O MESTRE MAÇOM PERANTE SI PRÓPRIO
Rui Bandeira
Todo o maçom, desde o primeiro dia que adquiriu essa condição
sabe que o seu maior inimigo é aquele que vê quando, de frente, olha para o
espelho. Mas também sabe que a melhor maneira de acabar com o inimigo não é
prendê-lo (pode sempre libertar-se...), ou matá-lo (pode dele fazer um mártir
ou herói para outros, e assim afinal multiplicar os seus inimigos...). A melhor
maneira de acabar com o seu inimigo é fazer dele seu aliado, seu amigo. A
amizade tem mais força que a força...
Todo o maçom sabe, desde o dia em que adquiriu essa condição,
que dentro de si convive o que potencialmente o destrói, o desvaloriza, o
apouca - os seus vícios, os seus defeitos - e o que o engrandece - as suas
virtudes e capacidades. Por isso aprende que é crucial cavar masmorras aos seus
vícios e cultivar suas virtudes. Só assim aquele que vê quando, de frente, olha
para o espelho deixará de ser o inimigo que arrasta para as sombras da
depravação para passar a ser efetivamente o aliado amigo que acompanha no
caminho para a Luz.
O Mestre Maçom, quando se coloca - o que deve fazer com
frequência... - perante si próprio, deve sempre recordar-se que o esforço para
ser melhor pode não necessitar de ser muito grande, mas inevitavelmente tem que
ser contínuo. Tal como aquele que anda de bicicleta precisa de manter o
movimento para não cair, assim aquele que cessa o esforço para melhorar verá
degradar-se o que atingiu.
Assim, a palavra que, no meu entendimento, se deve utilizar para
ilustrar o que se impõe ao Mestre Maçom perante si próprio é
"persistência".
Persistência no contínuo esforço de melhoria. Persistência em
aprender e ensinar e em aprender ensinando. Persistência no Estar como meio
para o Ser. Persistência em fazer, dia após dia, mês após mês, ano após ano,
mais do mesmo, como forma de descobrir, afinal, que o mesmo continuamente se
reinventa e, quando damos por ela, já é outro e melhor.
Persistência no trabalho mais importante que existe, o trabalho
em si próprio, o trabalho que lhe permite reconhecer-se e ser reconhecido como
aquilo de que se apelida, Maçom.
Persistência no lapidar da única obra que, apesar de todas as
obras que construa ou que crie, afinal realiza durante o tempo que passa neste
plano da existência, a sua verdadeira obra-prima, a sua vida e quem a vive.
Persistência na busca da forma de melhorar o que parece bem mas
pode sempre ser um pouco melhor - para descobrir que, após a melhoria, o que é
melhor, pode ainda ser melhorado mais um pouco, desde que... persista no
trabalho.
Persistência na lapidação da sua Pedra Bruta até conseguir
dar-lhe a desejada forma de Pedra Cúbica. Persistência para polir essa Pedra
Cúbica, face a face, para bolear bem as arestas, uma a uma, para que essa Pedra
Cúbica seja capaz de ser encaixada onde deve, seja sólida para bem assegurar o
seu papel, se enquadre harmoniosamente entre as demais, aumentando com o seu
brilho o brilho das vizinhas.
Persistência para nunca se sentir satisfeito, para ter a noção
de que é sempre possível fazer e ser um pouco melhor e para efetivamente agir
para assim fazer e ser - e descobrir que continuar a lapidar uma Pedra Cúbica
não a faz mais pequena, paradoxalmente engrandece-a.
Persistência em ser realmente e completamente aquilo que se
reclama ser: Mestre Maçom!
Rui Bandeira
Fonte: a-partir-pedra.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário