Da Biblioteca para a Fogueira
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Razões políticas, religiosas e
morais têm levado os livros à destruição desde sua origem, na Mesopotâmia,
até os dias atuais, como no saque à Biblioteca de Bagdá
Por José Castello
Livros são potencialmente
perigosos e, por isso, devem ser destruídos. A repulsiva ideia, que o
escritor italiano Umberto Eco desenvolveu, de forma impecável, em seu popular
romance O nome da rosa, de 1981, é na verdade muito antiga. Surgiu com os
próprios livros, que aparecem pela primeira vez, feitos em argila, na
Suméria, Mesopotâmia, onde é hoje o sul do Iraque. Guerras sucessivas os
destruíram - perto de 100 mil deles, estimam os historiadores. Ainda assim,
expedições arqueológicas desenterraram tabletas de argila que datam dessa
época. Desde esses tempos remotos, o livro – em suas primeiras formas,
tabletas, depois papiros, pergaminhos – está, sempre, sob ameaça.
A saga dessas agressões é relatada
em História universal da destruição dos livros, do escritor venezuelano
Fernando Báez. “Os que queimam livros acabam queimando homens”, escreveu o
poeta Heinrich Heine. A história prova que sim. Báez participou da comissão
da Unesco que, em março de 2003, visitou o Iraque depois da invasão
americana, para investigar a devastação da Biblioteca Nacional de Bagdá. Ela
sofreu dois ataques com bombas e mísseis, seguidos de dois violentos saques.
Todo o acervo desapareceu. Tabletas de argila dos sumérios, de 5.300 anos,
foram roubadas das vitrines.
“Mas a destruição da Biblioteca
Nacional não teve a repercussão mundial da pilhagem do Museu Arqueológico de
Bagdá”, Báez lamenta. Em um café da capital, a poucas quadras da biblioteca,
ele ouviu o desabafo de um professor iraquiano. “Nossa memória já não
existe.” A destruição de livros vem de muito longe. Em 1975, arqueólogos
escavaram, a 55 km a sudoeste de Alepo, na Síria, os restos de um antigo
palácio. O que encontraram? Uma biblioteca enterrada, com um acervo de 15 mil
tabletas. A destruição foi conseqüência de um ataque militar inimigo, a
respeito do qual os historiadores, ainda hoje, se encontram divididos; uns o
atribuem ao rei acadiano Naramsin, outros ao rei Sargão. Três mil anos antes
de Cristo, livros já eram dizimados pela guerra.
A devastação continuou, por volta
de 2000 a.C., em uma região governada pelo rei Hamurabi, que é, hoje, o sul
de Bagdá. Em 689 a.C., as tropas de Senaquerib arrasaram a Babiblônia. Seu
neto, o soberano assírio Assurbanipal, o primeiro grande colecionador de livros
do mundo antigo, fundou, em Ninive, outra esplêndida biblioteca, arrasada ela
também décadas depois. De seus restos, no século XIX, arqueólogos
desencavaram mais de 20 mil tabletas, hoje guardadas no Museu Britânico. No
início do século XX, arqueólogos desenterraram na antiga Hattusa, a capital
dos hititas, mais de 10 mil tabletas escritas, em pelo menos oito línguas
diferentes. Também a biblioteca do Ramesseum, o templo que Ramsés II
construiu em Tebas para lhe servir de túmulo, desapareceu com seus rolos de
papiros esotéricos.
Depois de Ramsés II, o faraó
monoteísta Akhnatón mandou queimar milhares de papiros, porque eles falavam
de espectros e demiurgos. A destruição de livros continuou na Grécia Antiga.
Estima-se que 75de toda a literatura, filosofia e ciência antiga se perderam.
Das 120 obras incluídas no catálogo de Sófocles, hoje só temos a versão
integral de sete, e um monte de fragmentos. “O horror é ainda maior”, lembra
Báez. “Todos os pré-socráticos e todos os sofistas estão em fragmentos.” É a
história em pedaços. Um dos momentos mais brutais foi o da destruição da
Biblioteca de Alexandria, com um acervo que se aproximava do milhão de
livros. Durante a metade de um ano, papiros contendo textos de Hesíodo,
Platão, Górgias e Safo, entre tantos outros autores, foram usados para
acender o fogo dos banhos públicos da cidade.
Centenas de obras da biblioteca de
Aristóteles desapareceram quando da morte repentina de Alexandre Magno, de
quem ele foi tutor. O fato mais grave é a perda do segundo livro de sua
Poética, dedicado ao estudo da comédia. Em O nome da rosa, Umberto Eco propõe
a versão de que ele foi destruído progressivamente pela Igreja Católica, para
conter a influência do humor. Báez suspeita que a Poética tenha sido, na
verdade, destruída pelo desleixo. Um dos momentos maiores da história de
Israel é a destruição das Tábuas da Lei. O Êxodo diz que foi o próprio Moisés
quem, em um acesso de cólera, as destruiu. A descoberta, em 1947, por jovens
beduínos, dos célebres Manuscritos do Mar Morto, revelou a primeira coleção
conhecida de livros do Antigo Testamento.
