TEMPLÁRIOS
Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão", assim
denominaram-se originalmente os Templários, Ordem Militar fundada no ano de
1119, em Jerusalém, para proteger os peregrinos e os lugares sagrados da Terra
Santa. Os bravos guerreiros tiveram sua base afincada bem no coração do inimigo
islâmico, visto que o seu quartel-general, uma concessão do rei Balduíno II,
situava-se num prédio ao lado da Mesquita de Al-aqsa, ocupando uma parte
superior do que restara do Templo de Salomão.
Compondo uma síntese entre a sincera fé dos monges e o destemor dos soldados
de elite, consagraram-se como a mais poderosa e valente organização militar da
época das Cruzadas: a tropa de choque de Deus. Prestigio que lhes rendeu, depois
de se transferirem para a Europa, em 1291, serem os depositários fiéis dos bens
dos cristãos ricos. Justamente por isso, pela cobiça que despertaram, é que
pereceram nas mãos do rei da França em 1307.
O desastre dos
Templários
"NEKAN,
ADONAI !!! CHOL-BEGOAL!!! PAPA CLEMENTE... CAVALEIRO GUILHERME DE NOGARET... REI
FILIPE: INTIMO-OS A COMPARECER PERANTE AO TRIBUNAL DE DEUS DENTRO DE UM ANO PARA
RECEBEREM O JUSTO CASTIGO. MALDITOS! MALDITOS! TODOS MALDITOS ATÉ A DÉCIMA
TERCEIRA GERAÇÃO DE VOSSAS RAÇAS!!!"
Foram essas as derradeiras palavras que Jacques Demolay, o 22º e último
Grão-Mestre da Ordem dos Templários, proferiu antes das chamas lhe levarem a
vida. Acesa a fogueira no pelourinho nos fundos da catedral de Notre-Dame em
Paris, ele ali expiou ao anoitecer do dia 18 de março de 1314, imprecando contra
o Papa, o Guarda-selos do rei, e o próprio soberano da França. E tinha toda a
razão em lançar o anátema contra os três. Sete anos antes, um sórdido conluio
entre o rei Filipe IV, o belo, e o Papa Clemente V, tendo o fiel Nogaret como
executor, selara-lhe o destino.
Até então a ordem dos monges guerreiros de manto branco e cruz vermelha fora
um colosso militar e financeiro. Na noite do dia 12 para 13 de outubro de 1307,
as suas instalações, por todas as partes do reino, viram-se invadidas pelos
oficiais de Filipe IV. Inclusive seus edifícios em Paris, denominados Ville
Neuve du Temple.
Para
suprema infâmia dos cavaleiros aprisionados, seus últimos dirigentes, além de
terem perdido tudo, foram arrastados aos tribunais reais denunciados por
Nogaret, o jurista do rei, pelas práticas de heresia e de pederastia.
Num processo forjado, nos quais os procedimentos inquisitoriais foram
aplicados com a máxima crueldade possível, acusaram-nos de serem adoradores
pagãos do diabólico Baphomet, de cuspirem na cruz, de negarem os sacramentos e
de se entregarem a licenças sexuais uns com os outros. Arrancaram-lhes as
confissões por meio de terríveis torturas e outros tormentos, quando, em meio
aos urros de dor, com as carnes dilaceradas e queimadas pelo largo uso que os
inquisidores fizeram do strappado e do braseiro, concordaram em dizer aos seus
supliciadores o que eles queriam ouvir.
Filipe, o belo, atiçado pelas intrigas de um traidor, um ex-cavaleiro chamado
Esquiseu de Floyran, o Judas dos Templários, não se conformara em
desmantelar-lhes as instalações e confiscar-lhes os valores, quis também
desonrá-los para sempre. Por isso, acusou-os de sodomitas. Denúncia estendida a
De Monay e a outros 140 cavaleiros postos a ferros (54 deles expiram pelo fogo).
