A Coroa
Charles Evaldo Boller
Quando o maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito
passa ao grau de mestre, todos os seus irmãos, independente de grau,
identificam-no por um sinal visível externo; é um chapéu, que simbolicamente
representa uma coroa.
Esta coroa une o que está debaixo dela, o homem,
com o que está acima, o divino, servindo de limite entre quem a carrega com sua
componente transcendental. É através desta coroa que o mestre maçom alcança
decisões racionais que estão muito acima da escravidão sensorial. Esta conexão
propicia capacidades que vão além do simples pensar. Se persistir, for dedicado
e estudar, este homem será capaz de desenvolver potencialidades elevadas até
então desconhecidas para ele.
A coroa do mestre maçom sobre sua cabeça é um
chapéu de feltro de abas moles e caídas, sem o qual ele não comparece em câmara
do meio. Quando em sessões de outros graus é como se esta coroa ali estivesse,
pois dentro do templo, em loja constituída, é o local onde ele desenvolve sua
capacidade de discernimento e visão equilibrada, objetivo de todo maçom que
escala a escada de Jacó. O chapéu faz de sua aparência uma pessoa eminente, um
venerável mestre, à semelhança do monge da Idade Média que dirigia construções
feitas em pedra. Por terminar em forma de domo, o chapéu afirma uma soberania
absoluta sobre si e confirma que ele continua desenvolvendo em sua caminhada de
aprendiz. Ao elevar-se acima da cabeça, o chapéu é insígnia de poder e luz,
significando conhecimento. Comparar o chapéu a uma coroa é dar a este o
significado de uma capacidade sobre-humana, transcendente. Este paramento
simboliza a obliteração do mundo material e concentra simbolicamente
capacidades na solução de problemas da humanidade, é o persistir na tarefa de
desbastar a pedra bruta.
A coroa é como uma antena que simbolicamente se
conecta a outra dimensão, uma potencialidade construída na mente. Em sendo
negro, sabe-se pelas leis da física que esta ausência de cor absorve todos os
comprimentos de onda do espectro da luz visível e invisível aos olhos
materiais. Isto permite especular que até linhas de campos de força e outras
manifestações energéticas mais sutis podem ser atraídas por esta coroa. O
chapéu do mestre maçom funciona assim qual antena que, simbolicamente, o
conecta com aquilo que lhe propicia o sopro de vida e que o faz igual a todos
os seres viventes da biosfera. Ciente de sua relação com o resto das formas de
vida, em suas mais diversas constituições e aparências, o mestre maçom se
integra com a natureza e desenvolve o amor fraterno para com os seus iguais,
para com toda a vida espalhada pelo Universo, inclusive com outras possíveis
biosferas de galáxias diversas da que abriga o Sol.
É importante estar desperto e consciente que o
chapéu do mestre maçom é apenas um paramento, um artefato material, um símbolo;
o que faz a diferença está debaixo do chapéu, a cabeça, a capacidade
intelectual do portador da coroa e o que este intelecto constrói simbolicamente
fora e acima do chapéu. Ela constitui a recompensa justa da prova que o maçom
faz ao longo da vida, por edificar templos à virtude e cavar masmorras ao
vício. Simboliza dignidade, poder, realeza, acesso a um nível de forças
superiores, sobrenaturais.
Exige-se esforço pessoal para superar, conhecer e
mandar em si próprio, pois é apenas sobre si mesmo que cada ser tem poder
absoluto, incontestável. O iluminado subjuga sua mente e corpo, e, para
progredir, bate implacavelmente nas nódoas que levam a vício e degradação.
Mesmo que sucumba diante da tentação, o simbolismo do chapéu o fará voltar para
a linha reta que conduz ao oriente, em direção à luz, ao conhecimento, à
sabedoria.
O chapéu representa o verdadeiro poder que está
dentro de si, a inclinação interna positiva, o coração que ama fraternalmente,
tudo em resultado da capacidade de pensar, afiada constantemente por leitura,
estudo e meditação. O mestre maçom tem o ministério de ensinar aprendizes,
companheiros e outros mestres maçons. Aquele mestre maçom que desta obrigação
se esquiva não é merecedor da coroa. O irmão que se desenvolveu em sapiência,
aprendeu na prática que ao ensinar outros o seu próprio conhecimento fixa-se
mais, os conceitos e princípios morais que despertam em sua mente agarram-se
mais firmemente ao coração e à memória. Na sua missão de ensinar deve constantemente
provocar, instigar, distribuir os seus pensamentos em palavras e participar de
forma proativa, conciliadora e entusiasta de todos os debates com temas com os
quais a Maçonaria, nos diversos graus, o provoca.
