A MAÇONARIA E A INDEPENDÊNCIA DO
BRASIL (*)
PREÂMBULO
A
História da nossa Independência está intimamente ligada com a Fundação do
Grande Oriente do Brasil, Obediência Mater da Maçonaria Brasileira.
Apesar
do farto material documental existente, pouco se publica sobre o papel
importante, decisivo e histórico que a Maçonaria, como Instituição, teve nos
fatos que precipitaram a proclamação da Independência.
Deixar
de divulgá-los é ocultar a verdade e conseqüentemente ocorrer no erro da
omissão, que nem a História e nem o tempo perdoam, principalmente para com
aqueles nossos Irmãos, brava gente brasileira, que acreditavam, ou ainda mais,
tinham como ideário de vida a Independência da Pátria tão amada.
O
Objetivo principal, sem dúvida nenhuma, da criação do Grande Oriente, foi
engajar a Maçonaria na luta pela Independência Política do Brasil.
Desde
sua descoberta em 1500, o Brasil foi uma Colônia Portuguesa, sendo explorada
desde então pela sua Metrópole. Não tinha, portanto, liberdade econômica, liberdade
administrativa, e muito menos liberdade política.
Como
a exploração metropolitana era excessiva e os colonos não tinham o direito de
protestar, cresceu o descontentamento dos brasileiros.
Inicia-se
então as rebeliões conhecidas pelo nome de Movimentos Nativistas, quando ainda
não se cogitava na separação entre Portugal e Brasil. Estampava-se em nosso País o ideal da
liberdade. A primeira delas foi a Revolta de Beckman em 1684, no Maranhão.
No
início do século XVIII, com o desenvolvimento econômico e intelectual da
colônia, alguns grupos pensaram na Independência Política do Brasil, de forma
que os brasileiros pudessem decidir sobre seu próprio destino. Ocorreu, então,
a Inconfidência Mineira (1789) que marcou a história pela têmpera de seus seguidores;
depois a Conjuração Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817), todas elas
duramente reprimidas pelas autoridades portuguesas. Em todos estes movimentos a
Maçonaria se fez presente através das Lojas Maçônicas e Sociedades Secretas já
existentes, de caráter maçônico tais como: "Cavaleiros das Luz" na
Bahia e "Areópago de Itambé" na divisa da Paraíba e Pernambuco, bem
como pelas ações individuais ou de grupos de Maçons.
I – ANTECEDENTES – As Cortes de Lisboa
A
16 de dezembro de 1815, precisamente no dia do aniversário de Dª Maria I, que
estava louca, foi o Brasil elevado a Reino, através da régia carta de D. João
VI, assinada no Palácio do Rio de Janeiro, e cujos dois principais artigos
estabeleceram:
1)
“ Que os meus Reinos de “Portugal”, “Algarves” e do “Brasil” formem d´ora em
diante um só e único Reino, debaixo do
Título de REINO UNIDO DE PORTUGAL, DO BRASIL E DE ALVARAVES”;
2)
“Que os títulos inerentes à Coroa de Portugal, e de que até agora hei feito
uso, se substituam em todos os Diplomas, Cartas de Lei, Alvarás, Provisões e
Atos Públicos pelo novo Título de – PRÍNCIPE REGENTE DO REINO UNIDO DE
PORTUGAL, DO BRASIL E DE ALVARAVES”, d´Aquem e d´Além Mar, em “África de Guiné”
e da “Etiópia”, “Pérsia” e “Índia”.
Com
efeito, o Brasil prosperava a olhos vistos. Sua grande riqueza natural
determinava o célere progresso, uma ascensão vertiginosa entre as demais
nações, contrastando com o notório estacionamento, senão declínio de Portugal.
Por
isso, depois da volta de D. João a Lisboa, ampliou-se a política de reação a
tudo quanto se tinha fundado no Brasil. A permanência de D. Pedro no Rio de
Janeiro decepcionou a Assembléia das Cortes, que esperava o retorno de toda a
família real e o conseqüente abandono da terra brasileira ao Governo das Juntas
Provinciais, cuja formação era ruidosamente promovida em Lisboa.