O declínio das
Cruzadas
Até poucos
anos antes da catástrofe, a Ordem dos Templários era a mais prestigiada das três
milícias de Cristo formadas ao tempo em que Jerusalém ainda se encontrava sob o
controle direto dos príncipes cristãos. Depois da expulsão deles da Terra Santa,
por ocasião da queda de São João d´Acre frente os muçulmanos, em 1291, os
Cavaleiros Hospitalários confinaram-se na ilha de Chipre, e, mais tarde, na Ilha
de Malta, enquanto que os Cavaleiros Teutônicos, de volta à Alemanha,
mobilizaram-se na conquista das terras de poloneses pagãos.Os Templários,
todavia, viram-se geograficamente mais favorecidos, pois se hospedaram em Paris,
quase no coração da Europa de então.
As sedes deles, mais numerosas na França (um total de 704 conventos e
prelazias), espalhavam-se pela Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal.
As suas propriedades totais somavam há mais de nove mil tipos diferentes.
Devendo obediência apenas ao papa, sempre ausente ou distante, na prática
usufruíam a mais completa autonomia em relação aos reinos, bispados e baronatos
que os acolhiam. Um monge templário somente obedecia ao seu superior
hierárquico: o grão-mestre ou o dom priorOs banqueiros de Cristo
Graças ao empenho deles na causa
defesa da Cristandade, ao heroísmo e coragem demonstrada em inúmeras batalhas
travadas contra o Islã, e devido a absoluta correção como se conduziam, os
prédios que aquartelavam os monges - desde que a Ordem fora fundada em
Jerusalém, em 12 de junho de 1119, por Hugo Payens e por seu companheiro
Godofredo de Saint-Omer - tornaram-se locais seguríssimos.
A pureza e a espada, conjugadas, eram as apreciadas garantias dadas pelos
Templários aos donos dos dobrões que acolhiam em depósito. Numa era de
incertezas extremas, de pilhagens e incêndios constantes motivados pelas guerras
feudais intermitentes, qualquer recinto protegido pela cruz da Ordem aparecia
como se fora um oásis. Um cofre-forte inexpugnável protegido pelo Senhor.
Era tal a confiança que despertavam que não tardou para que sus instalações
se transformassem em estabelecimentos bancários, ainda que informais, fazendo
deles, entre os séculos XII e XIII, os principais fornecedores de crédito a quem
os poderosos da época recorriam (consta que na Espanha até os chefes mouros
obtinham empréstimos junto a eles).
Não há nenhum exagero em afirmar-se que a Ordem dos Templários tornou-se, bem antes dos Médicis e dos Fuggers, o primeiro banco europeu. Assim foi que se gerou a lenda da fortuna fabulosa, mais jamais comprovada, do Tesouro dos Templários. Aumentando e solidificando ainda mais a estranheza com que eles eram vistos pela gente comum, um espesso véu de segredo parecia cobrir tudo o que dissesse respeito ao Templo e a sua gente. De fato, as cerimônias de admissão e iniciação dos monges recendiam às práticas esotéricas secretas, fato perfeitamente compreensível numa instituição militar fundada em território inimigo, como foram os primeiros anos dos Templários na época do Reino Latino de Jerusalém. Nada se sabia ou se ouvia do que ocorria no seu intramuros, pois os cavaleiros estavam presos aos perpétuos votos de segredo.
Todavia, a continuação daqueles ritos sigilosos preservados em meio aos
reinos cristãos somente fez crescer a desconfiança geral contra os monges
soldados. O que fez por tornar ainda mais plausível junto à opinião da época as
incríveis assacações que lhes foram feitas pelos esbirros de Filipe IV. Ainda
que na Itália Dante Alighieri tenha suspeitado delas, o engenhoso alquimista
maiorquino Raimundo Lullio, o "Doctor Inspiratus", creditou-as como verdadeiras.