Até hoje eles provocam a polêmica,
o que leva Báez a concluir que “os teólogos não parecem preparados para
admitir a existência de Cristo para além da fé”. Um Cristo nos livros. A
perseguição religiosa é universal. Na China, houve a caça aos textos
budistas. Em 1900, em grutas em meio ao deserto de Gobi, foram encontrados
milhares de textos sagrados do budismo, muitos em bom estado, mas outros em
fragmentos, que lá estiveram adormecidos ao longo de 1500 anos. São Paulo
lutou contra o que considerava “livros mágicos”. Em uma visita a Éfeso, levou
os magos da cidade a queimarem voluntariamente seus livros, para que não
caíssem nas mãos dos cristãos. “O desaparecimento dos escritos dos gnósticos,
causado, em grande parte, pela feroz perseguição da Igreja Católica, merece
um livro só para si”, Báez comenta.
Vínculo mais direto com a cultura
grega clássica, o Império Bizantino preservou os escritos de Platão,
Aristóteles, Heródoto e Arquimedes. Lá, nos século II e III, surgiu um novo
formato de livro, o códice, mais resistente, feito de pele de cabra, ou de
ovelha. Ainda assim, em 1204, quando a Quarta Cruzada chegou a
Constantinopla, milhares de manuscritos foram destroçados. O feroz ataque das
tropas turcas em 1453 também levou à destruição de milhares de livros. “Houve
um momento em que todo o continente europeu ficou literalmente sem
bibliotecas”, Báez recorda. Nos séculos V e VI, copiar e ler eram atividades
pouco usuais, quase secretas. Se os clássicos gregos sobreviveram em
Bizâncio, os clássicos latinos e celtas foram salvos, em grande parte, pelos
monges da Irlanda.
Foi Carlos Magno, o rei dos
francos, quem, no século VIII, estimulou os bispos a fundar escolas e
bibliotecas. Nada disso conteve a destruição. Abelardo – que foi castrado por
seu amor proibido por Heloisa – teve a obra queimada pelo papa Inocêncio III.
Dante viu o seu Sobre a monarquia virar um monte de cinzas na Lombardia, em
1318. Savonarola queimou também os livros de Dante, mas, um ano depois, a
Igreja lançou no fogo todos os seus escritos, sermões, ensaios e panfletos.
Um dos momentos mais célebres da história da destruição dos livros envolve a
Bíblia de Gutenberg, concluída em 1455.
Dos 180 exemplares impressos, só
restam 48 cópias. O descaso a destruiu, mas o próprio Gutenberg, segundo algumas
fontes, arruinou alguns exemplares, na esperança de lhes aprimorar a beleza.
O horror se disseminou com a perseguição promovida pelo Santo Ofício. Com a
excomunhão de Martim Lutero, em 1520, a difusão de seus escritos foi proibida
pela Igreja. Em 1542, o papa Paulo III constituiu a Congregação da
Inquisição. Seu sucessor, Paulo IV, criou o temido Index, lista de livros
proibidos. Na Espanha, a ascensão de Felipe II fortaleceu a censura católica.
Também na França, Carlos IX passou a destruir, pelo fogo, livros perigosos. A
perseguição a astrólogos, alquimistas e poetas atingiu o profeta Nostradamus.
Seu livro mais importante, as Centúrias, de 1555, “tem sido sistematicamente
destruído desde seu aparecimento”, lembra Báez. Da primeira edição, só restam
hoje dois exemplares.
A guerra sempre foi inimiga dos
livros. No século XV, uma guerra civil no Japão acabou com todas as
bibliotecas de Kioto. Em 1527, o exército de Carlo V, ao conquistar Roma,
destruiu muitas bibliotecas. Na Guerra de Secessão dos Estados Unidos, muitos
livros desapareceram. Quando tomaram o Canadá em 1813, os soldados americanos
queimaram a Biblioteca Legislativa. Como vingança, os ingleses queimaram a
Biblioteca do Congresso Americano. A destruição de livros é, em grande parte,
fruto da hostilidade contra o pensamento. “A França foi o berço da liberdade
européia porque também foi o berço da censura”, lembra Báez. As Cartas
filosóficas, de Voltaire, provocaram a ira da Igreja; Voltaire foi preso e
seu livro queimado.