Pressentiam
os portugueses que o engrandecimento do Brasil ocasionaria sua inevitável
emancipação política, o que seria de
resultados desastrosos para a Metrópole, que tinha nesta opulenta
colônia seu maior sustentáculo econômico. Com essa clara visão do futuro,
resolveram as Cortes empenhar-se em inglória batalha, no sentido de fazer o
Brasil regredir, para enfraquecer-lhe o nacionalismo crescente.
As
Cortes eram constituídas de 181 deputados, dos quais 72 apenas do Brasil e
destes somente 46 estavam empossados. A disparidade era mais espantosa ao
ter-se em conta que a população do Brasil já era maior que a de Portugal.
Descriteriosamente,
porém, na sede do Reino, o total de habitantes do Brasil era considerado com
base num censo realizado em 1800, antes da vinda da família real.
Afinal,
em 29 de setembro de 1821, aprovaram-se os Decretos nºs 124 e 125.
O
primeiro extinguia os governos provinciais independentes, restabelecendo as
juntas provisórias de governo com “toda a autoridade e jurisdição na parte
civil, econômica, administrativa e de polícia”, ficando subordinados às juntas
“todos os magistrados e autoridades civis”. O segundo, como ponto nevrálgico,
determinava o imediato regresso a Portugal do Príncipe D. Pedro.
O
historiador português ROCHA MARTINS, em “A independência do Brasil”, sintetiza
o fato: “Era uma situação singular de regresso ao período colonial, uma medida
irritante, despótica, só própria para ferir as suscetibilidades brasileiras”.
Certamente,
afigura-se o golpe na unidade do Brasil, com seu esfacelamento em várias
províncias. A reação brasileira foi imediata, a partir de seus deputados em
Lisboa, os quais, tendo à frente o Maçom Cipriano José Barata, lançaram-se em
acirrados debates com os representantes portugueses, que procuravam esmagar
pela quantidade os brasileiros. Simultaneamente, aqui, a Maçonaria inflamava o
movimento emancipador, fazendo agigantar-se a consciência nacional e despertar
o anseio já incontido de ver surgir um Brasil livre.
Nos
redutos maçônicos, particularmente na Loja “Comércio e Artes”, que se
reinstalara em 24 de junho daquele ano (1821), intensificou-se o trabalho pela
organização, no reino ultramarino, de um governo livre e independente, sob a
regência do Príncipe D. Pedro, que por influência dos maçons se rebelara contra
os Decretos 124 e 125.
II – O CLUBE DA RESISTÊNCIA – “O FICO”
Naqueles
três meses seguintes, tal era o burburinho da nacionalidade que o
Intendente-Geral da Polícia, João Inácio da Cunha, comunicou-se com o Ministro
do Reino, por ofício de conteúdo sigiloso, informando-lhe da impossibilidade de
agir com as tropas de que dispunha, pois estavam os seus integrantes, na
maioria, filiados à Maçonaria. E terminava o ofício com o seguinte enunciado:
“... o movimento da Independência é por demasia generalizado pela obra maldita
dos maçons astuciosos, sob a chefia de GONÇALVES LEDO”.
Do
Grupo de Gonçalves Ledo, entre outros, faziam parte, destacadamente, o Cônego
Januário da Cunha Barbosa, José Clemente Pereira, Frei Francisco de Santa
Teresa Sampaio, José Domingos Ataíde, o coronel Francisco Maria Gordilho de
Barbuda e o Capitão-mor José Joaquim da Rocha.
Núcleo
da idéia de emancipação, a Loja “Comércio e Artes”, sob a liderança de
Gonçalves Ledo, trabalhava infatigavelmente. Desponta, no entanto, um ardoroso
patriota e maçom, o Capitão-mor José Joaquim da Rocha, e planeja o
empreendimento de que resultou “O FICO”, definitivo ato de rebeldia de D. Pedro
contra as Cortes de Lisboa, que insistiam em seu retorno a Portugal.
