Sentidos Humanos e Espiritualidade
Charles Evaldo Boller
Desligamento dos cinco sentidos naturais e desenvolvimento da
espiritualidade para efeito de mudanças duradouras.
Os sentidos humanos existem para possibilitar os relacionamentos
com outras pessoas e a realidade por eles perceptível.
As sensações de tato, paladar, audição, olfato e visão são
utilizados de forma limitada na orientação das criaturas reclusas ao planeta
Terra.
O homem, devido sua capacidade racional mais desenvolvida, tem
a capacidade de atingir a plenitude do sentir. Para tal, há necessidade de
desligar os cinco sentidos, possível ao retirar-se para um local sem ruído e
luz. É na escuridão e silêncio que os cinco sentidos humanos ficam sem alimento.
Movimentos paralisam. Ficam apenas os pensamentos; é a meditação. Com a
meditação é possível esvaziar a mente. Tal ação intencional e racional faz com
que a percepção se volte para dentro de si. E é lá, neste mundo artificial criado
pela mente que se abrem os olhos. São outros olhos e outro despertar. Ver esta
luz desperta para realidades mais profundas.
Percebe-se a espiritualidade, uma forma de energia que pode
ser percebida e controlada.
O homem evolui, num maior ou menor grau, para os conhecimentos
intelectual e espiritual: O conhecimento intelectual é tudo o que é possível de
ser medido, aferido, possuído ou disponibilizado mediante alguma técnica.
Normalmente são operações de identificação da criação que o sujeito faz do
objeto, da consciência e da linguagem; o conhecimento espiritual, em sentido
lato, é a relação interna da consciência para consigo mesmo. Basicamente o
resultado do conhecimento que o sujeito tem de si mesmo. Em sentido íntimo é o único
conhecimento possível para as próprias verdades metafísicas.
Algo como a visão que o espírito tem de si mesmo. É a
percepção de que existe sempre em um dado objeto inseparável de si mesmo que a consciência
tem de suas próprias vivências. O espírito é a constatação material de uma
forma de energia que está encarnada no sujeito.
Toda vez que a razão bloqueia o funcionamento dos sensores materiais,
esvaziando a mente, a energia denominada alma, espírito, sopro de vida ou alento,
conforme traduzido das mais diversas linhas de pensamento e culturas, penetra
cada vez mais na matéria. Mistura-se. Forma unidade com ela. Com o exercício de
esvaziamento o sujeito adentra a estados cada vez mais aprofundados de
consciência. A manifestação física da substância sólida é outra forma de
energia, só que hipoteticamente congelada devido sua frequência ondulatória manifestar-se
em frequência tal que a torna perceptível aos sensores naturais. Bloquear os
sensores naturais tem a função de afastar o sujeito da ilusão. A substância
sólida é uma ilusão percebida pelos sensores naturais. Em sendo energia, a pessoa
encontra dentro de si um vasto espaço, um universo em miniatura, semelhante ao
grande universo que, de sua parte, também é energia. Tudo é energia e está energeticamente
interligado! Tudo está amarrado por linhas de força.
Tudo é, em essência, formado de espaço vazio. O nada!
"A realidade é constituída de átomos esféricos e de
vazio; não existe nada além de átomos e espaços vazios. O resto não passa de
opinião." (Demócrito de Abdera), filósofo de nacionalidade grega.
A afirmação que tudo é energia já foi intuída e é parte dos
usos e costumes das culturas do sul da Ásia, onde, para indicar respeito e até veneração,
as pessoas cumprimentam-se com as mãos postas em frente à testa, como se
curvassem diante de um deus ou pessoa santa, pronunciando a palavra
"namastê"; significando: "o deus que habita meu coração, saúda o
deus que habita teu coração". Traduzindo para a presente finalidade: a
força ativa que anima meu coração, saúda o alento que habita em teu coração. Estou
em você como você está em mim. Energeticamente somos um.
Em Maçonaria os adeptos são levados a reconstruir o templo
que foi destruído, numa referência lendária a Zorobabel. O templo em verdade
não é o histórico lugar misterioso e respeitável onde os judeus praticavam a
adoração ao seu deus Jeová, mas refere-se a um templo feito de carne e ossos: o
próprio adepto. Interpretar literalmente a lenda histórica de Zorobabel de nada
serve para alçar o homem a estados espirituais mais elevados. A razão do não
entendimento subliminar da lenda reside na forma de organização e exploração
definida pelo sistema humano de coisas, dada à alienação que consta da:
- Consciência, que
passa a considerar-se coisa;
- Pessoa tornar-se
estranha para si mesma;
- Obrigatoriedade do
trabalho;
- Influência das
tecnologias;
- Frivolidade de entregar-se aos prazeres do instinto;
- Fantasia;
- Regra ou lei imposta que, de alguma forma, afasta o sujeito
da vida natural.
