ÉTICA NA MAÇONARIA
Klebber S Nascimento
04.05.2010
O tema
escolhido para esse trabalho justifica-se pela dimensão que toma só em
mencioná-lo nas lojas maçônicas ou mesmo em conversas privadas entre irmãos,
pois o valor que a Maçonaria conquistou na sociedade se deve principalmente
pelo comportamento de seus membros e pelos valores que defende, porem
atualmente esse conceito está ameaçado.
Quando, no
mundo moderno, vemos valores éticos serem simplesmente ignorados em favor de
poder político ou financeiro, de vingança, de conquistas materiais, de sucesso
profissional e até mesmo para servir a meras vaidades pessoais, passamos a
questionar por que a nossa Sublime Ordem não debate com mais veemência ou, no
mínimo, por que não abre espaço para discussão do tema.
É certo que
a ética e os valores se modificam com a evolução do mundo e dos homens, e
atitudes que já foram consideradas atos de coragem ou de fé na Antiguidade,
verdadeiros exemplos a serem seguidos, são hoje vistas como terríveis
atrocidades fora da lei.
Portanto,
não é fácil enveredar pelo caminho do entendimento do comportamento humano, especialmente
dos maçons, perante o foco da Ética. Antes de serem maçons, são seres humanos,
vivem em conformidade a hábitos, costumes, culturas, experiências pessoais,
regionais, temporais e, antes mesmo de serem seres humanos, pertencem à criação
cósmica, fazem parte como figurantes da grande obra do Grande Arquiteto.
Diante disso
e das questões altamente contraditórias que se apresentam o tempo todo às
nossas consciências, questiona-se até que ponto é compatível discutir-se
aspectos éticos em uma sociedade essencialmente egocêntrica, materialista,
competitiva e generalizada, com necessidades de uma abordagem realista.
Corre-se o risco de se realizar discussões estéreis.
A Ética deve
ser encarada como um fator pessoal, individual, mas não podemos esquecer, por
outro lado, que o indivíduo é fruto da sociedade onde vive. Portanto, a Ética é
o modelo social de comportamento individual.
Sob esse
prisma, entendemos que o comportamento individual aceito pela sociedade é
somente aquele que responde às informações subjetivas da própria sociedade. É
variável no espaço e no tempo, hoje com uma visão ética tanto mais uniforme em
razão da globalização em que vivemos, porém não menos complexa.
O irmão José
Barbosa leite, Loja Estrela de Santos, filiada ao Grande Oriente Paulista, em
artigo intitulado Ética Maçônica em 1977 no boletim Aprendiz, apresenta de
forma totalmente aberta e sem medo de retaliações uma questão delicada que
sentia em sua loja naquele momento, mas que podemos extrapolar para todas as
demais lojas da atualidade em maior ou menor grau, independentemente de
Potência ou de número de membros, qual seja, a hipocrisia entre o que se fala e
o que se faz em termos de comportamento numa oficina maçônica.
Há bem pouco
tempo, os maiores inimigos da Maçonaria eram agentes externos. Governos
ditatoriais e o clero de tempos em tempos desferiam ataques contra nossa
Instituição e não queremos dizer que tudo isso passou, persistem ataques da ignorância
e do preconceito, mas agora somaram-se ao clero extremistas de todas as
crenças, ou mesmo sem crença nenhuma, que trazem discursos inflamados de ódio
contra o “Demônio”, com quem frequentemente nos relacionam. A multidão que os
segue encontra, em seus templos e livrarias, uma infinidade de livros e artigos
que destilam mortal veneno contra a Maçonaria. Livros esses que podem ser
encontrados até mesmo nas livrarias comuns das grandes cidades.
Mas os
atuais e mais mortais inimigos são os próprios maçons. Os maçons mal
selecionados, os não convictos e os despreparados, que trazem perigo constante
à nossa instituição. A falta de estudo e instrução maçônica produz maçons que
desconhecem a Ordem, verdadeiros profanos de avental. O desconhecimento da filosofia
produz a ausência de autodisciplina, dificulta ou impede a reforma interior do
Pesquisador da Verdade. Com isso, prevalecem a vaidade, o orgulho, a
arrogância, a indulgência, a presunsão, a preguiça. Alguns maçons dão-se ao
luxo de discordar das Leis e dos Regimentos Internos, sem falar no desprezo aos
Rituais.
Mas, afinal,
o que é ética?
Ética é a
parte da filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da
conduta humana. Conjunto de princípios morais que se deve observar no exercício
de uma profissão.
Logo,
questões do tipo: O que é certo? Qual o meu dever? O que devo fazer?. Pertencem
exclusivamente ao aspecto causal da busca do padrão ético e devem levar às
respostas: Se as ações são boas, com certeza terão bons efeitos.
O axioma
“Nem tudo que é legal é moralmente justo” demonstra com clareza que a Lei
obriga o cidadão a fazer ou deixar de fazer coisas que podem comprometê-lo
moralmente.
Quando,
portanto, diante de qualquer ação pudemos fazer mentalmente a pergunta: “Estou
moralmente inclinado a executar esta ação?, e a resposta for: “Esta ação
produzirá a maior quantidade possível de bem no Universo”, teremos aí, com
clareza, a exposição de um padrão ético a ser seguido.
