Sentidos Humanos e
Espiritualidade
Desligamento dos cinco sentidos naturais e
desenvolvimento da espiritualidade para efeito de mudanças duradouras.
Os sentidos humanos existem para possibilitar
os relacionamentos com outras pessoas e a realidade por eles perceptível. As
sensações de tato, paladar, audição, olfato e visão são utilizadas de forma
limitada na orientação das criaturas reclusas ao planeta Terra.
O homem, devido a sua capacidade racional mais
desenvolvida, tem a capacidade de atingir a plenitude do sentir. Para tal, há
necessidade de desligar os cinco sentidos, possível ao retirar-se para um local
sem ruído e luz. E na escuridão e silêncio que os cinco sentidos humanos ficam
sem alimento. Movimentos paralisam. Ficam apenas os pensamentos; é a meditação.
Com a meditação é possível esvaziar a mente. Tal ação intencional e racional
faz com que a percepção se volte para dentro de si. E é lá, neste mundo
artificial criado pela mente, que se abrem os olhos. São outros olhos e outro
despertar. Ver esta luz desperta para realidades mais profundas. Percebe-se a espiritualidade,
uma forma de energia que pode ser percebida e controlada.
O homem evolui, num maior ou menor grau, para os
conhecimentos intelectual e espiritual: O conhecimento intelectual é tudo o que
é possível de ser medido, aferido, possuído ou disponibilizado mediante alguma
técnica.
Normalmente são operações de identificação da
criação que o sujeito faz do objeto, da consciência e da linguagem; o conhecimento
espiritual, em sentido lato, é a relação interna da consciência para consigo
mesmo. Basicamente o resultado do conhecimento que o sujeito tem de si mesmo.
Em sentido íntimo é o único conhecimento possível para as próprias verdades
metafísicas. Algo como a visão que o espírito tem de si mesmo. É a percepção de
que existe sempre em um dado objeto inseparável de si mesmo que a consciência
tem de suas próprias vivências. O espírito é a constatação material de uma
forma de energia que está encarnada no sujeito.
Toda vez que a razão bloqueia o funcionamento dos
sensores materiais, esvaziando a mente, a energia denominada alma, espírito,
sopro de vida ou alento, conforme traduzido das mais diversas linhas de
pensamento e culturas, penetra cada vez mais na matéria. Mistura-se. Forma
unidade com ela. Com o exercício de esvaziamento o sujeito adentra a estados
cada vez mais aprofundados de consciência. A manifestação física da substância
sólida é outra forma de energia, só que hipoteticamente congelada devido a sua freqüência
ondulatória manifestar-se em freqüência tal que a torna perceptível aos sensores
naturais. Bloquear os sensores naturais tem a função de afastar o sujeito da
ilusão. A substância sólida é uma ilusão percebida pelos sensores naturais. Em
sendo energia, a pessoa encontra dentro de si um vasto espaço, um universo em
miniatura, semelhante ao grande universo que, de sua parte, também é energia.
Tudo é energia e está energeticamente interligado! Tudo está amarrado por
linhas de força. Tudo é, em essência, formado de espaço vazio. O nada!
A realidade é coiistituída de átomos esféricos e de
vazio; não existe nada além de átomos e espaços vazios. O resto não passa de
opinião. (Demócrito de Abdera), filósofo de nacionalidade
grega.
A afirmação que tudo é energia já foi intuída e é
parte dos usos e costumes das culturas do sul da Ásia, onde, para indicar respeito
e até veneração, as pessoas cumprimentam-se com as mãos postas em frente à
testa, como se curvassem diante de um Deus ou pessoa santa, pronunciando a
palavra “namastê”; significando: “o Deus que habita meu coração saúda o Deus
que habita teu coração”. Traduzindo para a presente finalidade: a força ativa
que anima meu coração saúda o alento que habita em teu coração. Estou em você como
você está em mim. Energeticamente somos um.
Em Maçonaria, os adeptos são levados a reconstruir
o Templo que foi destruído, numa referência lendária a Zorobabel. O Templo em
verdade não é o histórico lugar misterioso e respeitável onde os judeus
praticavam a adoração ao seu Deus Jeová, mas refere-se a um Templo feito de
carne e ossos: o próprio adepto. Interpretar literalmente a lenda histórica de Zorobabel
de nada serve para alçar o homem a estados espirituais mais elevados. A razão
do não entendimento subliminar da lenda reside na forma de organização e
exploração definida pelo sistema humano de coisas, dada à alienação que consta
da:
• Consciência, que passa a considerar-se coisa;
• Pessoa tornar-se estranha para si mesma;
• Obrigatoriedade do trabalho;
• Influência das tecnologias;
• Frivolidade de entregar-se aos prazeres do
instinto;
• Fantasia;
• Regra ou lei imposta que, de alguma forma, afasta
o sujeito da vida natural.