Debaixo do chapéu, o mestre maçom ouve atentamente
as peças de arquitetura, oratórias e discussões de temas com os quais os irmãos
se presenteiam e provocam. É o chapéu que o freia prudentemente em todas as
ocasiões em que fica ordeiramente esperando os outros irmãos falarem. É nestas
ocasiões que treina a arte de ouvir do líder. Debaixo do chapéu ele fica
concentrado, calado, ouvindo e anotando o que os outros irmãos dizem. Depois
ele analisa e absorve o que está ao seu alcance para suprir seu
autoconhecimento, monta estratégias e colabora empaticamente no tema com seu
parecer, postura e comentário. E ao auxiliar a assembleia de irmãos com a força
do seu pensamento, transmitido por sua capacidade de oratória, além de ajudar
aos outros, ele ajuda principalmente a si próprio. Servir no ensinar não é
apenas mais uma razão para torna-se merecedor do prêmio, a coroa que está sobre
sua cabeça, o símbolo do seu poder, é a principal razão dele lecionar na escola
de conhecimento da Maçonaria. Não existe magia ou mistério; é o servir e a
presença constante no grupo que lhe dá poderes que ele nunca imaginava
existirem. E este é um poder natural que ninguém usurpa.
O chapéu representa uma estrutura educacional
apoiada em três pontos: racional, emocional e espiritual; um apoia o outro,
formando um tripé. É do equilíbrio propiciado pelo que simboliza o chapéu que
desabrocha a pessoa completa. Esta educação e condicionamento elevam o portador
do chapéu à realeza dos iniciados nos diversos graus do Rito Escocês Antigo e
Aceito, onde é livre para pensar e ajudar seus irmãos através de uma razão
esclarecida. É pelo estudo diligente, pelo treinamento dos sentidos, pela
convivência constante que ele atinge o ideal, e este lhe confere realeza, da
qual o chapéu, apesar de sua aparência grosseira, é o símbolo mais expressivo.
Debaixo do chapéu é a maneira mais nobre de viver o amor fraterno, a única ação
capaz de salvar a humanidade de um existir miserável. Debaixo do chapéu aflora
a capacidade de ouvir, ensinar e treinar em loja, o que faz do mestre maçom um
líder natural.
Primeiro é importante cuidar de si, porque quem não
estiver forte, como ajudará aos outros? Quem não se ama como amará ao próximo?
Na relação com outros e consigo mesmo desenvolve a capacidade de tornar-se o
amigo sincero e serve ao irmão no que deve ser feito e não no que aquele
deseja; o contrário seria escravidão. É servindo que aflora o líder. Amor
fraterno é ação, não sentimento. O mestre maçom que desonra o chapéu e trata
seus irmãos de forma infame e autoritária, suas ações podem até estar alicerçados
na lei escrita em papel, mas ele não é um líder nato, é um tirano. O líder
natural é semelhante ao poder que tem uma mãe sobre seus filhos, ela não
precisa impor sua vontade e apenas faz o que deve ser feito para seus rebentos;
ela é o melhor exemplo do líder natural. A mãe que tem necessidade de usar do
chicote para dirigir sua casa já não tem mais capacidade de liderança natural e
exerce poder despótico. O mestre maçom que alcança este grau de entendimento e
perfeição em sua capacidade de liderança, tem no seu chapéu a representação
simbólica do poder que ele exerce sobre a comunidade.
Ele serve ao irmão não porque aquele é maçom e o
juramento o exige, mas porque ele próprio é maçom e depende igualmente dos
confrades. O chapéu representa a capacidade de liderança, é o símbolo da
autoridade que não outorga poder de comando sobre os outros, pois ele próprio
fica sujeito a obediências que lhe são impostas. O chapéu traduz a perfeita
igualdade que deve pairar entre seus pares.