Os
malsinados decretos das Cortes chegam ao Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro
pelo bergantim de guerra “Infante D. Sebastião”. Precisamente nesse dia, José
Joaquim da Rocha funda em sua casa o “CLUBE DA RESISTÊNCIA”, tendo como
companheiros Frei Francisco de Santa Teresa Sampaio, consagrado orador da
época, Antônio Menezes de Vasconcelos Drumonnd, Joaquim José de Almeida, Luiz
Pereira da Nóbrega e Francisco Maria Gordilho de Barbuda. O Clube visava, precipuamente,
projetar com segurança a adesão de D. Pedro ao movimento nacionalista.Para
evitar a vigilância da Polícia, reuniam-se na residência de José Joaquim da
Rocha, na Rua da Ajuda, e muitas vezes na cela de Frei Sampaio, no Convento de
Santo Antônio, onde se realizavam verdadeiras sessões maçônicas.
José
Joaquim da Rocha considerou necessária a adoção de três providências para o
êxito da empresa:
1)
Consulta Dr. Pedro sobre o movimento e sentir sua receptividade;
2)Convite
para a adesão de José Clemente Pereira, então Presidente do Senado da Câmara;
3)
Envio de emissários a São Paulo e Minas.
Gordilho
de Barbuda, que era camareiro de D. Pedro, foi incumbido de auscultar a opinião
do Príncipe. Recebendo a proposta com hesitação, o que era justo, em fase da
grave atitude de rebeldia que ia adotar, não tardou muito a resposta de D.
Pedro, que assim se expressou: “No caso de virem as representações, pedindo-me
para não partir, ficarei”.
Exultante,
Barbuda apressou-se em ir à casa de José Joaquim da Rocha para transmitir-lhe a
resposta de D. Pedro. Encontravam-se lá os maçons Vasconcelos de Drumonnd, José
Joaquim de Almeida, Luiz Pereira da Nóbrega e José Mariano de Azevedo Coutinho.
Ante as manifestações de júbilo de todos, José Mariano foi incumbido de
solicitar o apoio de José Clemente Pereira.
Rocha
Martins, no livro citado, comenta que os patriotas do Clube da Resistência
reputavam difícil a missão de José Mariano Coutinho, pois José Clemente
Pereira, que era português, avia sido nomeado Presidente do Senado da Câmara
por influência do General Jorge Avilez, comandante da Divisão Auxiliadora,
força portuguesa de apoio às Cortes e que deveria retornar a Portugal com D.
Pedro.
Mas
o maçom José Clemente Pereira prestou sua inteira solidariedade ao movimento,
sugerindo até que fixasse a data de 9 de janeiro para a entrega das
representações de D.Pedro lhe afirmara que não hesitaria em ficar, se o pedido
se fizesse através das representações do Rio, São Paulo e Minas.
Como
era de se esperar, São Paulo e Minas aderiram. José Bonifácio era
Vice-Presidente da Junta de São Paulo e redigiu a enérgica representação
daquela Província, na qual advertia D. Pedro: “Nada menos se pretende do que
desunir-nos, enfraquecer-nos e até deixar-nos em mísera orfandade, arrancando
do seio da grande família brasileira, o único pai que nos restava, depois de
terem esbulhado o Brasil, do benéfico fundador deste reino. Se V.A.R. estiver
(o que não é crível) pelo deslumbrado e indecoroso Decreto de 29 de setembro,
além de perder para o mundo a dignidade de homem e de príncipe, tornando-se
escravo, de certo, de um pequeno número de desorganizadores, terá também de
responder, perante o céu, do rio de sangue que vai correr pelo Brasil com sua
ausência...”.
Essa
manifestação paulista, redigida por José Bonifácio, cegou ao Príncipe no dia 8
de janeiro.
Entrementes,
o “Clube da Resistência” e a Loja “Comércio e Artes”, unem-se a pugnar na
elaboração do “Fico”. Acertou-se que a palavra oficial da representação
fluminense seria dirigida por José Clemente Pereira, na qualidade de Presidente
do Senado da Câmara e membro da Loja “Comércio e Artes”.
Ao
meio-dia de 9 de janeiro, o Príncipe D. Pedro recebeu os representantes. Em seu
longo discurso, José Clemente Pereira afirmou-lhe: “Senhor, a saída de Vossa
Alteza Real dos Estados do Brasil será o fatal decreto que sanciona a
independência deste Reino. Exige, portanto, a salvação da Pátria que Vossa
Alteza suspenda a sua partida, até nova determinação do soberano Congresso”.