O declínio do ímpeto cruzado
A
derrota dos cristãos frente a Saladino na batalha de Hattin, em 1187 (no final
dela 200 templários foram executados), a perda definitiva de Jerusalém, em 1244,
com a conseqüente expulsão do restante dos ocidentais da Palestina menos de 50
anos depois, abateu o ânimo das empresas cruzadas. Espírito este que já fora
profundamente abalado quando a Quarta Cruzada, ocorrida em 1204, desviando-se
totalmente dos seus objetivos, terminara por assaltar e pilhar Constantinopla, a
capital da cristandade oriental. Algo que começara em 1095 como um forte e
sincero apelo à fé, a retomada dos Lugares Santos das mãos dos infiéis, um tanto
mais de século depois desandara numa empreitada militar de traição e vilania
cometida por cavaleiros ocidentais contra os próprios cristãos.(*)
(*) O assalto dos latinos à grande cidade grego-cristã-ortodoxa selaria
para sempre o Cisma da Cristandade, pois nunca mais as Igrejas de Roma e a Grega
de Constantinopla fizeram as pazes.
A própria reciclagem da função da Ordem, de trincheira avançada dos cruzados
para banco de empréstimos, foi significativa do desencanto crescente da nobreza
e do povo em seguir a bandeira da cruz contra o Crescente.
Deste modo, a cabeça coroada de Filipe, o belo, monarca sempre carente de
recursos, deu em pensar qual a utilidade verdadeira do tesouro dos Templários?
Se não se prestava mais para financiar as expedições dos cristãos em território
muçulmano para que mais serviria? Além disso, aquela constelação de castelos,
fortalezas e conventos nas mãos dos guerreiros de Cristo, formava um império
fora das vistas do soberano: a Ordem dos Templários posava como se fora um
estado dentro do estado.
Cai o bispo, cai a
torre
Despido
de qualquer constrangimento moral, algo que Maquiavel, se então já fosse vivo,
provavelmente aplaudiria, Filipe, o belo, agiu como um hábil jogador de xadrez.
Para conquistar a "torre" do Templo, aplicou a tática da ação indireta: primeiro
derrubou o "bispo" que a sustentava à distância, isto é, o próprio papa. Sempre
recorrendo ao prestativo Guilherme de Nogaret, Filipe IV, aproveitando-se da
confusão que abalava Roma, acusou Bonifácio VIII de herético e simplesmente
arrancou-lhe o báculo, banindo-o da cidade. Em seguida, em junho de 1305, tramou
a indicação de um súdito seu, Bertrand de Goth, o arcebispo de Bordeaux, para
ser entronado como Celestino V.
Ora, se a imunidade dos cavaleiros da cruz vermelha derivava da especial
proteção do Papado, colocando a mitra sobre um pontífice dócil aos seus
desígnios, o monarca francês, depois de ter-lhes invadido e ocupado os
conventos, não demorou em obter o consentimento para a supressão definitiva
deles por meio de um consistório privado ocorrido em Viena na data de 22 de
novembro de 1312.
Medida essa que ficou circunscrita ao Reino da França, visto que o Templo
continuou atuando na Inglaterra, na Espanha e em Portugal. Filipe, o belo,
sempre sinuoso, recorreu ainda a um outro estratagema.
Para não açambarcar descaradamente os bens dos quem flagelara, autorizou que
parte do patrimônio deles fosse transferida para a Ordem de São João, mais é
evidente que lhe coube o montante do leão. Se algum consolo restou aos
templários que sobreviveram à hecatombe, num processo que se arrastou ainda por
13 anos, foi estarem vivos para assistirem como foi precisa a maldição lançada
por De Monay aos seus algozes. Não transcorreu um ano da execução do
grande-mestre para seus inimigos também morrerem: Filipe, o belo, Nogaret e
Celestino V, todos os três entregaram a alma a Deus antes daquele desgraçado ano
de 1314 findar.
