REFLEXÕES SOBRE A MORTE
“Como a
morte é o verdadeiro objetivo da existência, travei durante estes poucos últimos
anos, relações tão íntimas com esta melhor e mais fiel das amigas da
humanidade, que sua imagem não me parece terrível, mas sim, suave e
consoladora." (Wolfgang Amadeus Mozart (1756 –
1791 - Carta ao seu pai Leopold, no seu leito de morte em 1787.
Diz-se que
um ser é racional, quando a sua inteligência é desenvolvida a tal ponto, que
permite conceber a idéia de existência, com um início e fim, isto é, raciocinar
que existe morte. Todos os seres vivos convivem naturalmente com o seu ciclo
vital: Nascimento, Reprodução e Morte, mas apenas os seres humanos, pelo enorme
número de neurônios que possuem (aproximadamente 10 bilhões), apresentam a
capacidade cognitiva de finitude, que um dia vai morrer. E com isso convive com
o medo da morte.
O medo
sempre foi o grande companheiro do instinto de sobrevivência. Inibidor da
audácia, nos salvando de muitas ciladas, nos mantendo nos limites seguros.
Todos nós temos medo, variando desde leve stress ao terror paralisante. A única
arma eficaz contra o medo chama-se coragem. Para grandes medos, grandes
coragens.
Como disse
o professor J.M. Queiroz de Abreu, no seu discurso aos formandos de medicina em
agosto de 2005, Campinas – S.P. :
“A morte e o medo são duas faces de
uma moeda. A morte é a culminação do medo, sua máxima representação, é a
progressão geométrica do medo quando ela encontra o infinito... A epítome do
medo é a morte. Enfrentar o medo é enfrentar a face escura de nossa
personalidade, a face oculta do destino".
Devemos
aceitar nossos temores para conhecê-los melhor, para não perdermos as rédeas,
sem deixar que eles nos controlem. O tempero entre medo e coragem deve ser
equilibrado. Muita coragem com pouco medo será um ousado inconsequente de vida
curta, um kamicase, um homem bomba. Pouca coragem e muito medo teremos um
indivíduo enclausurado, covarde, que até poderá ter vida longa, mas sem
deleite. Um medo moderado, ao nível da prudência, é saudável, é esperto. Um
medo muito intenso ao nível do pânico e da covardia é burrice.
Todos nós
vivemos com nossos medos. Só os perdemos quando morremos. A pessoa que tem um
câncer passa pela angústia de saber se vai ou não sobreviver. Os doentes
pulmonares conhecem bem o que é falta de ar e convivem com o temor de uma morte
asfixiante. Os cardíacos temem uma morte súbita e quem sabe, dolorosa. Tememos
os acidentes de trânsito, os assaltos e toda ordem de violência.
Apesar de
fazer parte de um processo natural, a morte é odiada. Excluída de nossos bons
sentimentos, estamos sempre tentando enganá-la, desviando-nos dela, nos
disfarçando para que ela não nos reconheça, pois o nosso medo não nos permite
encará-la.
O melhor
método para vencer nossos medos é tomar alguma dose de coragem. Quanto maior o
medo, maior deverá ser a dosagem. Como não existe um “medômetro”, não temos como
quantificá-lo. É algo individual, privativo de cada pessoa. Devemos aceitar e
enfrentar os nossos temores e principalmente, não acreditar neles, pois quanto
mais nos deixamos envolver, mais reais eles se tornam, a ponto de nos
escravizar.
Com o medo
controlado, a morte não mais vai nos parecer tão asquerosa. Será vista tal como
ela é: A bela e afetuosa amiga da vida, permitindo que o ciclo vital continue
com o nascimento de novos seres, abrindo caminho para a evolução das espécies.
Sem a morte não haveria renovação. A vida se tornaria enfadonha, desprovida de
graça, de sentido, extremamente tediosa.
Pelo fato
de ser limitada, mais nos sentimos atraídos pela vida, a viver cada minuto e
transformar cada momento em momentos felizes. Cada dia, pelo simples fato que
pode ser o último, deve ser saboreado com prazer. Cultivar a boa saúde, os bons
relacionamentos, curtir os amigos, a felicidade de ver os filhos e netos
crescendo, física, intelectual, moral e espiritualmente, aceitar com
naturalidade a inexorável vinda da senilidade. E feliz de quem envelhece.
Sempre digo aos meus idosos e queixosos pacientes que reclamam da velhice: “É
ruim ficar velho, mas pior é não ficar”.
Cabe a nós
a responsabilidade de cumprir o melhor possível nossa missão. Deixar bons
exemplos. Impregnar os jovens com nossa conduta. Dentro das limitações de cada
um, registrar a nossa passagem pelo nosso período vital, para que as gerações
futuras tenham em quem se espelhar.
Ao chegar
nosso momento, vamos nos retirar discretamente de cena desse maravilhoso “Drama
da Vida”, deixando que nova safra de atores e atrizes assuma nossos papéis,
desempenhando tão bem ou quem sabe, melhor que nós, nesse belíssimo Teatro que
é a natureza.
Conscientes
de que nos esforçamos para bem cumprir nossa tarefa, vamos abraçar
carinhosamente nossa delicada, suave e querida amiga morte e com ela seguir,
confiantes, caminhos desconhecidos.
Encerro
minhas reflexões com o ensaio de William Shakespeare (1564 -1616) em
Tragedies: “De todas as coisas que conheço, aquela que mais estranha me
parece é que o homem sendo um ser mortal tenha medo da morte. O covarde morre
mil vezes, enquanto que o homem corajoso só sente o sabor da morte uma única
vez”.
Ademar
Valsechi.
MI da Loja “Templários da Nova Era” nr. 21 e Grande Mestre de
Harmonia da GLSC. O presente artigo foi destaque em 2007 no Concurso “Pitágoras
de Peças de Arquitetura” na categoria de Mestre-Maçom.
Fonte:
JBNews - Informativo nº 0089
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