Assim,
quando a Ética presume afirmar que certos modos de ação são “deveres”, ela
presume afirmar que agir desses modos produzirá sempre a maior soma possível de
bem.
E temos
certeza de que o exemplo de uma conduta produz efeitos não perceptíveis a toda
a sociedade. Logo, se o exemplo é ético, produz um efeito ético que será
depositado em cada elemento da sociedade. O contrário produz simplesmente
degeneração de valores.
Um maçom,
quando produz uma ação ética, reverbera por toda a Maçonaria e coloca mais uma
pedra polida e perfeita no edifício moral da sociedade.
Mas, e quando
o maçom produz ações tipicamente amorais, imorais ou não éticas, o resultado é
pior, porque a reverberação negativa extrapola a Maçonaria, provocando
degeneração, tanto da Ordem quanto da sociedade em geral.
Se,
entretanto, tal conduta provoca repulsa na Ordem e além da repulsa provoca
também a ação necessária, o efeito passa a ser muito mais poderoso, produzindo
a confirmação do padrão ético. Significa que a Ordem reage para se manter limpa
e pura. Quando, no entanto, esta não reage, o resultado é o mesmo em qualquer
grupamento humano, a degeneração e o descrédito.
Fica claro,
portanto, que não podemos e não devemos conviver com ações não ética de irmãos,
na ilusão de que cada um é responsável por seus atos e que, portanto, podemos
continuar éticos em meio a irmãos não éticos.
O que há,
nesse caso, é a típica ilusão da pureza em ambiente contaminado. Ora, sabe-se
que o exemplo produz efeitos, logo, eu até poderia me manter puro com muito
esforço em tal ambiente, mas o exemplo que ficaria para a sociedade é que todos
são impuros e indignos.
Não há,
portanto, escapatória, já que para se manter um organismo limpo é necessária a
limpeza de sua parte contaminada, de forma clara e que não pairem dúvidas da
ação.
Um padrão
ético exige uma aderência de comportamento e é universal. Um padrão moral
também exige aderência à conduta, mas sua natureza é particular e sectária. Os
dados, portanto, estão devidamente colocados. Podemos continuar como estamos:
indignando-nos no nosso meio, mas omissos em ações. A resposta será dura,
moralista e intolerante. E nosso exemplo perpassará por toda a sociedade e
produzirá frutos.
Em loja
maçônica deve prevalecer a unidade, a obediência e a disciplina. Caso
continuemos, não aleguemos ignorância, fraqueza, incapacidade ou outra pequenez
qualquer para desertar da missão a que somos chamados. Qualquer que seja o
cargo ocupado, ele é imprescindível na execução dos trabalhos. Tenha sempre em
mente que não existem cargos menores. Se tiver de ser Cobridor Externo, que
seja o melhor Cobridor Externo que exista. Se tiver de ser Secretário, Diácono,
Orador, faça o melhor que puder, não se esqueça de que você faz parte de um
conjunto maior, existe um mundo extrafísico neste complexo em que você está.
Caso assim não entenda, par e pense: para quê você está fazendo parte dessa
pretensa farsa? Não esqueça que você foi escolhido para ser maçom porque é um
líder, uma pessoa especial na vida profana, você se destacou dos seus pares e
se aqui chegou é porque tem um valor, faça então valer esse tesouro que você
traz em seu coração.
A cada
reunião, reafirmamos que aqui estamos para cavar masmorras ao vício e levantar
templos á virtude, e é isso, verdadeiramente que chamamos de transformar a
pedra bruta em pedra polida, nesta luta não há lugar para os fracos. Qualquer
que seja nossa luta interna, enfrentemos e seremos verdadeiramente construtores
de um novo mundo.
Em nossas
oficinas existem necessidades materiais, necessidades burocráticas a ser
realizadas, mas não podemos deixar que um processo de materialização se
desenvolva dentro dos Templos Maçônicos. Temos que realizar esse trabalho sem
esquecer que os símbolos trazem em si o conteúdo de uma Alta Escola de
Filosofia, com um caráter transcendental, e, par isso, não podemos nos esquecer
da Ética, da Fraternidade, do Amor.
A crise
atual é mundial, e a crise é de homens, na verdadeira acepção do vocábulo, e o
maçom é um homem especial. A Maçonaria precisa voltar a mostrar aos maçons que
o mundo é um hospital, onde os profanos são os enfermos; e os iniciados, os
médicos e enfermeiros.
Acreditamos
que padrões éticos devem ser restabelecidos rapidamente entre os maçons para
que sua influência possa frutificar. Deve-se começar a falar de ética. Deve-se
voltar a estudar e recuperar o verdadeiro sentido das coisas. Deve-se, enfim,
divulgar pelos meios disponíveis, mas, sobretudo, cobrar de nossos irmãos em
cargos de poder uma conduta ética que se transforme em exemplo para todos,
profanos e iniciados, e trabalharmos sempre com Amor e Tolerância, e visando ao
bem da Fraternidade.
Ir.´. Paulo
Garrido Macedo de Araújo
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