Todavia, outros estabelecimentos da Ordem, em Portugal, em Castela e Aragão,
onde se estendia o grande fronte da guerra da Cristandade contra o Islã,
continuaram engajados nos séculos seguintes na faina de lutar contra os mouros.
Franco-maçons e
jesuítas
O
fim dos Templários na França e o mistério que pairava sobre a Ordem têm
provocado desde então muitas fantasias, produzindo uma prodigiosa bibliografia
que nunca mais parou de crescer. Apaixonados pelo ocultismo, admiradores das
seitas secretas, simpatizantes das teorias conspirativas, caçadores de tesouros
perdidos ou simples curiosos, associaram-se ao longo desses séculos todos para
imaginarem ou darem foros de verdade as mais diversas e incríveis histórias
sobre eles. Todavia, dois fatos concretos a Ordem dos Templários terminou por
inspirar, uma de viés secular e a outra religiosa: a Franco-Maçonaria e a
Companhia de Jesus.
As primeiras lojas maçônicas supõe-se que aparecidas entre 1212 e 1272,
herdaram-lhes o gosto pelo protocolo secreto e pela imposição do sigilo aos seus
iniciados, enquanto que Inácio de Loyola, que fundou a ordem dos jesuítas, em
1534, neles se inspirou para dar corpo a um empreendimento religioso que, além
do estudo e da devoção, obedecesse às regras da disciplina militar, agindo como
os soldados de Cristo na luta contra a heresia e o paganismo. Deste modo, os
famosos Exercícios Espirituais fixados por ele seriam uma revivência mais
espiritualizada da Régle du Temple (o manual religioso-militar adotado pelos
monges templários por orientação de Bernardo de Clarival).
Quanto ao destino da monarquia francesa torna-se pertinente observar que se
em 1307 os cavaleiros da Ordem viram-se atacados no Templo de Paris pelos
emissários armados do rei, este mesmo prédio, quase cinco séculos depois, serviu
como prisão do rei Luís XVI e da sua família durante a Revolução Francesa de
1789: o Le Temple.
Dali, retirados das celas da Tour Carrée, depois de condenados, os soberanos
destituídos foi conduzido à execução pela guilhotina no ano de 1793, um em
janeiro e o outro em outubro. Como o número de franco-maçons, que se entendiam
como sucessores dos templários, era expressivo nos meios insurgentes e
revolucionários, pode-se perceber o ocorrido como um histórico acerto de contas,
ainda que por estranhas vias, da desaparecida Ordem dos Templários com a
Monarquia francesa. Robespierre, o incorruptível grande-mestre da revolução,
vingouOs banqueiros de Cristo
Graças ao empenho deles na causa
defesa da Cristandade, ao heroísmo e coragem demonstrada em inúmeras batalhas
travadas contra o Islã, e devido a absoluta correção como se conduziam, os
prédios que aquartelavam os monges - desde que a Ordem fora fundada em
Jerusalém, em 12 de junho de 1119, por Hugo Payens e por seu companheiro
Godofredo de Saint-Omer - tornaram-se locais seguríssimos.
A pureza e a espada, conjugadas, eram as apreciadas garantias dadas pelos
Templários aos donos dos dobrões que acolhiam em depósito. Numa era de
incertezas extremas, de pilhagens e incêndios constantes motivados pelas guerras
feudais intermitentes, qualquer recinto protegido pela cruz da Ordem aparecia
como se fora um oásis. Um cofre-forte inexpugnável protegido pelo Senhor.
Era tal a confiança que despertavam que não tardou para que sus instalações
se transformassem em estabelecimentos bancários, ainda que informais, fazendo
deles, entre os séculos XII e XIII, os principais fornecedores de crédito a quem
os poderosos da época recorriam (consta que na Espanha até os chefes mouros
obtinham empréstimos junto a eles).