Submissos ao sistema criado pelo homem, os Templos
de carne ficam ao chão, ao Nível do Esquadro, na materialidade.
A reconstrução do Templo do Maçom acontece a cada Grau
e está repleta de tensão e desespero. Implica em perigos. O pior inimigo está
em si quando este se sabota e embota a coragem de mudar e de ser diferente. A
busca da sabedoria para reconstruir implica em coragem para enfrentar a
mudança. É precaver-se contra os inimigos internos e externos. Os agentes
inimigos sabotam a capacidade e o incentivo às mudanças como: valor, firmeza e
perseverança.
Há necessidade do uso da Espada com maestria. O
órgão mais parecido com uma Espada de dois gumes é a língua. Uma língua afiada
corta em dois sentidos; é arma que serve tanto para o ataque quanto para a
defesa. Defende o conhecimento intelectual de fazer frente às mudanças e ataca
o pensamento aviltante de terceiros que visam escravizar as pessoas a dogmas;
verdades impostas por decreto e longe da Iluminação. Com a Trollia o Maçom
constrói a espiritualidade. Como a espiritualidade é encarnada, é internamente
que a ferramenta tem a capacidade de aplainar rugosidades, preencher os vazios
da mente que é o próprio processo da vida. Na medida em que a mente evolui pelo
uso da Espada e da Trolha, cresce a consciência espiritual.
No passado considerava-se a mente como o aspecto da
alma imaterial, ou espírito, sopro de vida, alento. Hoje, na visão da Teoria
dos Sistemas Vivos, a mente deixou de ser coisa e passou a ser considerada um
processo; comparável ao software que roda num hardware. A mente, o intelecto,
corresponde a um conjunto de funções superiores da alma e da vontade. E o que é
importante: é modificável! É esta capacidade que o Maçorn usa para modificar-se
a cada Grau que sobe e que introduz na mente novos conhecimentos. Quando aumenta
seu conhecimento intelectual, aplicado pelo uso da Espada, cresce também o seu
conhecimento espiritual na aplicação da Trolha. Por isso, todo Maçorn, para
perseverar nas mudanças que resolveu em sua mente, tem a Espada numa das mãos e
a Trolha noutra.
São muitas as considerações que permitem afirmar e
aceitar a existência da energia interna que muda a forma de ver o mundo e de
relacionar-se com ele, de perceber que o mundo é como um imenso campo
energético. Pode-se
especular que o Templo de carne é parte de um todo
que funciona em sincronia de oscilações energéticas, algumas visíveis, mas em
sua maioria invisíveis aos sentidos naturais. Daí a necessidade de desenvolver
novas capacidades de percepção pela anulação dos sentidos naturais. Onde o
esvaziar da mente promove a percepção daquilo que tem a capacidade de efetuar
mudanças no mais íntimo do ser: a espiritualidade.
O contato com energias desconhecidas e
imperceptíveis aos sensores naturais leva à constituição de nova identidade# Um
novo homem a cada mudança, a cada Grau. É um processo que não tem fim. Depois
de treinar a capacidade de reagir favoravelmente ao que cada Grau que a
Maçonaria pretende de seus adeptos, estes, treinados e suscetíveis a caminhar
sozinhos, iniciam novas ligações mentais. Mesmo depois de alcançar o maior
Grau, o processo de multiplicação dos degraus da Escada que ascende à
espiritualidade continua. A mente está treinada. A Escada propicia infinitas
associações no caminho da Iluminação, vista pela primeira vez na Cerimônia de
Iniciação do primeiro Grau. Ritual e Símbolo são sempre os mesmos, mas as suas
interpretações evoluem de tempos em tempos dependendo apenas de perseverança no
seu exercício.
O objetivo central de todos os Graus da Maçonaria é
o exercício de fortalecimento da espiritualidade. Da penetração da energia, do
sopro da vida, cada vez mais fundo no campo energético que a pessoa é.
Fortalece a capacidade de mudança na busca de contato com a essência daquilo
que cada homem é. A espiritualidade pavimenta "o caminho à religação com o
divino ensinado pela religião que cada adepto segue. Justifica o fato de o
Maçorn referir-se à divindade que existe dentro de seus Irmãos por algo
assemelhado a “namastê”, o conceito Grande Arquiteto do Universo, o inominado,
a energia com a qual cada criatura que pensa deseja religar-se.
Irm.-. Charles Evaldo Boller
Or.'. Curitiba – PR
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