Fundador do Sistema de Grandes Lojas do Brasil(CMSB)
Entendemos que nunca devemos negar os justos
aplausos aos que, conscientes da verdade dos fatos e do direito, dispõem-se a
colocar sobre os próprios ombros, o julgamento da história.
Já temos aprendido, sobejamente, que errar é
humano; permanecer no erro é obstinação.
Os adversários do nosso Ilustre Irmão MÁRIO
BEHRING, costumam apontar-lhe erros e omissões com o fim
precípuo de desmerecer o seu caráter ou ofuscar o brilho de suas ideias e o
ímpeto de sua coragem.
Certamente, não é fácil lutar contra os
"poderosos", mas não é difícil, estamos convencidos, usar o bom senso
para bem esclarecer os que na defesa dos próprios interesses ou de grupos,
preferem perpetuar-se desfilando, propositadamente, nos caminhos perigosos da
incerteza e da insegurança.
MÁRIO MARINHO DE CARVALHO BEHRING,
mineiro de nascimento, nascido aos 27 dias do mês de janeiro do ano de 1876,
isto é, a pouco mais de um século, no alvorecer de sua maioridade, isto é, aos 22
anos, transpôs o pórtico da Loja Maçônica "UNIÃO COSMOPOLITA", lá
mesmo em Minas Gerais, onde, mais tarde, sem muito se demorar, veio a empunhar
o Primeiro Malhete de sua Oficina.
Ponderado em suas palavras, porém desassombrado em
suas atitudes MÁRIO BEHRING, conforme a filosofia dos seus tempos, logo iniciou
uma luta sem quartel em favor da liberdade de pensamento e contra os
radicalismos de todas as espécies, principalmente, o religioso.
No início do século passado, ou seja, em 1901,
transferiu-se para a cidade do Rio de Janeiro, então capital da República, onde
pelo seu comprovado gosto pelos estudos sobre os assuntos Maçônicos, veio a ser
nomeado Membro da Comissão de Redação do Boletim Oficial do Grande Oriente do
Brasil, então única Potência Maçônicas existente no Brasil, originário da Loja
"Comércio e Artes" que, subdividindo-se em três, isto é , da mesma
"Comércio e Artes", "União e Tranquilidade" e
"Esperança de Niterói", fundou o GOB em 17 de Junho de 1822, conforme
consta de seus registros.
É bem de ver que, tão logo MÁRIO BEHRING começou a
comparar os resultados dos seus estudos sobre a ORDEM com as estruturas do GOB,
passou a querer influenciar na reformulação dos procedimentos do mesmo,
principalmente, quando renunciou a sua eleição, em 1903 para Membro efetivo do
Gr:. Capítulo do Rito Francês ou Moderno, numa irrecusável demonstração aos
menos avisados de que, embora combatesse, febrilmente, o sectarismo e
intolerância religiosas, cultivava a sua crença no G.A.D.U. e na imortalidade
da alma, postulados não aceitos pelo referido Rito, apesar de nele haver
inicialmente orientado os seus primeiros passos.
Continuou MÁRIO BEHRING Membro da Comissão de
Redação do Boletim Oficial desde 1902 até 1905, tendo sido eleito em 1906,
Grande Secretário Adjunto, quando, mais uma vez, usando de seus conhecimentos,
elaborou, em 1907, o projeto da Constituição do GOB que pela conotação
liberalista emprestado aos seus dispositivos, tenderia, fatalmente, à
regularidade, não somente de suas origens, mas, sobretudo, dos seus trabalhos,
não fosse o desvirtuamento que lhe deu uma Comissão de 18 Membros encarregados
de sua redação final, para proteger os interesses contrariados pelo trabalho de
MÁRIO BEHRING.
Apesar de toda sua luta e influência, MÁRIO
BEHRING não conseguiu ver vitoriosos os seus pontos de vista que, em última
análise, era uma tomada de posição em consonância com o desenvolvimento da
Maçonaria Universal.
Mais esclarecido na investigação da verdade e
desejando prosseguir, sob os eflúvios do G.A.D.U., no seu empreendimento, MÁRIO
BEHRING aceitou a sua eleição, em 1907 para Membro Efetivo do então Supremo
Conselho do Grau 33 para os Estados Unidos do Brasil de onde poderia melhor
combater os desmandos a que era submetida a nossa Ordem no Brasil, pelos excessos
de poder e apaixonada vaidade dos que se aproveitavam da Ordem ao seu
bel-prazer, ainda que esse comportamento pudesse redundar em prejuízo para os
verdadeiros objetivos de nossa Instituição.
Sem dúvida, entre os que se opuseram às ideias de
MÁRIO BEHRING encontravam-se homens que, apenas por erro de observação ou
possível desconhecimento da universal regularidade então buscada, permaneceram
na arraigada defesa das suas posições.