Em
resposta, proferiu D. Pedro: “Convencido de que a presença de minha pessoa no
Brasil, interessa ao bem de toda a Nação portuguesa e conhecendo que a vontade
de algumas províncias assim o requer, demorarei a minha saída até que as Cortes
e meu Augusto pai e Senhor deliberem a esse respeito, com perfeito conhecimento
das circunstância que têm ocorrido”.
Mas
suas palavras não foram bem recebida. Pelos militares portugueses, porque
refletiam elas o adiamento de sua partida para Lisboa e, pelos brasileiros,
porque nelas não sentiram sua decisão de ficar.
Solicitada
sua presença pelo povo, que prorrompeu em aplausos, D. Pedro assomou a uma das
janelas do Paço e disse-lhes: “Agora só tenho a recomendar-vos união e
tranqüilidade”.
Depois
que todos se retiraram, verificou D. Pedro que nem aos brasileiros nem aos
portugueses satisfizera. Por interferência de alguns membros do “Clube da
Resistência”, que com ele mantinham estreita ligação, mandou chamar horas
depois o Presidente do Senado da Câmara e determinou-lhe que substituísse a
resposta que dera por esta: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da
Nação, estou pronto: diga ao Povo que fico”.
No
dia 11, o General Jorge Avilez, Comandante da Divisão Auxiliadora, convocou
oficiais de vários corpos de tropa e, entre eles, ficou assentada a volta de D.
Pedro para Portugal, como ordenaram as Cortes. Combinaram, também, que para
levantar toda a tropa seria necessário espalhar a notícia de que aquele General
havia sido destituído do comando pelo Príncipe. Assim o fizeram. À noite,
soldados portugueses percorreram as ruas, dirigindo insultos aos brasileiros e
provocando distúrbios. Boatos começaram a circular, alarmando a cidade.
D.
Pedro naquele momento estava no Teatro São João, quando chegou a seu
conhecimento a agitação das ruas. Imediatamente, chamou o Brigadeiro Carreti e
ordenou-lhe que mantivesse a ordem. Carreti deixou o teatro,voltando momentos
após, para comunicar a D. Pedro que os soldados já estavam recolhidos. Os
patriotas do “Clube da Resistência” colocaram D. Pedro a par de todas as
ocorrências, pois mantinham vários agentes espalhados pela cidade. A peça do
teatro terminara, quando veio informação de que a tropa de Avilez se movimentava para cerca-lo. D. Pedro,
acompanhado dos membros do Clube e de oficiais brasileiros, seguiu para São
Cristóvão. Ao chegar na Quinta de Boa Vista, providenciou a ida da família para
Santa Crua.
Em
conseqüência de enfermidade adquirida na longa viagem a Santa Cruz, veio a
falecer o filho de D. Pedro, o príncipe João Carlos, de 3 anos.
Decepcionado
com o malogro do plano para deter D. Pedro no Teatro, mas nutrindo, ainda, a
idéia de forçá-lo a cumprir as ordens das Cortes, Avilez determinou que a tropa
portuguesa tomasse posição no Morro do Castelo, de onde passaria a dominar toda
a cidade. No dia 12 pela manhã, enquanto a tropa de Avilez se encontrava em
atitude ameaçadora, chegaram ao Campo de Santana as forças de 1ª linha, que
ficaram fiéis ao Príncipe, regimentos de milicianos e batalhões patrióticos
organizados pelo “Clube da Resistência”. Por toda a parte os movimentos da
reação se multiplicavam. Arranjaram-se de improviso as armas possíveis do
momento: espingardas velhas, trancas, cacetetes e até cacos de garrafa. Todos
queriam combater.
Às
oito horas da manhã, D. Pedro chegou ao Campo de Santana, sendo aplaudido.
Chamou o Capitão-tenente José de Lemos Viana e ordenou-lhe que dissesse a
Avilez que embarcasse com sua tropa para Lisboa. O General respondeu-lhe que
não lhe atenderia, porque suas ordens contrariavam o que as Cortes haviam
decidido. À tarde, D. Pedro mandou o General Xavier Curado entender-se com
Avilez. O acordo foi estabelecido. Avilez passaria imediatamente com sua tropa
para a Praia Grande, sujeitando-se às ordens do Príncipe e recebendo o soldo
devido, juntamente com a tropa, até sua viagem para Portugal.
