento físico, intelectual, emotivo e metafísico. O sábio percebe a
finalidade do desafio de modificar a si mesmo para o bem. O sublime e principal
propósito é levar o homem a conhecer-se intimamente, de modificar-se, de
reconstruir-se ou reorganizar-se internamente ao templo vivo que cada um é.
No diálogo, "O Banquete",
Platão (428 a. C. - 347 a. C.) afirma que enquanto na juventude prevalece a
admiração pela beleza, no adulto amadurecido descobre-se a verdadeira beleza na
espiritualidade. É na maturidade que o homem desperta e se considera parte de
um templo maior que consiste em toda a vida do "grande" Universo.
Conscientiza-se que concorre para a realização de todo o esplendor do milagre
da vida estabelecido em leis naturais espantosas, só compreendidas no
amadurecimento espiritual adulto. Entretanto, existem "adultos" que,
ao não se modificarem internamente, continuam menores de idade, dependentes da
orientação de terceiros e ainda não alcançaram idade madura. Neste caso não se
trata do período da vida compreendido entre a juventude e a velhice, ou a meia-idade,
mas o termo último de desenvolvimento humano, a fase de auto realização. É a
liberdade observada quando o homem não é culpado de sua própria menoridade, de
sua heteronomia, de deixar-se conduzir por um terceiro. Heteronomia refere-se à
deficiência onde a dependência não acontece for falta de entendimento ou
limitação fisiológica, mas da falta de coragem ou preguiça de trabalhar em seu
templo, presa de paixões desenfreadas ou vícios degradantes. Para Platão, o
adulto que venceu sua minoridade reconhece que a beleza emana de sua
característica espiritual, essencialmente quando desenvolvida por si mesmo e em
si mesmo. E isto constitui a liberdade absoluta do homem, pois quando não
padece de heteronomia, é em seu "pequeno" Universo interior, qual
templo, que o homem adulto é soberano e senhor absoluto.
Um templo maçônico é a representação
simbólica do Universo maior, composta de toda matéria animada e inanimada. É
tão incrível a matéria deste "grande" Universo que, se observada de
perto, de bem perto, ao nível atômico e subatômico, é como se toda a existência
material fosse feita com absolutamente nada de massa, de quase nada, quase que
exclusivamente de espaço vazio. As partículas são tão insignificantes e
afastadas umas das outras em espaços relativos tão grandes que, em essência,
resulta apenas espaço vazio. E é tão somente pela velocidade com que os
elétrons giram ao redor do núcleo que se manifesta a solidez da matéria. Em
essência, a matéria do Universo é feita de nada, de espaço vazio. Ser parte deste
todo e ao mesmo tempo deste nada, deste maravilhoso espetáculo da matéria
inanimada e animada pelo sopro da vida, é o que dá um importante significado
para a vida do homem. É uma distinção impar ser uma individualidade diante do
volume de matéria inanimada que existe. O homem é feito da matéria inanimada do
Universo, a qual recebeu vida de uma forma ainda incompreensível para o seu
conhecimento científico. É natural que, respeitadas as devidas proporções, se
considere o homem como um "pequeno" Universo de matéria e energias
aglutinadas e animadas por uma energia vital e sobre o qual o intelecto sem
heteronomia exerce poder e comando.
Se as estrelas e planetas exercem
influências gravitacionais de uns sobre os outros, então as partículas que
formam o templo do homem, o seu "pequeno" Universo interior, estão
sob influência energética dos outros corpúsculos semelhantes espalhados pelo
"grande" Universo. É este pertencer que dá grande significado para a
vida do homem. Seu templo faz parte indissolúvel do Universo e isto promove um
maravilhoso significado para exercer a liberdade com responsabilidade. É uma
honra e distinção impossível de esquecer o fato de ser premiado para viver com
liberdade dando conta de si mesmo no Universo.