Do mesmo modo, a publicação da
Enciclopédia, em 1759, provocou tanto escândalo que o próprio editor, Le
Breton, temendo as retaliações, destruiu vários exemplares. Também os
Pensamentos filosóficos, de Diderot, foram incinerados por ordem do
Parlamento. Na Revolução Francesa, a lei do terror estimulou o ataque a
bibliotecas. Só em Paris, mais de 8 mil livros foram queimados. Também
durante a Comuna de Paris, em 1871, bibliotecas foram destruídas. A
emancipação da América Latina também foi marcada por saques e destruições. Na
Venezuela, o Santo Ofício mandou queimar uma coleção que Simon Bolívar
conseguiu reunir para o acervo de uma biblioteca pública. Durante a Guerra
Civil Espanhola, a Biblioteca Nacional, em Madri, foi bombardeada. “Somente
graças à abnegação dos bibliotecários, centenas de livros e manuscritos se
salvaram”, observa Báez.
Com a chegada de Franco ao poder,
iniciou-se um movimento de “depuração” das bibliotecas, perseguindo “idéias
que possam resultar nocivas à sociedade”, de acordo com um decreto oficial. A
ascensão dos nazistas gerou um verdadeiro “bibliocausto”, Báez define. Ao ser
designado chanceler em 1933, Hitler, que era um pintor frustrado, iniciou uma
feroz perseguição à cultura. Leitor voraz, ele, ao morrer, num exemplar dos
ensaios de Ernst Schertel, deixou uma frase sublinhada: “Quem não carrega
dentro de si as sementes do demoníaco nunca fará nascer um novo mundo”. A
expansão soviética destruiu muitas bibliotecas. Em 1944, dezenas delas foram
arrasadas em Budapeste, na Hungria. No ano seguinte, na Romênia, trezentos
mil livros desapareceram.
Também quando o regime do Khmer
Vermelho triunfou no Camboja, em 1975, um estranho letreiro foi dependurado
na porta da Biblioteca Nacional: “Não há livros. O governo do povo triunfou”.
Mas a destruição não tem ideologia. Quando subiu ao poder, no Chile, o
ditador Augusto Pinochet atacou a sede da Editora Quimantú, destroçando
milhares de livros. A Revolução Cultural chinesa, Báez acrescenta, foi uma
máquina de destruir livros. Na Universidade de Pequim, todos os livros considerados
ofensivos à consciência do povo eram queimados. Mais tarde, o escritor Pa Kin
assim descreveu o clima de histeria que dominou o país e pelo qual ele mesmo
se deixou arrastar: “Destruí livros que armazenei durante anos. (...) Eu
negava completamente a mim mesmo”.
Em todo o planeta, a destruição se
alastrou. No dia 30 de agosto de 1980, a mando da ditadura a Argentina,
vários caminhões descarregaram 1,5 milhão de volumes em um terreno
abandonado. Eles foram borrifados com gasolina e queimados. Mais recentemente,
os talibãs destruíram na capital Cabul todos os livros contrários à sua fé.
No conflito entre judeus e palestinos, milhares de livros, de ambos os lados,
já foram perdidos. Em Cuba, em dezembro de 1999, em um estacionamento de uma
colina de Havana, centenas de livros doados pelo governo espanhol foram
destruídos. O motivo: entre eles, havia 8 mil exemplares da Declaração dos
Direitos Humanos.
Em março de 1997, os
bibliotecários da Escola Hertford mandaram destruir 30 mil livros sobre temas
homossexuais, que haviam sido doados. Durante oito horas de trabalho, 35
voluntários enterraram os livros. Mas não é só o conservadorismo que promove
queima de livros, o pensamento progressista também. Em 1998, na Virginia
Ocidental, um grupo chamado Coletivo de Mulheres queimou, em uma imensa
fogueira, livros considerados degradantes à condição feminina, entre eles
obras de Schopenhauer. No ano de 1994, as tropas russas entraram na Chechênia
e arrasaram Grosny. O bombardeio sobre a cidade destruiu uma coleção de dois
milhões e setecentos mil livros. Salvaram-se apenas 20 mil livros, guardados
nos subterrâneos de um estádio de futebol. Calcula-se que em toda a Chechênia
mais de mil bibliotecas e mais de 11 milhões de livros foram dizimados. As
ameaças mais atrozes vêm, hoje, do terrorismo.
Recentemente, grupos diversos já
manifestaram a intenção de destruir a Biblioteca do Congresso americano e a
Biblioteca do Vaticano. O ataque ao World Trade Center, em Nova York,
aniquilou arquivos e bibliotecas de economia. Mas, com a criação dos
livros-bomba, os livros se tornaram, eles também, efetivamente perigosos. Em
dezembro de 2003, Romano Prodi, presidente da Comissão Européia, quase morreu
quando abriu um livro-bomba recheado de pólvora. Ainda assim, consola-se Báez,
a cada livro destruído, mais aumenta o nosso horror. “Cada livro queimado
ilumina o mundo”, sintetizou Ralph W. Emerson. Essa constatação não recupera
as bibliotecas perdidas, mas acalenta a esperança de um futuro melhor.