No
dia 5 de fevereiro, Avilez foi intimado a deixar o Brasil. Determinou D. Pedro
que, se não o fizesse, perderia o direito ao soldo e à comida. Avilez não
embarcou. No dia 9, Dr. Pedro para bordo da Fragata “União” e mandou dizer-lhe
que, se na manhã do dia 10 não começasse a embarcar sua tropa, iria atacá-lo.
Na manhã do dia 10, Avilez iniciou o embarque e, no dia 15, zarpou do Rio de
Janeiro.
Depois
do vitorioso episódio do FICO, o “Clube da Resistência”, sob a direção de José
Joaquim da Rocha, foi transformado em “Clube da Independência” e, mais tarde,
na Loja “9 de janeiro”.
III – REPERCUSSÃO NAS LOJAS MAÇÔNICAS – A ASEMBLÉIA
CONSTITUINTE
Prosseguiu
desenvolvendo-se, intensamente, o movimento da emancipação política, sempre com
a iniciativa dos maçons. Mário Melo, em seu livro “A Maçonaria no Brasil”,
anota que ninguém era iniciado nas Lojas Maçônicas sem que fosse conhecida sua
opinião sobre a Independência do Brasil e os candidatos assinavam um termo de compromisso
de defendê-la.
No
dizer do historiador Assis Cintra, “a independência era fatal, era um fruto
maduro pendente da árvore, prestes a ser colhido. Em todos os recantos
fervilhava o ardor patriótico. Nas Lojas Maçônicas, generais, doutores, juizes,
almirantes, funcionários públicos, capitalistas, fazendeiros, artífices e até
padres dos mais ilustres desse tempo, conspiravam” (v. “Na Margem da
História”).
Em
abril de 1822. estava D.Pedro tão enfeitiçado pelo Brasil que escreve a Antônio
Carlos, deputado paulista às Cortes de Lisboa, havendo na carta o seguinte
trecho: “Eu o conheço como o mais digno deputado americano; conheça-me a mim
como o maior brasileiro, e que pelo Brasil dará a última gota de sangue”.
Domingos
Alves Branco Muniz Barreto, em sessão da loja “Comércio e Artes”, propôs que se
desse ao Príncipe um título conferido pelo povo, de “Protetor e Defensor
Perpétuo do Brasil”. A idéia foi aprovada por todos e marcaram a data de 13 de
maio, dia do Aniversário de D. João VI. D. Pedro disse que aceitava o Título,
mas sem o “Protetor”, apenas como “Defensor”.
Avançava,
desse modo, a evolução política para o 7 de setembro de 1822, tudo temperado e
argamassado nas disposições cada vez mais fortes das Lojas Maçônicas.
Gonçalves
Ledo, Januário Barbosa e Clemente Pereira lançam a idéia da convocação de uma
Constituinte e solicitam uma audiência a D. Pedro, por intermédio de seu
ministro José Bonifácio. Inteirado do objetivo da audiência, D. Pedro escreve a
D. João VI expressiva carta, mostrando-se francamente favorável à idéia dos
maçons. Diz D. Pedro ao Rei: “É necessário que o Brasil tenha Cortes suas: esta
opinião generaliza-se cada dia mais. O povo desta capital prepara uma
representação que me será entregue para suplicar-me que as convoque, e eu não
posso a isso recusar-me, porque o povo tem razão, é muito constitucional,
honra-me sobremaneira e também a Vossa Majestade, e merece toda sorte de
atenções e felicidade. Sem Cortes, o Brasil não pode ser feliz. As leis feitas
tão longe de nós por homens que não são brasileiros e que não conhecem as
necessidades do Brasil, não poderão ser boas. O Brasil é um adolescente que
diariamente adquire forças, deve ter em si tudo quanto é necessário (...), é
absurdo retê-lo debaixo da dependência do velho hemisfério”.
Gonçalves
Ledo e Januário Barbosa redigiram o projeto e, no dia 3 de junho, publicou-se o
Decreto firmado pelo Príncipe Regente e José Bonifácio, “convocando a
Assembléia Geral Constituinte e Legislativa, composta de deputados das
Províncias do Brasil, novamente eleitos na forma das instruções que em Conselho
de acordarem e expedidas com a maior brevidade”.
