No Campo de Provas
Ferir o corpo
com a desculpa de conquistar a ascensão da alma é operar o suicídio indireto,
pelo qual menosprezamos a Infinita Bondade que no-lo empresta, a fim de que o
sol do progresso nos assinale a existência.
Atendendo as
sugestões dessa ordem, copiaremos, insensatos, a decisão infeliz do lavrador
que destruísse a enxada que o serve, na suposição de auxiliar ao campo, ou o
impulso delituoso do operário que desorganizasse as peças da máquina que o
obedece, a pretexto de ser mais útil.
O engenho
físico é o templo em que somos chamados à escola da regeneração.
Nele possuímos
a harpa da vida, em cujas cordas podemos desferir a melodia do trabalho e do
sacrifício, da abnegação e do amor, preparando o próprio acesso à exaltação da
imortalidade.
O cilício mais
precioso ao nosso grande futuro será sempre o da própria renunciação em
benefício da felicidade dos outros, aprendendo a ceder de nossas opiniões ou de
nosso conforto em auxílio dos corações que nos partilham o calor do teto, os
quais, muitas vezes, em provação mais árdua do que a nossa, nos reclamam
entendimento e bondade ao preço de nossa dor.
Saibamos
sorrir entre lágrimas, fatigar-nos no amparo aos que Deus nos confia, emudecer
nossa excessiva agressividade, abraçar quem nos fere e apagar nossos próprios
sonhos, a fim de que a segurança e a tranquilidade se façam junto de nós
naqueles que nos comungam a experiência e somente assim nossa exaustão corpórea
será compreensível e justa, porquanto, de nosso cansaço terá nascido a ventura
daqueles que atravessam conosco o vale da sombra terrestre, à procura da luz
inextinguível, que reina, soberana, na Espiritualidade Maior.
Quanto mais
clara a nossa luz, mais alta a nossa dívida para com as sombras. Quanto mais
sublime as nossas noções do bem, mais imperiosos os nossos deveres de socorro
às vítimas do mal.
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