O padre maçom francês não foi recebido
pelo Papa
Tradução José Filardo
Padre Vesin
em Roma
O padre
maçom francês que nesse verão fez uma peregrinação a pé até Roma, em uma
tentativa de explicar sua dupla filiação, expressou nessa quinta-feira o seu
desapontamento por não ter sido recebido pelo Papa. “Mesmo que não se deva
sonhar com um encontro com o Papa Francisco, não tenho o direito a uma
resposta?”, questionou, em um e-mail enviado à AFP, o padre Pascal Vesin,
demitido das suas funções como pároco em maio pelo Bispo de Annecy (Alpes
franceses).
“Eu
pensei que a minha vinda e minha mensagem portadora de uma questão que está
além de mim e que se refere a muitos católicos chamaria a sua atenção”,
escreveu ele, considerando que a pena lhe foi imposta é “injustificada”. À
agência I. Media, especializada em Vaticano, o padre Vesin admitiu ter sido
brevemente recebido por um sub-subsecretário da Congregação para a Doutrina da
Fé, que o tratou “como quantidade insignificante”, lembrando a ele a
“incompatibilidade” entre os princípios da fé e a Maçonaria.
Em 21 de
agosto, depois de uma peregrinação de 39 dias desde Megeve, nos Alpes
franceses, até o Vaticano, o padre Vesin chegou a Roma na esperança de que o
Vaticano entendesse suas razões e que Franciso suspendesse a sanção. Sacerdote
há 17 anos, o Pascal Vesin, 43 anos, pastor da paróquia de St. Anne
d’Arly-Montjoie em Megeve é membro ativo do Grande Oriente de França há 13 anos.
Apegado à Igreja e ao seu sacerdócio, ele acredita que a Maçonaria evoluiu, levanta questões interessantes e não é mais hostil à religião
como era um século atrás. Em maio, o padre havia sido afastado de suas funções,
impedido de celebrar e comunicar, devido à sua “participação ativa” em uma
loja. Ele continua a ser um padre, “mas sem o direito de exercer” explicou o
bispo, acrescentando que a pena pode ser dispensada se ele deixar a Maçonaria.
Sua diocese
tinha justificado o castigo romano, explicando que o padre tinha decidido,
apesar dos avisos pela liberdade absoluta de consciência, reivindicando sua
dupla filiação.
LEIA
TAMBÉM ABAIXO: CONTINUANDO NOSSA MARCHA
Revista Texto & Texts Editor-Chefe J.Filardo
Tradução
José Filardo
O caminho na
montanha impõe paradas indispensáveis e reparadoras. Refúgio de descanso e
recuperação pelos quais todo o meu ser anseia, enquanto apenas começa essa
procissão de suor, de dor e de sol ardente.
E como
muitos caminhantes, certamente, nesses momentos privilegiados, eu me surpreendo
em um ritual quase imutável:
Em primeiro
lugar, eu olho para o caminho já percorrido. As muitas voltas pelas quais
passei, os obstáculos superados, as passagens delicadas gerando sua quota de
sofrimento e desânimo … e, às vezes, lá, ao longe, muito longe, tão grande
quanto uma cabeça de alfinete, eu adivinho o estacionamento onde deixei o
carro, o refúgio que eu deixei quando era noite ou, ainda, o campanário dessa
igreja no fundo do vale.
Em seguida,
vem o momento de restauração. Eu me hidrato, eu me alimento, eu recupero as
forças. Com frequência esse é o momento do reencontro, da partilha com os
outros.
E,
finalmente, eu observo o restante da subida. Meus olhos já se dirigem ao cume
que se desenha através da névoa matinal, e que eu estou bem determinado a
atingir.
Desde o meu
regresso de Roma, há três semanas, eu desfruto desse tempo que se oferece a mim
como uma daquelas paradas recuperadoras.