Se destruído o corpo, ou parte dele,
ao nível da matéria e com a atual tecnologia disponível ainda é impossível ao
homem reconstruir um templo assim. Resta remendar o corpo físico e mantê-lo
funcionando mesmo que precariamente e em decadência progressiva. Para viver com
qualidade, o sábio cuida bem de sua saúde física e emocional enquanto os anos
lhe vão desgastando a maravilhosa estrutura biológica, até o instante em que a
regeneração química de suas moléculas se torna impossível e o sopro da vida o
abandona. Alguns parceiros do homem que compartilham a biosfera terrestre têm
em si a capacidade de desenvolverem novos membros que lhes foram arrancados por
acidentes ou predadores, mas ao homem esta faculdade ainda não se
disponibilizou. Já o templo interior do homem é passível de reconstrução, basta
que para isto se parta para a ação com vontade e perseverança. A capacidade de
reconstruir o templo interior, uma vez destruído, é uma capacidade que cada
homem possui em potencial. É só deixar que esta inclinação espiritual se
manifeste e se obedeça ao bom senso de seguir sempre em frente.
Simbolicamente, a ação nobre da
espada inibe a aproximação e defende do inimigo externo e subjuga e mata o
inimigo interno, enquanto a trolha, na mão do trabalhador da pedra, participa
na edificação e reedificação de templos. A trolha constrói o templo externo de
pedra, assentando as pedras, em cujo interior, ao alisar as paredes, melhora as
relações entre as pedras vivas que estão construindo e reconstruindo templos
vivos. Os maçons reúnem-se num templo de pedra que representa o Universo, local
sagrado onde cada indivíduo reconstrói seu próprio lugar sagrado, o templo de
si mesmo. É local também onde se provoca e incentiva ao seu irmão a edificar e
melhorar seu templo. Cada um atua num templo de carne que é a representação em
miniatura do Universo dentro de um templo de pedra que representa o Universo.
Os templos melhorados pelo trabalho em si mesmos agradecem ao privilégio de
vestirem ossos com carne, animados pela força ativa do espírito que exalta o dom
da vida. É pelo conjunto de todo o trabalho de construção e reconstrução,
planejado racionalmente, que o maçom declara a glória do Grande Arquiteto do
Universo,
Bibliografia:
1. CAMINO, Rizzardo da, Rito Escocês
Antigo e Aceito, Graus um ao Trinta e Três, ISBN 978-85-370-0222-3, primeira
edição, Madras Editora Ltda., 302 páginas, São Paulo, 2009;
2. CLAUSEN, Henry C., Comentários
Sobre Moral e Dogma, primeira edição, 248 páginas, Estados Unidos da América,
1974;
3. MIRANDA, Pedro Campos de, Os Caminhos
da Maçonaria, ISBN 85-7252-216-6, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha
Ltda., 160 páginas, Londrina, 2006;
4. SANSÃO, Valdemar, O Despertar para
a Vida Maçônica, ISBN 85-7252-206-9, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha
Ltda., 192 páginas, Londrina, 2005;
5. SOBRINHO, Octacílio Schüler,
Maçonaria, Introdução Aos Fundamentos Filosóficos, ISBN 85-85775-54-8, primeira
edição, Obra Juridica, 158 páginas, Florianópolis, 2000;
6. SPOLADORE, Hercule, O Homem, o
Maçom e a Ordem, ISBN 85-7252-204-2, primeira edição, Editora Maçônica a Trolha
Ltda., 194 páginas, Londrina, 2005.
Data do texto: 26/01/2010
Sinopse do autor: Charles Evaldo
Boller, engenheiro eletricista e maçom de nacionalidade brasileira. Nasceu em 4
de dezembro de 1949 em Corupá, Santa Catarina. Com 61 anos de idade.
Loja Apóstolo da Caridade 21 Grande
loja do Paraná
Local: Curitiba
Grau do Texto: Aprendiz Maçom
Área de Estudo: Espiritualidade, Filosofia, Maçonaria,
Simbologia
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