Todavia, pelo entusiasmo de suas palavras e pela
seriedade de seus propósitos, MÁRIO BEHRING começava a encontrar apoio dos que
viam nele um líder eficiente e capaz de tomar uma posição em favor da
regularidade da nossa ORDEM no Brasil, ainda que isso lhe custasse,
presumivelmente, muito suor e muitas lágrimas.
A interinidade do seu Grão-Mestrado de 10/08/20 a
19/11/20 e de 25/12/20 e 22/04/21, valeu-lhe a experiência da efetividade do
seu mandato no período de 28/06/22 a 13/07/25 vez que, lutando em todas as
frentes, por nossa regularidade, inclusive junta ao Congresso Internacional de
Lausanne, em 1921, reconhecia, com maior força de argumentos, a necessidade de
não confundir as administrações do Simbolismo com o Filosofismo.
Terminado o seu mandato de Grão-Mestre, MÁRIO
BEHRING, passou o Malhete ao seu sucessor Venâncio Neiva, o qual, procurando
coonestar o movimento encabeçado por MÁRIO BEHRING, elaborou um Tratado a ser
firmado entre os Graus Simbólicos e os Graus Filosóficos. Infelizmente, por
ter, se passado para o Oriente Eterno aquele irmão não pode firmá-lo, cabendo
ao seu sucessor Fonseca Hermes, a responsabilidade de fazê-lo.
Dava-se ao Tratado a significação de vida não
dependente, porém, harmônica entre as duas administrações.
Isso, entretanto, não vingou por muito tempo, eis
que forças e interesses se levantaram a ponto de levar o Grão-Mestre Fonseca
Hermes à renúncia, instalando-se em seu lugar Octavio Kelly, o qual,
desrespeitando todo esforço anteriormente feito e a legislação Maçônica
Internacional, passou a exercer, de modo hostil, os cargos de Grão-Mestre e
Soberano Grande Comendador, mesmo não tendo sido eleito para este último cargo.
Com essa atitude o Grão-Mestre Octavio Kelly
proclamando-se, também, Soberano Grande Comendador, rompeu o Tratado assinado
em outubro de 1926 e deu lugar a que MÁRIO BEHRING, em 20/06/27, vendo-se
espoliado na legitimidade e regularidade do seu cargo, e, sentindo a
responsabilidade dos compromissos assumidos no exterior, uma vez que somente
avocando o DEC, de 01/06/21, que dava ao Supremo Conselho do Brasil,
personalidade jurídica distinta do GOB é que foi admitido no Congresso de
Lausanne e confiando nos que haviam de defender, a qualquer custo, os
postulados que ensejaram o reconhecimento da Maçonaria Brasileira entre seus
Irmãos do Universo, retirou-se do
Grande Oriente do Brasil e estimulou a fundação das Grandes Lojas Brasileiras.
MÁRIO BEHRING era um engenheiro e não um advogado
como muitos pensam ter sido, pelo ardor de sua luta e pela firmeza dos seus
argumentos diante dos mais renomados jurisconsultos seus opositores. O seu desmedido
interesse pela leitura dos assuntos maçônicos e o desejo de projetar a nossa
ORDEM no concerto Universal, impulsionaram-no a fundar as Grandes Lojas
Brasileiras há 80 anos passados.
Sem embargo, podemos afirmar com SALVADOR MOSCOSO,
em seu trabalho publicado na Revista "ASTRÉA" de dezembro de 1966;
"o homem maçom que volver os OLHOS para a história e a experiência de
Mário Behring, não escreveria um livro, mas faria um exame de
consciência".
Mário
Behring, quis legar os vindouros, através de páginas expressivas na história
Maçônica Brasileira, algo da própria respiração, fazendo dele documento animado
de personalidade. Foi tão fiel o retrato de suas ações que o oferecem aos seus
Irmãos como valioso presente, narração dos movimentos avulsos da sua sensibilidade
nas várias emergências da vida.
Nunca
se observou o cansaço, havendo, em todos os excertos, a corajosa decisão de
quem se propôs inventariar como Maçom e por isso com serenidade, os passos das
transatas caminhadas.
O futuro há de saborear, avidamente, a sua
história porque nela se guarda o Maçom insigne que a escreveu. Nela ficará,
fielmente o retrato, e para todo o sempre, Mário Behring com aquela emoção,
educada e sutil, de quem sempre desprezou as falsas pompas.
Aí
estão, em rápidas pinceladas sem retoques, alguns traços da marcante e exemplar
personalidade do Paladino da Regularidade Maçônica Brasileira que, ao seu
tempo, soube honrar os juramentos feitos e os compromissos assumidos perante o
G.A.D.U., e a sua consciência. MÁRIO BEHRING soube respeitar a dignidade dos
seus semelhantes, sem ostentação ou falsa modéstia.
Em
14 de Junho de 1933 quando viajou para o Oriente Eterno, deixou-nos, tal qual
um vigoroso cometa, um rastro de intensa claridade a nos guiar pelos caminhos
do equilíbrio, da moral e da razão.
Transcrito
de Nós e a X Conferência da CMI.
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