IV - O
IMPERADOR MAÇOM – “INDEPENDÊNCIA O MORTE”
Era
preciso, ainda, fazer maçom o Príncipe D. Pedro. José Bonifácio já lhe falara
da Maçonaria, da ação de Gonçalves Ledo e outros líderes maçônicos.
Não
seria ele o primeiro Príncipe a conhecer os preceitos da Ordem. Reis e
Imperadores, na Europa, haviam sido maçons. Assim, a 13 de julho de 1822, foi
aprovada sua proposta de admissão, endossada por José Bonifácio. A 2 de agosto,
D. Pedro era iniciado na Loja “Comércio e Artes”, “ardendo em curiosidade, a
fantasia despertada pelo mistério de um rito perfumado de magia oriental” –
como escreve Pedro Calmon, em “A Vida de D. Pedro I”.
Recebeu
o nome histórico de “Guatimozim”. Mas, por que “Guatimozim” e o que significava
isso? Trata-se do último imperador Asteca morto em 1522, conforme conta-nos,
parabolicamente, o historiador Rocha Martins, em sua obra “A Independência do
Brasil”:
“Era
uma vez, nos tempos recuados de 1697, um imperador azteca, de Anahuac,
México... Vieram de longe, de 1522, os conquistadores e ele, de armas em punho
diante do Cortez audaz que lhe queria tesouros. Ele, o filho do Rei Ahintzot,
sucessor do Irmão de Montezuma II, deixara reclinar o seu corpo em brasas,
preferira ser chagado sobre as grelhas rubras, que os soldados conduziam como
se fossem inquisidores; ser martirizado, sofrer as mordeduras do lume nas suas
reais carnes antes que dizer aos bárbaros onde ocultava as opulências, as
riquezas e as magnificências do seu império”. “E D. Pedro, regente, devia
meditar muito no simbolismo, na realeza, nos carvões candentes”.
Da
iniciação ao Grão-Mestrado, o certo é que o ingresso de D. Pedro na Maçonaria
resultou de sua mais íntima ligação com a causa de independência.
Foram
os maçons que o proclamaram Imperador e, em conseqüência, a própria libertação
política do Brasil, em sessão de 20 de agosto do Grande Oriente do Brasil,
quando D. Pedro se encontrava em viagem para São Paulo.
Na
verdade, como afirmam em uníssono os historiadores, maçônicos e profanos, no 20
de agosto de 1822, Gonçalves Ledo propôs e se aprovou por unanimidade “que
fosse inabalavelmente firmada a proclamação de nossa independência e da realeza
constitucional na pessoa do augusto príncipe”.
Aliás,
o próprio Ledo, em vibrante artigo no “Revérbero”, já o concitara antes:
“Príncipe! Não desprezes a Glória de ser o fundador de um novo império”.
Em
nota à margem do livro “História da Independência do Brasil”, de Adolfo
Varnagem, escreve o Barão do Rio Branco. “No dia 23, em outra sessão, ainda
presidida por Gonçalves Ledo, continuou-se a discussão. Por proposta sua, foram
nomeados os emissários, que deviam ir tratar a aclamação nas diferentes
províncias, entre eles, Januário Barbosa, designado para ir a Minas. João
Mendes Viana, para Pernambuco, e José Gordilho de Barbuda, para a Bahia. Vários
maçons ofereceram as somas necessárias para as despesas de viagem”.
Assim,
na tarde de 7 de setembro de 1822, às margens do Ipiranga, D. Pedro limitou-se
com seu gesto a promulgar o que já fora resolvido a 20 de agosto no Grande
Oriente do Brasil.
Perguntam-se,
entretanto, os escritores da história: Que papéis foram aqueles recebidos por
D. Pedro, de que foram portadores Paulo Bregaro e Antônio Cordeiro? Nenhum
documento esclarece quais os papéis que, “... pouco mais ou menos às 4 e meia
da tarde”, D. Pedro recebera das mãos do Major Cordeiro e do Correio Bregaro.