Escritores perseguidos no Brasil e
no exterior
Todos conhecem o caso do escritor
anglo-indiano Salman Rushdie, autor do famoso – e perseguido – Os versos
satânicos. Em 1989, o líder iraniano, aiatolá Khomeini, condenou Rushdie com
uma fatwa. Ofereceu-se um milhão de dólares a quem o matasse. Seus livros
passaram a ser queimados em diversos pontos do planeta. A literatura sempre
foi alvo de perseguição. Em 1912, o impressor irlandês John Falconer queimou
999 dos mil exemplares da primeira edição de Dublinenses, de James Joyce, porque
a linguagem forte dos relatos não o agradou. O mais famoso romance de D. H.
Lawrence, O amante de lady Chatterley, teve a primeira edição inteiramente
destruída. A acusação de pornografia levou o Departamento de Estado americano
a queimar livros do psicanalista Wilhelm Reich.
A primeira edição de A cidade e os
cachorros, do escritor peruano Mario Vargas Llosa, de 1962, não só foi
confiscada pelos militares, mas totalmente queimada. Não é preciso longe.
Báez recorda também que Getúlio Vargas mandou queimar 1700 exemplares de Dona
Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado. Muitas vezes, no entanto, são os
próprios escritores que perseguem seus livros. É célebre a história do tcheco
Franz Kafka que, antes de morrer, pediu ao amigo, Max Brod, que queimasse
seus manuscritos. Brod o desobedeceu. Ao morrer, também o filósofo romeno E.
M. Cioran deixou 34 cadernos de mil páginas com uma indicação precisa: “Destruir”.
Sarcástico, Borges lembrou, um dia, que, quando um escritor quer dar sumiço
em seus livros, faz o serviço pessoalmente.
Quando se refugiou em Charleville,
o poeta Arthur Rimbaud, por exemplo, queimou ele mesmo muitos de seus
manuscritos. Até Platão queimou livros, Báez nos lembra. Na juventude, quando
conheceu Sócrates, Platão destruiu todos os seus poemas. Muito mais tarde,
queimou os tratados do filósofo Demócrito para esconder semelhanças entre as
idéias do inimigo e as suas. “É possível que Platão queimasse obras? Pois
bem, ele queimou”, Báez afirma, perplexo com sua própria afirmação. Ele
recorda ainda que, em 1910, os futuristas escreveram um manifesto em que
pregavam o fim de todas as bibliotecas. Um escritor genial como Vladimir
Nabokov queimou um exemplar do Quixote em pleno Memorial Hall, diante de
seiscentos alunos, com o argumento de que o livro não prestava.
E Martin Heidegger entregou livros
de seu maior inimigo, o filósofo Edmund Husserl, para que estudantes de
filosofia os levassem ao fogo. E os amigos? Quando Gustave Flaubert leu para
amigos, pela primeira vez, seu estranho As tentações de Santo Antão, eles
sugeriram que ele o queimasse imediatamente e o esquecesse. Por sorte, dessa
vez foi Flaubert quem não os atendeu. Em Crônica pessoal, Joseph Conrad conta
que seu próprio pai queimou alguns de seus manuscritos. Isaac Newton dedicou
sua vida a censurar e perseguir os trabalhos do astrônomo John Flamsteed.
Newton plagiou as idéias de Flamsteed sobre as estrelas – e depois, temendo
ser descoberto, conseguiu o confisco dos trezentos exemplares de livro que
continha esse plágio e os queimou.
A busca da pureza e a luta contra
a imoralidade têm sido fortes argumentos para a destruição de livros. Em
1749, Fanny Hill, romance de John Cleland, que relata as aventuras de uma
prostituta, foi proibido antes de ser editado. Já no século XX, a corte de
Westminster, na Inglaterra, decretou a eliminação de todos os exemplares do
Satyricon, de Petrônio, obra-prima da literatura latina, porque o livro trata
da liberdade sexual. No século XIX, a grande obra de Charles Darwin, A origem
das espécies, de 1859, teve muitos de seus exemplares queimados. Até hoje,
nas regiões mais conservadoras dos Estados Unidos, o livro é perseguido como
perigoso.
Livros censurados
DA MONARQUIA Dante Alighieri
CENTÚRIAS Michel Nostradamus
CARTAS FILOSÓFICAS Voltaire
PENSAMENTOS FILOSÓFICOS Denis
Diderot
OS VERSOS SATÂNICOS Salman Rushdie
DUBLINENSES James Joyce
O AMANTE DE LADY CHATTERLEY D. H.
Lawrence
A CIDADE E OS CACHORROS Mario
Vargas Llosa
DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS
Jorge Amado
SATYRICON Petrônio
A ORIGEM DAS ESPÉCIES Charles
Darwin
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