Mas como falar em igualdade nos diversos graus
entre pessoas desiguais? Todos são iguais quanto à essência, por estarem
providos do mesmo sopro de vida. Na Maçonaria, quanto mais o maçom cresce, mais
ele se conscientiza que deve servir aos que estão degraus mais baixos da
simbólica escada de Jacó. É o exercício da humildade que lhe dá o devido valor,
e é transmitida pela rota, mole e disforme coroa, confeccionada a partir de um
tecido ordinário. Ela poderia muito bem ser produzida em aço e cravejada de
joias preciosas, entretanto, de que vale um bem material que pode ser subtraído
pelo ladrão ou destruído pela ferrugem? As preciosidades estão debaixo do
chapéu, na forma de pensamentos e ações, valores que ladrão algum deseja e
apenas a morte destrói.
O chapéu induz seu portador a naturalmente usar do
dever de governar de acordo com a necessidade da coletividade. O chapéu
representa que seu usuário está fortalecido e não se curva perante desmando,
futilidade ou arbitrariedade. É o chapéu que impede àquele que o usa de
transformar-se em déspota. Isto é muito bem retratado quando em sua loja o bom
mestre maçom ouve e serve aos outros. É o chapéu que inspira o propiciar dos
meios de concentrar forças para produzir os nobres e elevados anseios dos
irmãos do quadro.
Longe de exercer a autoridade emanada do chapéu de
forma cruenta, o humilde e prudente mestre maçom torna-se líder natural. Ao
obter poder servindo ao próximo, ele já é parte da realeza que representa o seu
chapéu, e isto lhe dá a distinção de participar da natureza celeste de seus
dons sobre-humanos, transcendentes. É do símbolo do chapéu, do que está debaixo
deste, que provém a ação e a capacidade de influenciar aos outros a fazerem o
que precisam fazer para se tornarem felizes. É a ação do amor em benefício da
humanidade. É a ação de construir templos à virtude. É a ação da vivência do
amor fraterno debaixo da orientação dos eflúvios provenientes da coroa, do
poder que emana do chapéu do mestre maçom servidor.
A sapiência é a busca das energias e coisas mais
elevadas; algo bem diferente de sabedoria. Enquanto a sabedoria pode ser
confundida com prudência, pois diz respeito apenas aos assuntos materiais e de
como o homem age, a sapiência é muito mais importante. A Maçonaria trabalha a
sabedoria que leva à luz da sapiência. A filosofia maçônica é sapiente. A
coluna da sabedoria é a antena simbólica de onde emana uma luz de modo que cada
um que porta um reles chapéu mole, cada um a sua maneira, desenvolve sua
sapiência para as coisas mais elevadas. O chapéu como paramento, símbolo que o
mestre maçom usa qual coroa em câmara do meio, torna-o igual aos demais,
nivelando-o a todos os irmãos maçons espalhados pelo Universo, para honra e à
glória do Grande Arquiteto do Universo, de onde todos recebem a luz da
sapiência.
Bibliografia
1. BAYARD,
Jean-Pierre, A Espiritualidade na Maçonaria, Da Ordem Iniciática Tradicional às
Obediências, tradução: Julia Vidili, ISBN 85-7374-790-0, primeira edição,
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2. BENOÎT, Pierre;
VAUX, Roland de, A Bíblia de Jerusalém, título original: La Sainte Bible,
tradução: Samuel Martins Barbosa, primeira edição, Edições Paulinas, 1663
páginas, São Paulo, 1973;
3. BOUCHER, Jules, A
Simbólica Maçônica, Segundo as Regras da Simbólica Esotérica e Tradicional,
título original: La Symbolique Maçonnique, tradução: Frederico Ozanam Pessoa de
Barros, ISBN 85-315-0625-5, primeira edição, Editora Pensamento Cultrix
limitada., 400 páginas, São Paulo, 1979;
4. FIGUEIREDO,
Joaquim Gervásio de, Dicionário de Maçonaria, Seus Mistérios, seus Ritos, sua
Filosofia, sua História, quarta edição, Editora Pensamento Cultrix limitada.,
550 páginas, São Paulo, 1989;
5. HUNTER, James C.,
O Monge e o Executivo, Uma História Sobre a Essência da Liderança, título
original: The Servant, tradução: Maria da Conceição Fornos de Magalhães, ISBN
85-7542-102-6, primeira edição, Editora Sextante, 140 páginas, Rio de Janeiro,
2004;
6. Paraná, Grande
Loja do, Ritual do Grau de Mestre Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito, primeira
edição, Grande Loja do Paraná, 66 páginas, Curitiba, 2004.
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Enviado por: "Charles
Evaldo Boller"
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