Por que tantos documentos secretos foram divulgados e só aqueles que impeliam
D. Pedro a proferir o brado histórico não se publicaram. Que segredos, que
assuntos tão misteriosos continham eles? Se a própria correspondência
confidencial entre D. Pedro e D. João tornou-se do conhecimento público, o que
impediria que outras pessoas se inteirassem dos papéis entregues a D. Pedro e
que, depois, os divulgassem?
Gustavo
Barroso, com sagacidade, alvitra que deve ter sido entregue a D. Pedro alguma
prancha do Grande Oriente do Brasil, aconselhando-o a assumir aquela atitude.
D. Pedro, indócil e voluntarioso, atendeu às recomendações da Maçonaria.
Nem
quanto ao grito teria ávido originalidade. Segundo Adelino de Figueiredo Lima,
em “Nos Bastidores do Mistério”, “INDEPENDÊNCIA OU MORTE” era a denominação de uma das
“palestras” da sociedade secreta “Nobre Ordem dos Cavaleiros de Santa Cruz”,
conhecida por “Apostolado”. Sabe-se, hoje, que essa sociedade foi fundada por
José Bonifácio. D. Pedro era, com o título de Archonte-Rei, o presidente, sendo
José Bonifácio, já então Grão-Mestre da Maçonaria, seu lugar-tenente. O
“Apostolado”, a que também pertenciam outros maçons ilustres, possuía rituais
próprios, liturgia bastante severa e sinais e palavras de reconhecimento,
exprimindo motivos patrióticos, o que evidenciava os fins políticos da sociedade.
A
organização se assentava sobre três colunas fundamentais (“Palestras”), que por
sua vez orientavam e dirigiam as pequenas assembléias locais (“Decúrias”). As
“Palestras” constituíam três poderes distintos, correspondendo a primeira
(“Independência ou Morte”), à “Alta Venda” do sistema carbonário; a segunda
(“Firmeza e Lealdade”), à Cabana”, e a terceira (“Pátria Redimida”), ao que a
antiga nomenclatura revolucionária européia chamava “Barraca”.José Bonifácio,
que viajou por todos os países onde a “Carbonária” lançara seus tentáculos,
deixara-se empolgar pelo sistema de organização da poderosa sociedade, mas
procurou simplifica-la de acordo com a viabilidade nacionais.
Indiscutível,
afinal, é que a independência política de nossa terra foi, certamente,
assinalada com o FICO,
em 9 de janeiro, declarada pela Maçonaria em 20 de agosto e consagrada em 7 de
setembro, com o brado do Maçom D. Pedro.
Disse-o
bem Gustavo Barroso, em sua obra “História Secreta do Brasil”: “A Independência
do Brasil foi realizada à sombra da Acácia, cujas raízes prepararam o terreno
para isso”.
Uma
dezena de tomos e ainda menos o tempo desta sessão seriam insuficientes para
registrar todos os fatos que vieram a culminar com a emancipação política do
Brasil, em 1822. Desse marco da
História, contenta-nos a possibilidade de rememorar, hoje, a breves toques de
buril, emocionantes feitos de uma plêiade de homens admiráveis, maçons como
nós, mas intérpretes sagrados dos ideais da liberdade, magníficos patriotas,
como já, infelizmente, não se vêm mais.
(*) Palestra proferida pelo Ir\ JOSÉ
ROBSON GOUVEIA FREIRE, M\I\ e
Servidor da Ordem, da Pátria e da Humanidade, 33\, na
A\R\L\S\
Pioneiros de Brasília nº 2288, em 05/09/2006.
BIBLIOGRAFIA
A
Independência do Brasil
Rocha Martins
A
Maçonaria no Brasil
Mário Melo
A
Maçonaria e as Forças Secretas da Revolução
Morivalde Calvet Fagundes
A
Maçonaria e a Independência Brasileira
Tito L. Ferreira e Manoel Rodrigues Ferreira
A
Maçonaria na Independência do Brasil
Teixeira Pinto
História
do Grande Oriente do Brasil
José Castellani
História
da Independência do Brasil
Adolfo Varnagem
História
Secreta do Brasil
Gustavo Barroso
Na
Margem da História
Assis Cintra
Os
Maçons na Independência do Brasil
José Castellani
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