Não há nenhum exagero em afirmar-se que a Ordem dos Templários tornou-se, bem antes dos Médicis e dos Fuggers, o primeiro banco europeu. Assim foi que se gerou a lenda da fortuna fabulosa, mais jamais comprovada, do Tesouro dos Templários. Aumentando e solidificando ainda mais a estranheza com que eles eram vistos pela gente comum, um espesso véu de segredo parecia cobrir tudo o que dissesse respeito ao Templo e a sua gente. De fato, as cerimônias de admissão e iniciação dos monges recendiam às práticas esotéricas secretas, fato perfeitamente compreensível numa instituição militar fundada em território inimigo, como foram os primeiros anos dos Templários na época do Reino Latino de Jerusalém. Nada se sabia ou se ouvia do que ocorria no seu intramuros, pois os cavaleiros estavam presos aos perpétuos votos de segredo.
Todavia, a continuação daqueles ritos sigilosos preservados em meio aos
reinos cristãos somente fez crescer a desconfiança geral contra os monges
soldados. O que fez por tornar ainda mais plausível junto à opinião da época as
incríveis assacações que lhes foram feitas pelos esbirros de Filipe IV. Ainda
que na Itália Dante Alighieri tenha suspeitado delas, o engenhoso alquimista
maiorquino Raimundo Lullio, o "Doctor Inspiratus", creditou-as como verdadeiras.
O declínio do ímpeto cruzado
A
derrota dos cristãos frente a Saladino na batalha de Hattin, em 1187 (no final
dela 200 templários foram executados), a perda definitiva de Jerusalém, em 1244,
com a conseqüente expulsão do restante dos ocidentais da Palestina menos de 50
anos depois, abateu o ânimo das empresas cruzadas. Espírito este que já fora
profundamente abalado quando a Quarta Cruzada, ocorrida em 1204, desviando-se
totalmente dos seus objetivos, terminara por assaltar e pilhar Constantinopla, a
capital da cristandade oriental. Algo que começara em 1095 como um forte e
sincero apelo à fé, a retomada dos Lugares Santos das mãos dos infiéis, um tanto
mais de século depois desandara numa empreitada militar de traição e vilania
cometida por cavaleiros ocidentais contra os próprios cristãos.(*)
(*) O assalto dos latinos à grande cidade grego-cristã-ortodoxa selaria
para sempre o Cisma da Cristandade, pois nunca mais as Igrejas de Roma e a Grega
de Constantinopla fizeram as pazes.
A própria reciclagem da função da Ordem, de trincheira avançada dos cruzados
para banco de empréstimos, foi significativa do desencanto crescente da nobreza
e do povo em seguir a bandeira da cruz contra o Crescente.
Deste modo, a cabeça coroada de Filipe, o belo, monarca sempre carente de
recursos, deu em pensar qual a utilidade verdadeira do tesouro dos Templários?
Se não se prestava mais para financiar as expedições dos cristãos em território
muçulmano para que mais serviria? Além disso, aquela constelação de castelos,
fortalezas e conventos nas mãos dos guerreiros de Cristo, formava um império
fora das vistas do soberano: a Ordem dos Templários posava como se fora um
estado dentro do estado.
Cai o bispo, cai a
torre
Despido
de qualquer constrangimento moral, algo que Maquiavel, se então já fosse vivo,
provavelmente aplaudiria, Filipe, o belo, agiu como um hábil jogador de xadrez.
Para conquistar a "torre" do Templo, aplicou a tática da ação indireta: primeiro
derrubou o "bispo" que a sustentava à distância, isto é, o próprio papa. Sempre
recorrendo ao prestativo Guilherme de Nogaret, Filipe IV, aproveitando-se da
confusão que abalava Roma, acusou Bonifácio VIII de herético e simplesmente
arrancou-lhe o báculo, banindo-o da cidade. Em seguida, em junho de 1305, tramou
a indicação de um súdito seu, Bertrand de Goth, o arcebispo de Bordeaux, para
ser entronado como Celestino V.