OLHARA O
CAMINHO PERCORRIDO:
UM FINAL DE
NÃO RECEBER
Diante de um
impasse, outros caminhos são sempre possíveis. Oferecer-me para trabalhar para
o diálogo entre a Igreja ea Maçonaria com os teólogos e historiadores, cessando
durante o tempo necessário para este trabalho, qualquer participação em uma
reflexão em loja maçônica e solicitando a remoção da minha punição é um dos
caminhos possível.
Esta
proposta, até agora, não encontrou eco. Nem em Roma (pseudo-reunião com a
Congregação para a Doutrina da Fé / silêncio do papa Francisco), nem na diocese
de Annecy (reunião com o Bispo Boivineau há duas semanas).
Meus pedidos
de justiça e de diálogo permanecem infrutíferos.
Pedido de
justiça, já que a sanção que me é reservada parece-me desproporcional (não
poder celebrar os sacramentos e, sobretudo, não os poder receber!). Sentimento
de injustiça alimentado pelas acusações contra a maçonaria: eles não são mais
relevantes, elas eram dirigidas aos maçons do início do século XX.
Pedido de
diálogo, uma vez que não foi honrado. Eu tomei consciência do caminho com a
Congregação via o diálogo ” tentar levá-lo a reconsiderar suas posições “!
Por dois anos, o acompanhamento, embora fraternal, limita-se a esta dimensão.
No entanto, o diálogo não é discussão para comparar os pontos de vista, visando
encontrar, talvez, um terreno comum? Eu estava nesse caminho, que eu pensava
ser recíproco …. Responder a um convite ao diálogo comporta o risco de ter que
aprofundar a sua própria convicção e toda tensão é admissão de fraqueza
interna. Apegar-se ao conhecido (ou infelizmente ao desconhecido!), como
escreve Rivard é permanecer prisioneiro da ignorância.
Eu conclamo
com todas as minhas forças esse debate teológico.
RECUPERAR AS
FORÇAS: RESTAURAR-SE
Restaurar-se
… ou melhor, deixar-se restaurar por Cristo.
Mesmo sem
acesso à comunhão – porque eu estou excluído – Cristo permanece o meu alimento,
a minha vida.
Privado da
Eucaristia, são outros sinais de sua presença que, hoje, saciam minha sede.
Na noite de
Sua última refeição, é um sinal de que ele oferece a seus amigos: sinal de Sua
presença, Seu amor, do dom de Sua vida. E, no entanto, ele não está fechado na
Eucaristia. Ele se dá a todos de uma maneira conhecida somente por Ele. Os
sacramentos são sinais para os homens: eles lhes revelam um Amor, um Perdão,
uma Vida… já oferecidos, já à obra antes de toda a ação humana.
A Igreja –
na sua tradição católica – apresenta-se como o caminho exclusivo até Cristo.
Ela se fecha em seus dogmas. Talvez eu tenha que aceitar deixar a Igreja que se
revela como uma instituição que condena, que exclui, ainda que, paradoxalmente
ouse louvar Cristo que veio para abolir todas as divisões e exclusões. Talvez,
deva-se lamentar essa face da Igreja e recuperar sua face evangélica quando ela
escuta a vida dos homens, compartilha suas esperanças e suas angústias, revela
esse Deus de amor, já operando na vida de cada homem.
OLHAR PARA O
CUME
Nós não
estamos no fim de nossos esforços …
Nossa marcha
para Roma é apenas uma etapa …
Juntos, nós
plantamos um prego, como em uma parede rochosa que vai garantir a continuidade
de nossa ascensão. Ele continuará a ser uma âncora para cada um de nós que,
onde quer que esteja, poderá continuar essa marcha em Cristo.
De minha
parte, esse será em um ambiente universitário (Faculdade de Teologia).
A luta pela
justiça e diálogo está iniciada; ela permanece a minha, ela permanece a nossa.
Nossa Igreja, nossos irmãos e irmãs nos esperam.
“Se teus
projetos são para um ano, plante arroz; para 20 anos, plante uma árvore; para
mais de um século, desenvolva os homens! ” (Provérbio
chinês)
P. Pascal
Vesin
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