Formalismos na Maçonaria
Escrito por Nuno Raimundo
Na Maçonaria existe o costume de os seus membros se
tratarem por irmãos ou manos, uma vez que a Augusta Ordem Maçónica
é uma Irmandade de carácter fraternal.
Mas para além deste hábito, existe outro que
costuma fazer alguma confusão aos recém-chegados. É o facto de todos no seu
trato habitual se tratarem por “tu”.
Independentemente da idade, do grau ou da qualidade
maçónica (cargo que se represente em Loja ou na Obediência), todos,
mas mesmo todos, se tratam por “tu”.
Enquanto na vida profana é habitual as
pessoas tratarem-se com alguma deferência, nomeadamente tratarem-se por “você”
ou por “senhor” ou até mesmo pelo título académico que detenham, na Maçonaria
não existe esse distanciamento pessoal.
Quando se aborda um irmão, é por “tu isto…”
ou “tu aquilo…” É “tu” e prontos!
Isto por si só, é uma demonstração que aos maçons
não interessam os cargos ou as profissões que um irmão desempenhe na sua vida
profissional. Em Loja todos sãos iguais entre si. Desde o mais
desfavorecido financeiramente ao mais folgado em questões de metais,
não existe diferença no trato. Os “metais” devem ficar sempre fora de
portas do Templo.
Esta é outra das virtudes que se podem encontrar na Maçonaria a par da tolerância e do espírito fraternal.
Esta é outra das virtudes que se podem encontrar na Maçonaria a par da tolerância e do espírito fraternal.
E como entre irmãos não há lugar
para deferências ou "salamaleques", é mais salutar e
sensato o tratamento por “tu” que por outra coisa qualquer. Desse modo, aos
recém-chegados dá-se lhes a confiança necessária para se enturmarem com
os mais antigos na casa, e aos mais idosos em idade, consegue-se
que mantenham dessa forma, um espírito jovem e reverencial que a todos agrada.
Aos mais jovens é que normalmente causa algum desconforto em tratar alguém mais
velho em idade por uma forma tão simples de tratamento, mas com o tempo esse
pequeno desconforto passa e é normal que depois nem se note a diferença de
trato nem a idade do irmão com quem se interage.
Esta forma de tratamento entre
pessoas, foi dos hábitos que mais “estranheza” me causaram nos meus tempos de
neófito.
É como se costuma dizer: “primeiro estranha-se,
depois entranha-se…”
Mas em Maçonaria e em como tudo o que sejam
instituições, associações ou grupos onde
o Homem se reúna, existe sempre
uma hierarquia a respeitar, e como tal, o tratamento com
alguém hierarquicamente superior, devido às funções que lhe são
acometidas, nunca poderia ser igual à que os outros membros terão entre si. E
como afirmei acima, se na Maçonaria os seus obreiros se tratam entre si como
irmãos e no trato normal por “tu”, não deixa de ser interessante que quando se
trata de alguém com funções diretivas, esse tratamento seja enaltecido.
Apesar de quando um irmão se dirige a um irmão que
ocupe um cargo relevante na estrutura maçónica o trate na mesma por “tu”, a
diferenciação no tratamento é respeitante ao cargo e função ocupada em si e não
à pessoa em concreto. Por isso é que é habitual se ouvir falar em “Venerável
Mestre”, “Respeitável Irmão” e “Muito Respeitável Grão-Mestre” entre outros
apelidos que se conheçam e que existem, que servem apenas para diferenciar um
irmão dos restantes apenas pelas funções que lhe são atribuídas e
nada mais.
Em Maçonaria todos os cargos são transitórios, tal
como quase tudo na vida, e os maçons têm isso presente, e como tal, não adianta
ou não é necessário existir outro tratamento que não seja por “tu”, pois se
hoje desempenhamos um cargo, amanhã poderemos estar apenas a ocupar um lugar
numa das colunas. E quem hoje se encontra simplesmente numa coluna e
sem funções atribuídas, amanhã poderá ser chamado a ocupar alguma
função importante na estrutura maçónica. E este tipo de tratamento possibilita
uma transição entre colunas ou funções sem qualquer tipo de
sobressaltos.
Concluindo, se as designações dos cargos maçónicos
ou dos títulos dos graus maçónicos que existem poderem sugerir algumas vezes
que o tratamento entre irmãos possa derivar em "pantominices", essa
assumpção está bastante errada. O tratamento entre irmãos é sempre feito da
forma mais simples que se conhece, utilizando simplesmente o pronome “tu”.
E é assim que se quer que a Maçonaria funcione, de
uma forma simples e elementar.
PS: Texto publicado em
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