Ora, se a imunidade dos cavaleiros da cruz vermelha derivava da especial
proteção do Papado, colocando a mitra sobre um pontífice dócil aos seus
desígnios, o monarca francês, depois de ter-lhes invadido e ocupado os
conventos, não demorou em obter o consentimento para a supressão definitiva
deles por meio de um consistório privado ocorrido em Viena na data de 22 de
novembro de 1312.
Medida essa que ficou circunscrita ao Reino da França, visto que o Templo
continuou atuando na Inglaterra, na Espanha e em Portugal. Filipe, o belo,
sempre sinuoso, recorreu ainda a um outro estratagema.
Para não açambarcar descaradamente os bens dos quem flagelara, autorizou que
parte do patrimônio deles fosse transferida para a Ordem de São João, mais é
evidente que lhe coube o montante do leão. Se algum consolo restou aos
templários que sobreviveram à hecatombe, num processo que se arrastou ainda por
13 anos, foi estarem vivos para assistirem como foi precisa a maldição lançada
por De Monay aos seus algozes. Não transcorreu um ano da execução do
grande-mestre para seus inimigos também morrerem: Filipe, o belo, Nogaret e
Celestino V, todos os três entregaram a alma a Deus antes daquele desgraçado ano
de 1314 findar.
Todavia, outros estabelecimentos da Ordem, em Portugal, em Castela e Aragão,
onde se estendia o grande fronte da guerra da Cristandade contra o Islã,
continuaram engajados nos séculos seguintes na faina de lutar contra os mouros.
Franco-maçons e
jesuítas
O
fim dos Templários na França e o mistério que pairava sobre a Ordem têm
provocado desde então muitas fantasias, produzindo uma prodigiosa bibliografia
que nunca mais parou de crescer. Apaixonados pelo ocultismo, admiradores das
seitas secretas, simpatizantes das teorias conspirativas, caçadores de tesouros
perdidos ou simples curiosos, associaram-se ao longo desses séculos todos para
imaginarem ou darem foros de verdade as mais diversas e incríveis histórias
sobre eles. Todavia, dois fatos concretos a Ordem dos Templários terminou por
inspirar, uma de viés secular e a outra religiosa: a Franco-Maçonaria e a
Companhia de Jesus.
As primeiras lojas maçônicas supõe-se que aparecidas entre 1212 e 1272,
herdaram-lhes o gosto pelo protocolo secreto e pela imposição do sigilo aos seus
iniciados, enquanto que Inácio de Loyola, que fundou a ordem dos jesuítas, em
1534, neles se inspirou para dar corpo a um empreendimento religioso que, além
do estudo e da devoção, obedecesse às regras da disciplina militar, agindo como
os soldados de Cristo na luta contra a heresia e o paganismo. Deste modo, os
famosos Exercícios Espirituais fixados por ele seriam uma revivência mais
espiritualizada da Régle du Temple (o manual religioso-militar adotado pelos
monges templários por orientação de Bernardo de Clarival).
Quanto ao destino da monarquia francesa torna-se pertinente observar que se
em 1307 os cavaleiros da Ordem viram-se atacados no Templo de Paris pelos
emissários armados do rei, este mesmo prédio, quase cinco séculos depois, serviu
como prisão do rei Luís XVI e da sua família durante a Revolução Francesa de
1789: o Le Temple.
Dali, retirados das celas da Tour Carrée, depois de condenados, os soberanos
destituídos foi conduzido à execução pela guilhotina no ano de 1793, um em
janeiro e o outro em outubro. Como o número de franco-maçons, que se entendiam
como sucessores dos templários, era expressivo nos meios insurgentes e
revolucionários, pode-se perceber o ocorrido como um histórico acerto de contas,
ainda que por estranhas vias, da desaparecida Ordem dos Templários com a
Monarquia francesa. Robespierre, o incorruptível grande-mestre da revolução,
vingou Jacques De Monay.
Fonte: maconslivres.com.br
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segunda-feira, 2 de novembro de 2015
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