Submissos ao sistema criado pelo homem, os templos de carne ficam
ao chão, ao nível do esquadro, na materialidade.
A reconstrução do templo do maçom acontece a cada grau e está
repleta de tensão e desespero. Implica em perigos. O pior inimigo está em si
quando este se sabota e embota a coragem de mudar e de ser diferente. A busca
da sabedoria para reconstruir implica em coragem para enfrentar a mudança. É
precaver-se contra os inimigos internos e externos. Os agentes inimigos sabotam
a capacidade e o incentivo às mudanças como: valor, firmeza e perseverança.
Há necessidade do uso da espada com maestria. O órgão mais parecido
com uma espada de dois gumes é a língua. Uma língua afiada corta em dois
sentidos; é arma que serve tanto para o ataque quanto para a defesa. Defende o
conhecimento intelectual de fazer frente às mudanças e ataca o pensamento
aviltante de terceiros que visam escravizar as pessoas a dogmas; verdades
impostas por decreto e longe da Iluminação. Com a trolha o maçom constrói a
espiritualidade.
Como a espiritualidade é encarnada é internamente que a
ferramenta tem a capacidade de aplainar rugosidades, preencher os vazios da mente
que é o próprio processo da vida. Na medida em que a mente evolui pelo uso da
espada e da trolha, cresce a consciência espiritual.
No passado considerava-se a mente como o aspecto da alma imaterial,
ou espírito, sopro de vida, alento. Hoje, na visão da Teoria dos Sistemas
Vivos, a mente deixou de ser coisa e passou a ser considerado um processo; comparável
ao software que roda num hardware. A mente, o intelecto, corresponde a um
conjunto de funções superiores da alma e da vontade. E o que é importante: é
modificável!
É esta capacidade que o maçom usa para modificar-se a cada
grau que sobe e que introduzem na mente novos conhecimentos. Quando aumenta seu
conhecimento intelectual, aplicado pelo uso da espada cresce também o seu
conhecimento espiritual na aplicação da trolha.
Por isso, todo maçom, para perseverar nas mudanças que
resolveu em sua mente, tem a espada numa das mãos e a trolha noutra.
São muitas as considerações que permitem afirmar e aceitar a existência
da energia interna que muda a forma de ver o mundo e de relacionar-se com ele,
de perceber que o mundo é como um imenso campo energético. Pode-se especular que
o templo de carne é parte de um todo que funciona em sincronia de oscilações
energéticas, algumas visíveis, mas em sua maioria invisíveis aos sentidos
naturais. Daí a necessidade de desenvolver novas capacidades de percepção pela anulação
dos sentidos naturais. Onde o esvaziar da mente promove a percepção daquilo que
tem a capacidade de efetuar mudanças no mais íntimo do ser: a espiritualidade.
O contato com energias desconhecidas e imperceptíveis aos sensores
naturais leva à constituição de nova identidade. Um novo homem a cada mudança,
a cada grau. É um processo que não tem fim.
Depois de treinar a capacidade de reagir favoravelmente ao
que cada grau que a Maçonaria pretende de seus adeptos, estes, treinados e suscetíveis
a caminhar sozinhos, iniciam novas ligações mentais.
Mesmo depois de alcançar o maior grau, o processo de
multiplicação dos degraus da escada que ascende à espiritualidade continua. A
mente está treinada. A escada propicia infinitas associações no caminho da Iluminação,
vista pela primeira vez na cerimônia de iniciação do primeiro grau. Ritual e
símbolo são sempre os mesmos, mas as suas interpretações evoluem de tempos em
tempos dependendo apenas de perseverança no seu exercício.
O objetivo central de todos os graus da Maçonaria é o
exercício de fortalecimento da espiritualidade. Da penetração da energia, do sopro
da vida, cada vez mais fundo no campo energético que a pessoa é. Fortalece a
capacidade de mudança na busca de contato com a essência daquilo que cada homem
é. A espiritualidade pavimenta o caminho à religação com o divino ensinado pela
religião que cada adepto segue. Justifica o fato de o maçom referir-se à
divindade que existe dentro de seus irmãos por algo assemelhado a
"namastê", o conceito Grande Arquiteto do Universo, o inominado, a
energia com a qual cada criatura que pensa deseja religar-se.
Bibliografia
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6. GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, A Filosofia do
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7. HILL, Clive; BURNHAM, Douglas; BUCKINGHAN, Will, O Livro
da Filosofia, tradução: Rosemarie Ziegelmaier, ISBN 978-85-250-4986-5, 1ª edição,
Editora Globo, 352 páginas, São Paulo, 2011
Sentidos Humanos e Espiritualidade
Charles Evaldo Boller
Biblioteca Charles Evaldo Boller
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